Senadora culpa soja e cana por problemas de índios em MS
A senadora Marina Silva (PV-AC) culpou o avanço do plantio de soja e da cana-de-açúcar, juntamente com o crescimento da pecuária, pelos problemas com os índios Guarani-Kayowá em Dourados.
O tema foi debatido na reunião da CDH (Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa) do Senado na tarde de ontem. A senadora Marina Silva (PV-AC) foi autora do requerimento para a reunião e voltou a cobrar do governo federal solução para os problemas dos indígenas.
Estavam presentes na reunião representantes do governo federal, especialistas, autoridades do Estado e lideranças indígenas.
A senadora também informou que os conflitos fazem com que muitos Guarani-Kaiowás abandonem suas terras, o que causa desagregação cultural, dificuldades de emprego e sobrevivência. De acordo com o site da Agência Senado, Marina também relacionou o problema de alcoolismo, suicídios e desnutrição com a questão das terras.
O procurador federal de Dourados, Marco Antonio de Almeida, afirmou que o problema é de difícil solução, já que as terras tiveram valorização com a expansão das fronteiras da cana-de-açúcar, para produção de etanol, e da soja. A maioria dos empreendimentos, conforme salientou, recebeu recursos do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).
O procurador ressalta que os empreendimentos são legais. No entanto, ele defendeu que recursos do banco sejam priorizados para os índios.
Já o antropólogo Rubens de Almeida sugeriu a realização de um profundo estudo técnico antropológico para identificar as origens das terras reivindicadas pelos indígenas e sua extensão, entre outros aspectos.
José Antonio Roldão, presidente da Agraer (Agência de Desenvolvimento Agrário e Extensão Rural), garantiu que o governo do estado está empenhado em resolver a situação dos índios, "respeitando a cultura e resgatando a dignidade de cada comunidade".
Roldão disse que o governo vem colocando em prática programas de atendimento a várias comunidades indígenas, com distribuição de alimentos, fortalecimento da produção agrícola e construção de casas e de escolas.
O relatório do Comitê para Eliminação da Discriminação Racial da Organização das Nações Unidas (ONU), elaborado pela ONG Survival International, informa que há registro de casos de assassinato, suicídio, desnutrição e alcoolismo entre os Guarani-kaiowá.
Oferta - Ainda não há produtor rural em Dourados que esteja disposto a vender suas terras para o governo federal. No final de fevereiro o presidente Luis Inácio Lula da Silva pediu ao deputado federal Dagoberto Nogueira (PDT) que providenciasse terras para que a União comprasse e cedesse aos índios, para acabar com disputas agrárias.
Um mês depois, nenhum produtor de Dourados quer vender as terras. O vice-presidente da Acrissul (Associação de Criadores de Mato Grosso do Sul), Jonathan Barbosa, disse que ainda não enviou o relatório com as terras à presidência da República por causa desse fato. "O presidente ressaltou que o problema de Dourados, onde a situação é pior, é prioridade. E ninguém se ofereceu, ainda", contou.
Um fazendeiro que tem terras ao lado da aldeia disse que pode vender dois mil hectares, mas ainda não confirmou. Barbosa disse que o produtor está na Bolívia e volta no fim do mês para tomar uma decisão.