Amigos, uma horta e um amor: dieta para uma velhice saudável
Há coisas que os médicos não acertam. Se empenham em receitar comprimidos, dietas, sudokus e passeios aos idosos, quando poderiam animá-los a ter um amor e uma horta. Foram escritos dezenas de milhares de teorias e de estudos acadêmicos de nutrição. Segundo dados oficiais, até 2012 eram 195.011 no mundo. Desde então, a cifra vem crescendo a um ritmo de 10.000 novos estudos anualmente. A cada semana publicam estudos novos. É um absurdo científico de mau gosto.
A vida de Conceição.
Considerem Conceição. É a única vovozinha que conheço que não toma um só comprimido diariamente. Tem 78 anos, tomates, alfaces, pepinos e um senhor, de sua geração, que a visita semanalmente. Todas as sextas-feiras se reúne com um eterno grupo de amigas em um jantar. Sempre come um sorvete e bebe uma xícara de café com “ quatro gotas de veneno”, como ela chama o uísque. As amigas a olham com inveja. “ Tem de cuidar da pressão”, “ Isso não é bom para a diabete”, lhe dizem. Ela as manda “plantar batata”. E diz que não toma um só comprimido e que todas elas carregam em suas bolsas uma enorme quantidade de remédios. O drama se repete a cada semana.
A vozinha motoqueira.
Há alguns anos, Conceição se deparou com a moto nova de seu filho. O dia que a levou a sua casa, saída da concessionária, ela quis experimentar. Levantou a saia, encarou a besta, apertou o acelerador e saiu disparada pela rua. Logo encontrou uma árvore e nela arrebentou a moto. A história é repetida com as amigas que a tem como uma heroína. Ninguém tem coragem de repetir a façanha da Conceição.
Entre tomates e pepinos.
Cuidar de uma horta é uma fonte interminável de conexão com a natureza e exercício físico. Também assegura uma provisão regular de pepinos, tomates, pimentões e alfaces, ingredientes fundamentais na alimentação saudável. É um ótimo antídoto contra os piores males: o desamparo, a depressão e a vontade de deixar esta vida. Ao longo das décadas, a comunidade cientifica só se colocou de acordo, de forma unânime, em duas recomendações para a velhice: é melhor comer comida caseira que pré-fabricada, é melhor comer acompanhado que comer na solidão.
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