Cerveja se houver; água se não houver cerveja. As 1ºs cervejarias
Na Europa do ano 1.200, não havia um só vilarejo que tivesse um bar ou um pub. Pode parecer estranho, mas não havia necessidade deles. A verdade é que bebiam em qualquer lugar. As pessoas bebiam no trabalho. Bebiam na igreja. Haviam monges, como os da Abadia de Beaulieu (na Inglaterra), que recebiam uma ração de cinco litros de cerveja por dia. Era normal um carreteiro levar três canecas de cerveja para trabalhar. Era assim que a vida funcionava. Não que as pessoas ficassem bêbadas. Mas a cerveja nutria. Afinal de contas, cerveja é pão líquido.
Cerveja na igreja.
A igreja do vilarejo medieval, mais que um lugar de devoção, era um centro comunitário. Jogavam futebol no jardim e cantavam no saguão. A cerveja era oferecida em dias festivos, como dias santos, batizados, casamentos e funerais. Um bom funeral na igreja podia ser bem divertido. Quando enterraram o bispo de Winchester, em 1.319, mil galões de cerveja foram doados aos pobres.
Água? Deus me livre!
Acima de tudo, as pessoas bebiam em casa. Não só os homens, mas as mulheres e, surpreendam-se, as crianças também. Água era perigosa, só os muito pobre a bebiam. A regra dominante foi construída por um tal Elfrico: “ Cerveja se houver; água se não houver cerveja”. Basicamente, todos bebiam cerveja. Ricos bebiam vinho e os muito ricos bebiam o xerez português.
A cerveja era feita pelas mulheres.
Homem não fazia cerveja, era exclusividade das mulheres. Desde os tempos da Mesopotâmia, quando surgiram as primeiras cidades. Enquanto o homem trabalhava no campo, a mulher cuidava da casa e fazia cerveja. A cerveja medieval tinha vida curta, estragava depois de dois ou três dias. Quando a mulher fazia mais cerveja do que a família necessitava, punha um bastão de madeira com um ramo de arbusto em cima da porta da frente. Depois deixava o barril do lado de fora e vendia para quem aparecesse. Era assim que as primeiras cervejarias funcionavam. Eram artesanais, feitas pelas mulheres em suas casas.
O mundo mudou… e a cerveja foi junto.
Essa pratica continuaria até o século XIV. Que foi quando tudo mudou. Mudou com a adição do lúpulo à cerveja. E com a mudança nos campos, foi quando deixaram de contratar trabalhadores rurais e passaram a alugar lotes de terra. Mudou porque apareceu um padre muito besta, o verdadeiro criador da Lei Seca. Simon Langham foi nomeado arcebispo da Cantuária e a primeira coisa que fez foi ameaçar excomungar quem levasse cerveja na igreja. Mas essa é outra história: a deliciosa história do surgimento das fábricas de cerveja. Contarei outro dia.
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