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Em Pauta

Como perdoar um erro: a importância e o ritual.

Mário Sérgio Lorenzetto | 08/12/2018 08:21
Como perdoar um erro: a importância e o ritual.

O perdão verdadeiro e genuíno continua existindo no século XXI? O que é o perdão genuíno? Perdoar é, antes de tudo, uma promessa de esquecimento em troca de uma promessa de não reincidência no erro cometido. Nesse sentido, o ato de perdoar nunca pode ser unilateral. Só pode ser uma espécie de contrato.

Esta antiga mecânica choca com as exigências de perdão que lançamos como sociedade para políticos. Também pode chocar quando se refere a relações entre dois ou mais indivíduos. Os meios de comunicação atuais, especialmente as redes sociais e os celulares nos impedem de perceber se podemos confiar no pedido de perdão. No passado, o pedido de perdão só era aceito se envolvia algum sofrimento.

Como perdoar um erro: a importância e o ritual.

O ritual do perdão no Japão.

Até há poucos anos, o maior cerimonial para pedir perdão ocorria no Japão. Naquele país asiático ainda existem três formas de pedir perdão. O "eshaku" é uma reverência breve para assumir um erro. O "keirei" também é uma breve reverência acompanhada por uma mensagem de que não ocorrerá repetição do erro e uma inclinação de 30 graus. Já o "saikeirei" é uma reverência profunda, de 45 graus que se usa quando o dano causado é pessoal e quantificável. A duração e a frequência de cada reverência indicam o grau de arrependimento de quem, de alguma forma, se humilha.
Mas, inclusive nessa sociedade tão tradicionalista e diferente como a nipônica, o pedido de perdão foi contaminado. Desde há seis anos existem empresas que fornecem pessoal "especializado em pedir perdão". E por preços acessíveis. Desde R$130 a R$800 essas companhias dispõem de pessoas dispostas a desculpar-se em nome de outros com o cerimonial adequado.

Como perdoar um erro: a importância e o ritual.

A diferença do perdão entre católicos e protestantes.

O valor do perdão não é igual em todas as sociedades, nem sequer em todos os continentes. Para os católicos, durante muitos séculos, o perdão só poderia ocorrer frente a uma "instituição": o padre. Hoje, esse valor foi passado para a justiça. Já para as sociedades que passaram pela Reforma Luterana, o perdão só podia ser concedido pela comunidade onde vivia aquele que havia cometido um erro. Tal qual, a católica, hoje, o perdão entre os protestantes passou para as mãos da justiça.

Como perdoar um erro: a importância e o ritual.

O perdão verdadeiro serve para podermos nos centrar nas emoções positivas.

Baixando um escalão na análise do ato do perdão, chegamos ao concreto e cotidiano: aos conflitos familiares, às disputas de heranças, às rupturas, aos divórcios. Aos momentos em que ocorreram ofensas que precisam ser perdoadas. Em qualquer desses casos é essencial romper o nó do conflito.

Quando uma emoção positiva é trocada por uma emoção negativa não significa que a relação tenha desaparecido, mas que persiste em um novo marco emocional que é negativo. Perdoar permite resolver o tema e voltar a centrar nas emoções positivas. Tomemos como exemplo a repartição de uma herança. Muitas vezes ela leva para a superfície conflitos submersos, escondidos que são amplificados pelo trauma da morte do familiar. Quando se cria o clima adequado para levar à luz esse conflito e resolvê-lo através do perdão, é possível conseguir muito mais do que se consegue por outros meios. Porque a relação renasce de uma maneira nova e, ao fim, é possível compreender o outro.

Mas há uma condição para o perdão. Ele deve ser excepcional, porque implica o rigor de não tolerar uma ofensa indefinidamente. Caso não seja excepcional, se converterá em uma desculpa para continuar a ofensa. Será um perdão imperfeito e continuísta. E isso só conduz a um lugar: ao imperdoável.

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