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Em Pauta

A praga do curandeiro da fronteira: “Esse braço há de secar”

Por Mário Sérgio Lorenzetto | 08/09/2025 07:20
A praga do curandeiro da fronteira: “Esse braço há de secar”

Velhuscão, magricela e manquitola, era de grande resistência física, deixando todos abismados. Conhecia, como ninguém, as plantas que curavam ou davam vigor ao corpo. Vivia na fronteira com o Paraguai para servir. Nada exigia em troca. Sentia-se bem em assim agir. Nos ranchos dos ervais fazia serviços variados para ganhar o sustento. Foi ganhando fama. Suas curas eram tidas como milagrosas.


A praga do curandeiro da fronteira: “Esse braço há de secar”

O Lupe da fronteira.

O nome era Ermínio Guadalupe, mais conhecido por Lupe. Carregava consigo uma bolsa reforçada para as plantas que curavam. Tudo separado, conforme a doença. Não fazia anotação alguma. Lupe conhecia o remédio só de olhar. Merecia o respeito de todos.


A praga do curandeiro da fronteira: “Esse braço há de secar”

A dor atroz na gravidez.

Um dia, porém, a desgraça bateu à porta de couro de seu rancho. Uma mulher estava prestes a dar a luz e gritava desesperadamente. O rancheiro chamou Lupe. O manquitola foi correndo. Nada entendia de parto e para isso não conhecia remédio. A coisa aconteceu em um segundo. O punho do rancheiro ergueu-se no ar para cair no rosto do Lupe, que se estatelou no chão, banhado em sangue. Todos se indignaram com o ato selvagem e covarde. Lupe levantou-se a custo e veio a praga: “Esse braço há de secar”. Na madrugada, a criança nasceu morta. Ermínio Guadalupe abandonou seu rancho aproveitando a carona na canoa de dois mascates. Foi viver na fazenda do José Domingos Fernandes, um velho amigo.


A praga do curandeiro da fronteira: “Esse braço há de secar”

O tempo não para.

Dois anos se passaram. Um dia, apareceu na casa comercial do Pedro Manvailler, um sujeito maneta, bem combalido. Quem era o maneta? Era o rancheiro que estapeou o Lupe na triste noite do parto. Ali estava o resultado da praga. “Esse braço há de secar”. Pega sim, praga rogada na defesa de homem que só pensa em praticar o bem. O rancheiro havia recebido um golpe de machete em uma das muitas rebeliões que ocorreram nos ervais da fronteira. Um mineiro, líder dos rebeldes, recebeu de leve um tiro na perna, mas saltando agilmente desferiu o golpe que “matou” o braço do rancheiro.

 

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