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Em Pauta

Ascensão e agonia dos Chicago Boys

A escola de Guedes

Mário Sérgio Lorenzetto | 13/12/2019 06:23
Ascensão e agonia dos Chicago Boys

Todos temos a tendência de pensar que a previdência social foi uma invenção britânica. Também tendemos a pensar nela como uma invenção socialista ou, pelo menos, liberal. De fato, o primeiro sistema compulsório de seguro estatal de saúde e de pensões para a velhice foi introduzido na Alemanha. Os britânicos levaram mais de 20 anos para seguir o exemplo alemão. Nem ele foi uma criação da esquerda. Ao contrário, foi de seu absoluto oposto. Otto von Bismarck, o criador da previdência social, em 1880, definiu essa ideia que serviria para: "engendrar, na grande massa de despossuídos, o espírito conservador que surge do sentimento do direito a uma pensão".

Ascensão e agonia dos Chicago Boys

Japão, o pleno estado de bem estar social.

Quando os japoneses se reuniram para arquitetar um sistema de bem estar social universal em 1949, sessenta e nove anos depois da Alemanha, os desastres tinham se multiplicado sob o céu do país do Sol Nascente. No dia 1 de setembro de 1923, um poderoso terremoto (7,9 na escala Richter) devastou as cidades de Tóquio e Yokohama. Mais de 200 mil casas foram destruídas e 450 mil foram queimadas. Seis anos mais tarde chegou a Grande Depressão, empurrando os agricultores para a beira da fome. Nada menos de 70% da população era constituída por agricultores. Em 1937 o país embarcou em uma cara é fútil guerra de conquista na China. E em dezembro de 1941, fechou o ciclo de desgraças entrando na Segunda Guerra Mundial.

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A inauguração da estado pleno de bem estar social.

A lição foi clara para os nipônicos: o mundo é um lugar muito perigoso! As populações devem ser protegidas. A partir de então, se o japonês nascesse doente, o governo pagaria. Se não pudesse pagar pela educação, o Estado pagaria. Se não pudesse encontrar trabalho, o governo pagaria. Quando se aposentassem, o governo pagaria. E, quando finalmente morressem, o governo pagaria aos seus dependentes. Estava inaugurado o estado pleno de bem estar social.

Ascensão e agonia dos Chicago Boys

O grande calafrio no estado de bem estar social.

Em 1976, 30 anos após a construção do estado de bem estar, um desconhecido professor da Universidade de Chicago ganhou o Prêmio Nobel de Economia. A reputação de Milton Friedman residia, em grande medida, na ideia de que a inflação era devida a um aumento excessivo na impressão do dinheiro. Seu livro causou grande impacto nos EUA. Jogava a culpa da Grande Depressão no Federal Reserve, o Banco Central norte americano. Mas a questão que o preocupara em meados dos anos 70 foi: o que aconteceu de errado com o estado de bem estar social? Em março de 1975, Friedman voou de Chicago para o Chile para responder a essa questão.

Ascensão e agonia dos Chicago Boys

Os tanques tomaram o poder.

Dezoito meses antes do voo de Friedman, os tanques tinham rodado através da capital Santiago para derrubar o governo do marxista Salvador Allende. O golpe chileno levou ao debate pretendido por Friedman: a culpa é do estado de bem estar? Pelo menos no Chile, ele estava falido.
Entre as palestras e seminários de Friedman no Chile, passou alguns momentos com o ditador Pinochet, para quem enviou mais tarde uma análise da situação econômica chilena.

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A declarada guerra ao estado de bem estar social.

Friedman instou o ditador que ele reduzisse o déficit do governo que identificara como a causa principal da inflação vertiginosa. Um mês depois da visita de Friedman, a ditadura chilena anunciou que a inflação seria cortada a qualquer custo. O regime cortou enormemente suas despesas e queimou fardos de dinheiro. Mas Friedman não estava satisfeito. Em uma carta a Pinochet ele declarava guerra ao estado de bem estar social. Surgem os Chicago Boys, moços chilenos, jovens economistas, que constituíam a tropa de choque comandada por Friedman. São eles que levaram ao campo de batalha essa drástica mudança. O governo passaria a ser diminuto, quase insignificante. Todo o poder econômico seria deslocado para os empresários. O governo sairia da educação, da saúde, da aposentadoria e das pensões. Bolívia, El Salvador, México, Peru, Colômbia, Cazaquistão e, bem depois, a Turquia, copiariam integral ou parcialmente as lições dadas por Friedman. Todos sairiam o mais rápido possível dessa escola. A queda final do modelo ocorreu agora. O Chile está banhado em sangue e destruição. O Brasil é a última trincheira do extremismo de Friedman. 

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