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Em Pauta

Chocante: não odiamos a violência. Você mataria Hitler?

Mário Sérgio Lorenzetto | 09/06/2022 06:40
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Imagino a história sempre do mesmo jeito: nossa equipe conseguiu entrar no bunker secreto. Eu, sozinho, consegui neutralizar a guarda de elite com alguns tiros de alta precisão. Melhor que o adversário campeão mundial. Ele se estende para pegar sua pistola e eu a arranco de suas mãos. Ele tenta pegar a pílula de cianeto para cometer suicidio. Eu também arranco a pílula de sua mão. Ele grunhe, furioso, e me ataca com força sobrenatural. Lutamos. Levo vantagem e o algemo. "Adolph Hitler", anuncio, "você está preso por crimes contra a humanidade". É aí que a versão medalha de honra da fantasia termina e se torna obscura. O que eu faria com Hitler? Pode esquecer de prisão. Essa não é uma alternativa. Escolha a alternativa, mas há necessidade de ser violenta. E garanto que sou pacifista e anti-violência declarado e praticante.

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Sou contra a pena de morte, mas algumas pessoas deveriam ser executadas.

Não estou certo de que a punição deva ser um fator relevante para a justiça criminal. Tem cheiro de altíssima ineficiência. Só que há um problema em relação a isso: eu realmente acho que algumas pessoas deveriam ser executadas, ainda que seja contra a pena de morte. Já apreciei muitos filmes toscos e violentos, apesar de defender um estrito controle de armas. Já brinquei de guerrinha de laser com meus netos.


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Nossa espécie tem sérios problemas com a violência.

Em outras palavras, carrego um arranjo confuso de sentimentos e pensamentos sobre violência, agressividade e competição. Assim como a imensa maioria dos seres humanos. Nossa espécie tem sérios problemas com a violência. Disposmos dos meios para criar milhares de cogumelos atômicos. Cartas levam "anthrax". Aviões de passageiros foram transformados em armas. Estupros em massa são regras de combate em todas as guerras. Bombas explodem em supermercados. Crianças com armas massacram outras crianças. Em nossa fronteira, até entregador de pizza teme por sua segurança.


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Não odiamos a violência.

A violência é pouco estudada e muito comentada - sem critério científico algum. Se fosse estudada, seria um problema fácil de abordar. Aids, está sendo erradicado após muito estudo. Câncer, já é notícia do passado para os ricos. Desnutrição só existe em países que optaram por ela. O problema, porém, é que a violência não entra nessa lista. Muitas vezes não temos nenhum problema com ela. Pode ser chocante, mas a verdade é que não odiamos a violência.


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Odiamos o tipo errado de violência.

Odiamos e tememos o tipo errado de violência. A violência no contexto certo é diferente. Pagamos um bom dinheiro para vê-la em arenas de luta e em estádios de futebol. Ensinamos nossos filhos a revidar. Nos orgulhamos quando, já meio decripto, atingimos o adversário com um tranco durante um jogo de futebol. Nossas conversas estão repletas de metáforas militares. "Reorganizamos a tropa quando nossas ideias são massacradas". Até no insipido e inodoro xadrez dizemos que "Kasparov pressionou com um ataque matador" . Elegemos líderes que se destacam em violência. Muitas mulheres escolhem aqueles que são ultra-violentos. Quando é o tipo "certo" de agressividade, nós adoramos.


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A violência é ambígua.

Essa é a ambiguidade da violência. O fato de apertarmos o gatilho pode ser narrado como um ato hediondo ou de amor abnegado. Como resultado, a violência será uma parte da experiência humana profundamente difícil de entender. Existe, sem duvida, uma biologia da violência. Os comportamentos e os impulsos que estão por trás dela devem ser estudados à exaustão. Os atos de indivíduos, de grupos e do Estado, devem ser minuciosamente pesquisados. Mas há uma biologia inversa. O que a biologia nos ensina sobre cooperação, reconciliação, empatia e altruísmo? Só há uma solução verdadeira: estudar. Essa solução de dar tiro uns nos outros, é óbvio, só nos leva a dar mais tiros. É uma saída para quem odeia estudar.


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Sem biologia, psicologia e estudos culturais, não há saída.

Não é possível começar a entender coisas como agressividade ouvindo os Datenas da vida, os programas e matérias jornalísticas sobre violência cotidiana. Assim como a violência, não é possível entender cooperação ou empatia sem a biologia. Há necessidade de compreendermos o comportamento social humano. Mas não podemos ser fundamentalistas moleculares, aqueles que acreditam que as ciências sociais estão fadadas a nada explicar. Não faz nenhum sentido fazer uma distinção entre os aspectos de um comportamento que "biológicos" e os que seriam descritos como "psicológicos" ou "culturais". Ambos estão entrelaçados por completo. Aos estudos!

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