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Cidades

Regras e dúvidas afastam doadores de sangue, mesmo com estoque baixo

Amanda Bogo | 04/06/2017 09:14
Paciente durante doação de sangue (Foto: Amanda Bogo)
Paciente durante doação de sangue (Foto: Amanda Bogo)

Em maio, veio um chamado do Hemosul que chega a ser quase corriqueiro: pedido de doações devido ao estoque baixo de sangue, principalmente nas tipagens O- e O+. Ocorre que, mesmo com a situação crítica e o interesse de contribuir pela primeira vez, dúvidas e regras restritas acabam afastando possíveis doadores.

De acordo com Juliana Aita, chefe do fluxo do sangue no Hemosul, cerca de 120 pessoas passam diariamente pelo local para fazer doações. Em épocas de pouca procura, o volume cai para 60 doadores.

Das 180 bolsas estratégicas da tipagem O+ e O- que são necessárias, havia apenas 110 no momento da entrevista. “A situação é semicrítica, está fora do esperado. Trabalhamos mais para atingir o mínimo”, avaliou Juliana.

Apesar da necessidade de doadores, a longa lista de critérios a serem cumpridos acaba impedindo que diversas pessoas possam doar. Mesmo que isso desanime quem tenta, as medidas são tomadas para garantir o bem-estar tanto de quem doa quanto de quem receberá o sangue, garante Aita.

Enquanto no restante do país pessoas com 50 kg estão qualificadas, o Hemosul da Capital garante o direito de receber apenas doadores com 55 kg ou mais. "Eu sou impedida desde sempre porque não atinjo o peso, e meu sangue é um dos que mais falta (O-). Em Piracicaba e outras cidades do interior de São Paulo é permitido doar a partir de 50 quilos, nesse caso eu poderia", conta a jornalista Raquel de Souza, 22 anos.

Doadores durante coleta no Hemosul (Foto: Amanda Bogo)
Doadores durante coleta no Hemosul (Foto: Amanda Bogo)

A explicação para a negativa na Capital, conforme Aita, está nos materiais utilizados para a coleta. “O kit permite coletar 450 ml por bolsa, que possui um número exato de anticoagulantes. Nós coletamos 8 milímetros por quilo de cada pessoa, somando 10% do volume corporal. Se coletarmos esse valor em uma pessoa com 50 quilos o número vai ser maior do que o ideal. Também haverá muito anticoagulante para pouco sangue”.

A frustração é compartilhada por Nicolle Por Deus Ignácio. A universitária conta que a barreira que a impede de doar sangue é a pressão baixa.

"Todas as vezes falam que minha pressão sanguínea não é suficiente e, na penúltima, a médica me disse 'se você tentar mais uma vez e não der certo, nem precisa tentar mais'. Acabou que não deu certo e desisti", lamenta.

Aita afirma que este impedimento ocorre para que não haja risco aos doadores. “Nós exigimos pressão mínima de 11 por 7, tanto para o primeiro doador ou para doador de repetição. Quando retiramos o sangue diminui o volume corporal, podendo cair de 10 por 6 ou 10 por 8, fazendo com que o doador passe mal”.

Uma das principais dúvidas continua sendo em relação a doadores homossexuais. Uma leitora, que preferiu não se identificar, contou que não conseguiu fazer a doação e relatou ter sido destratada por uma atendente após informar que se relacionava com outra mulher. 

"Eu debati muito e só saí de lá depois de muito tempo, pois naquele momento não senti que era uma restrição de saúde, e sim por pura homofobia".

Aita garante que não há restrição para esse grupo que seja diferente para doadores heterossexuais. “Ninguém vai dizer que uma pessoa é inapta sem explicar e conversar”.

Para ambas orientações sexuais há uma regra: são inaptos por 12 meses doadores que tiveram relação sexual com um ou mais parceiros no último ano. Isso ocorre devido a janela imunológica, mesma situação que impede, por exemplo, que pessoas que fizeram tatuagem ou colocaram piercing no mesmo período façam doações.

“Nós chamamos de janela imunológica o período de seis meses em que alguma doença pode se manifestar no sangue, mas estudos recentes mostraram que isso pode acontecer em um tempo maior, de um ano. Preferimos garantir a segurança transfusional e segurar o doador aqui do que correr o risco de passar o sangue com doença. A triagem clínica acontece para evitar esse tipo de situação”, finalizou.

Restrições - São aptos para doar sangue doadores com idade entre 16 e 69 anos que tenham peso mínimo de 55 kg. Primeiros doadores só serão aceitos até os 60 anos. É necessário estar bem alimentado no ato da doação, mas evitar alimentos com excesso de gordura, além de ter dormido ao menos seis horas nas últimas 24 horas.

A portaria nº 158, de 04 de fevereiro de 2016, traz 89 páginas detalhando todo o procedimento de doação de sangue. Na tabela abaixo é possível consultar alguns dos itens que constam no documento. A portaria completa pode ser acessada neste link.

Regras e dúvidas afastam doadores de sangue, mesmo com estoque baixo
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