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Cidades

Violência e mortes no ano em que a 'segurança máxima' foi testada

Adriano Fernandes | 31/12/2016 09:49
Rebelião na penitenciária de Naviraí durou 16 hora, deixou 2 mortos, 9 gravemente feridos e um rastro de destruição (Foto: Direto das Ruas)
Rebelião na penitenciária de Naviraí durou 16 hora, deixou 2 mortos, 9 gravemente feridos e um rastro de destruição (Foto: Direto das Ruas)

Rebelião, motins e até envenenamento de agentes penitenciários. Contrariando o status de espaços de detenção com “segurança máxima”, durante o ano, alguns dos principais presídios de Mato Grosso do Sul foram palcos da violenta reação dos presos diante da guerra de facções e até da conduta policial dentro das unidades.

Em abril, detentos do Presídio de Segurança Máxima de Campo Grande deram inicio ao “efeito dominó” de uma série de ações coordenadas que começaram com incêndios criminosos a ônibus da Capital e culminou no envenenamento de cinco servidores da unidade prisional.

De dentro do presídio, os criminosos ordenaram atentados depois de não terem gostado da operação “pente-fino” feita, na tarde de uma quarta-feira, dia 13, daquele mês, por agentes penitenciários recém-formados no curso de intervenção rápida em presídios.

Ainda durante a operação os agentes também contiveram, com gás de pimenta e bombas de efeito moral, um princípio de motim, quando presos de duas celas do Pavilhão 2, entre eles membros do PCC (Primeiro Comando da Capital) não aceitaram passar pelas revistas e iniciaram a confusão.

Em resposta, na mesma noite, dois ônibus foram tomados pelas chamas em bairros da cidade. Na Rua Expedicionário Alcindo Jardim Chagas, no Jardim Aero Rancho um coletivo do transporte público ficou completamente destruído e na Rua Hafan Felício, no Jardim Campo Nobre, o veículo que pertencia a uma igreja e que estava estacionado na rua, foi o alvo.

Os incêndios ocorreram em resposta a operação "pente-fino" no presídio. (Foto: Direto das Ruas)
Os incêndios ocorreram em resposta a operação "pente-fino" no presídio. (Foto: Direto das Ruas)
Estrutura completamente consumida pelo fogo durante os atentados. (Foto: Marcos Ermínio)
Estrutura completamente consumida pelo fogo durante os atentados. (Foto: Marcos Ermínio)

No mesmo bairro um outro coletivo também foi apedrejado. Seis dias depois dos dois primeiros incêndios, na madrugada do dia 19, um outro ônibus da associação de militares de Campo Grande foi incendiado, no pátio de um posto de combustíveis na Avenida Guaicurus, no Bairro Universitário.

Neste intervalo de tempo, também houve tumulto em penitenciárias de algumas cidades do interior. As investigações da Polícia Civil constataram que era o detento da Penitenciária de Segurança Máxima de Campo Grande, Bruno de Melo Garcia, de apenas 19 anos, quem tinha ordenado os ataques.

Do lado de fora quem colocou em prática o “serviço” foi Márcio Sanches Fretes, de 20 anos.
Ao todo, 12 pessoas estavam envolvidas nos atentados, sendo que apenas um foi foragido e dentre eles haviam quatro adolescentes que foram apreendidos.

No entanto, apenas uma semana depois de esclarecidos os ataques, os atentados se voltaram para dentro do próprio presídio. Seis agentes do Estabelecimento Penal de Segurança Máxima tiveram de ser transferidos para hospitais da Capital, depois de terem sido intoxicados durante o café da manhã que era feito por dois detentos.

A bebida estava envenenada com o raticida Carvofurano, popularmente conhecido com “chumbinho”. A garrafa de café foi levada à passarela que dá aceso ao pavilhão, onde também ocorreu a intervenção “pente-fino” que antecedeu a revolta.

Os servidores tomaram o café e em seguida tiveram vômito, diarreia, pressão alta, tontura e até desmaio. Apesar do susto, eles sobreviveram, mas a Agepen (Agência Estadual de Administração do Sistema Penitenciário) se viu obrigada a mudar o sistema de refeições dos agentes. Elas passaram a ser preparados por uma cozinheira e em cozinha separada do local onde são feitas as refeições aos detentos.

A cabeça decapitada do presidiário Fernando Florentino da Silva, de 36 anos, chutada por outro detento no meio da quadra de esportes da penitenciária. (Foto: Divulgação/Arquivo)
A cabeça decapitada do presidiário Fernando Florentino da Silva, de 36 anos, chutada por outro detento no meio da quadra de esportes da penitenciária. (Foto: Divulgação/Arquivo)

Rebelião – A cabeça decapitada do presidiário Fernando Florentino da Silva, de 36 anos, chutada por outro detento no meio da quadra de esportes da penitenciária de segurança máxima de Naviraí, reflete a violência da rebelião de mais de 16 horas que estourou na tarde de 4 de agosto de 2016, no município que fica a 366 km de Campo Grande.

O motivo da rebelião seria a insatisfação dos detentos com a presença de presos que haviam sido transferidos recentemente para o presídio.Os detentos incendiaram colchões e usavam armas artesanais, durante o quebra-quebra.

Durante a madrugada de rebelião, dois ônibus também ficaram completamente destruídos pelo fogo e um outro, foi parcialmente queimado em ataques também do lado de fora da cidade. Além de Fernando, outro detento, Luiz Fabiano Bezerra, 36, o “Zorba”, ficou ferido durante o início do motim, chegou a ser socorrido, mas morreu antes de chegar ao hospital.

Pelo menos mais nove, foram encaminhados em estado grave para as unidades de saúde. O presídio foi parcialmente destruído e depois de 16 horas de rebelião, todos os 570 presos – da unidade que tem capacidade para apenas 278 - foram retirados dos pavilhões pela tropa de choque da PM e levados para a parte externa.

Nus, eles foram vigiados por policiais armados e cães treinados, durante a revista e normalização do funcionamento da unidade. Foram identificados cerca de 50 líderes que seriam transferidos para presídios de outras cidades sul-mato-grossenses.

Detentos membros do PCC comemorando o aniversário de 23 anos da organização. (Foto: WhatsApp)
Detentos membros do PCC comemorando o aniversário de 23 anos da organização. (Foto: WhatsApp)

PCC – 2016 foi o ano em que a facção que praticamente domina o comando de presidiários pelo pais, inclusive em MS, completou 23 anos de criação em 31 de agosto. Para comemorar, detentos ligados a organização fizeram festa no Estabelecimento Penal de Segurança Máxima de Campo Grande com direito a selfies, áudios e funk no bom estilo “Baile de Favela”.

Eles divulgaram fotos e áudios da comemoração em grupos de WhatsApp. A situação que de tão absurda chega ser cômica, também expõe a vulnerabilidade de um sistema prisional que ainda se vê a mercê de criminosos que continuam atuando, mesmo atrás das grades de “segurança máxima”.

Guerra entre facções – O descumprimento a uma ordem de execução de um detento, que haveria partido do próprio PCC (Primeiro Comando da Capital) também resultou em um motim no Pavilhão 6 do Presídio de Segurança Máxima de Campo Grande, no dia 14 de dezembro.

Munidos de armas artesanais, 33 detentos que seriam membros da facção carioca Comando Vermelho, ex-aliada dos paulistas do PCC, recusaram a voltar para as celas, alegando estarem sendo ameaçados pela organização rival.

O PCC teria dado uma ordem de execução a um preso que estava no regime RDD (Regime Disciplinar Diferenciado), também conhecido como “Seguro”- onde ficam presos que por "falta de convívio" com os demais, necessitam de isolamento.

Um detento então teria “descido” ao regime para cumprir a ordem, mas acabou impedido por outros presos que ficam no local. O bloqueio da ordem de execução teria soado como uma afronta aos líderes do PCC, que ficam em outro pavilhão do presídio.

Apesar dos presos estarem armados, não houve confronto com agentes penitenciários, que conseguiram controlar a situação. Como não houve reféns, nem maior resistência dos presos, o motim não evoluiu para rebelião.

Fachada do Presídio de Segurança Máxima de Campo Grande no Jardim Noroeste. (Foto: Fernando Antunes)
Fachada do Presídio de Segurança Máxima de Campo Grande no Jardim Noroeste. (Foto: Fernando Antunes)
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