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Em Pauta

A fortuna e os shows da Santa Inquisição

Mário Sérgio Lorenzetto | 04/09/2019 06:41
A fortuna e os shows da Santa Inquisição

Alegando o grande perigo que representava para Portugal a existência dos corruptos hereges cristãos-novos (judeus forçados a adotar o catolicismo), o rei D.João III negociou com o papa a introdução de um Tribunal da Inquisição. Representando uma classe social dinâmica e inovadora, os judeus eram o que havia de melhor no campo político e filosófico e eram vistos com desconfiança pelas classes conservadoras. Para aquiescer ao pedido de D. João III, o Vaticano recebeu altos donativos.

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A divisão dos lucros.

Na construção desse tribunal, a Igreja e a nobreza firmaram um pacto - metade dos bens confiscados iria para os cofres do rei e metade, para os cofres da Igreja. A inquisição representou uma imensa burocracia, com numerosos funcionários e uma única fonte de renda: os bens dos corruptos hereges. Para obter maior eficácia em seu funcionamento, a Inquisição criou um sistema de espionagem que seria copiado através dos séculos. Seus agentes, muitas vezes secretos, eram chamados de "familiares do Santo Ofício", gozavam de enorme prestígio e detinham numerosos privilégios. O chefe deles, era um cargo tão ambicionado que até o famoso Marquês de Pombal o desejava.

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Inventavam heresias.

Como a sobrevivência da instituição - era apenas um tribunal para funcionar por pouco tempo - dependia da quantidade de hereges encontrados, a Inquisição inventava heresias. Qualquer prática, palavra ou gesto poderia ser considerado herético. A Inquisição só poderia sobreviver encontrando vítimas.

A fortuna e os shows da Santa Inquisição

O show da Inquisição.

Rapidamente descobriram que precisavam do apoio popular. Inventaram um show que foi denominado "Autos de Fé". Nesses espetáculos de massa, geralmente realizados aos domingos ou dias santos, o povo, analfabeto e supersticioso, sentia-se "purificado" e orgulhoso de ter assistido ao espetáculo em companhia do rei e de outras ilustres personalidades. O primeiro auto de fé foi realizado em 1540, em Lisboa, onde a praça do Rossio servia de local de execução. Nesses shows, o herege poderia abandonar a heresia denunciando outros hereges.

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As denúncias eram caudalosas.

A Inquisição sobrevivia na base da denúncia. Cada réu trazia dezenas, às vezes centenas de novos prisioneiros - todos considerados cúmplices. A engrenagem da Inquisição não permitia fugir do labirinto kafkiano - não havia inocentes. Para poder escapar da morte era forçoso assumir a culpa, mesmo sendo inocente. Também era obrigatório denunciar pai, mãe, irmãos, primos, vizinhos e amigos. A Inquisição agredia a mente e o coração dos homens. Como disse o poeta Antero de Quental: "a Inquisição transformou a hipocrisia em vício nacional".

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A Inquisição no Brasil.

Nunca foi estabelecido oficialmente um Tribunal da Inquisição no Brasil. Os brasileiros suspeitos de heresia eram mantidos presos enquanto aguardavam navios que os transportassem para Lisboa. Viveriam em cárceres gélidos e imundos durante meses ou anos. Poucos brasileiros receberam a pena de morte. A maioria foi "reconciliada" com a Igreja. A sentença para os reconciliados era viver em "cárcere e hábito penitencial perpétuo". Isso significava vestir, para o resto da vida, um saco infamante sobre o corpo, que os transformavam em párias. Seus bens ficavam para a Igreja e o rei, o que os transformava em miseráveis e mendigos. A maioria andava enlouquecida pelas ruas. Muitos suicidaram. Os registros podem ser lidos nos "Livros dos presos que se mataram na prisão" ou nos "Livros dos que enlouqueceram na prisão".

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