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Em Pauta

A incrível árvore de spaghetti ou a arte da credulidade

Mário Sérgio Lorenzetto | 06/10/2018 10:14
A incrível árvore de spaghetti ou a arte da credulidade

No primeiro de abril de 1957, o programa "Panorama" da BBC, emitiu um programa informativo de três minutos de duração. Na tela aparecia uma família do sul da Suíça envolvida na tarefa habitual daquela época do ano: colher macarrão que brotava dos ramos das típicas árvores de spaghetti, comuns naquela região.

A reputação séria e formal da BBC, unida ao fato que nos anos cinquenta os britânicos não tinham claro de onde vinham os spaghettis, favoreceu que a piada atingisse proporções colossais de credulidade. Após a emissão, a BBC recebeu milhares de telefonemas perguntando onde podiam adquirir a maravilhosa árvore de spaghetti e como cultivar essa árvore. Estão procurando até hoje.

A incrível árvore de spaghetti ou a arte da credulidade

Até que ponto somos ingênuos?

Em 1997 um norte americano de quatorze anos participou de uma feira científica de sua cidade. O menino de Idaho apresentou um projeto baseado em convencer a todos da necessidade imediata de proibir o uso do monóxido de dihidrogênio (MODH ou DHMO). Durante vários dias Nathan Zohner, o jovem que lutava contra o MODH, recolheu assinaturas para vetar o dito composto alegando uma série de razões que seriam cientificamente comprovadas. Seguem as razões, tal como estava na petição:

1. O MODH pode causar suor excessivo e vômitos.
2. É um dos componentes principais da chuva ácida.
3. Pode causar queimaduras severas em seu estado gasoso.
4. A inalação acidental pode matar uma pessoa.
5. Contribui para a erosão.
6. Diminui a eficácia dos freios dos automóveis.
7. Foi localizado em pacientes que padecem de câncer terminal.

Todas essas afirmações eram absolutamente corretas. Zohner pediu a cinquenta pessoas que assinassem a petição. Nada menos de 43 assinaram. Seis se abstiveram. Somente uma pessoa se negou a assinar. O projeto ganhou o primeiro prêmio daquela feira de ciências de Idaho. Mas não porque o monóxido de dihidrogênio fosse um composto perigoso. O perigo estava na ignorância das pessoas. O estudante que se opôs a assinar a petição sabia que o monóxido de dihidrogênio, em realidade é o nome que a química dá à água. O projeto de Zohner na realidade não tinha contra a água, um elemento vital, levava um título escrito em letras miúdas, que ninguém leu, "Até que ponto somos crédulos?" O projeto se fez famoso no mundo científico. Zohnerismo passou a ser "o uso de um fato verdadeiro para conduzir um público cientificamente ignorante a uma conclusão falsa". O zohnerismo tomou conta do Brasil varonil. Varonil, viril? Nem tanto... Brasil crédulo, estaria mais próximo da verdade. Milhões de Zohner com santinhos de políticos nas mãos pedindo votos. Contra a água?

A incrível árvore de spaghetti ou a arte da credulidade

Gatinhos bonsai ou a natureza como um bem de consumo.

No ano 2.000 a internet ainda era um terreno estranho para a maioria da população. Muitos dos que conseguiam entrar em suas janelas saiam com cara de asco, de estranheza. Naquela época, o mundo virtual tinha poucas realidades. Pornografia era a principal. Gatinhos secundavam. O ser humano, retorcido pela natureza, foi capaz de retorcer os gatinhos. Até metê-los em potes de vidro.

Em outubro de 2.000 uma perturbadora página web com domínio BonsaiKitten.com se viu absurdamente viral. Seu criador, um tal doutor Michael Wong Chang, apresentava fotos de gatinhos vivos engarrafados e assegurava que a prática de engarrafar gatinhos ao vácuo era uma arte perdida. Arte irmanada com os clássicos bonsais de jardinagem. Segundo Chang, seguindo uma série de instruções era possível lograr que os gatos crescessem dentro das garrafas moldando seus ossos e obtendo felinos de tamanho reduzido, de pequenos gatinhos bonsai.

A página provocou um tremendo alarme social. Choveram imprecações ao Chang de todos os países do mundo. Até o FBI entrou na gritaria. Mas a investigação que nenhum puto louco havia engarrafado gatinhos. Tudo não passava de uma piada. Uma broma idealizada por um estudante do MIT que, inspirados por aquelas frutas bonsai, inventou o personagem do doutor Chang para criar uma sátira sobre a percepção atual da natureza como um bem de consumo. Que a sátira fosse de bom gosto, é bem questionável. Mas que o jovem conseguiu demonstrar que só nos preocupamos com a natureza quando ela está dentro das garrafas ou das latas, não resta dúvida.

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