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Em Pauta

Do hospital de traficantes ao dos políticos

Mário Sérgio Lorenzetto | 07/07/2018 09:31
Do hospital de traficantes ao dos políticos

A partir de 1780, ocorre o nascimento do hospital como hoje o enxergamos. Ele deixa de ser pensado exclusivamente como um prédio, a arquitetura perde terreno. Mas isso ocorreu na França. Mais de dois séculos depois, por aqui, o hospital continua a ser um prédio. Muitos são inaugurados, poucos funcionam.

Nesse fim do século XIX, começam a preocupar com a ventilação e a temperatura. Separam os doentes que tem febre das mulheres grávidas. Estabelecem a roupa branca como sinal de limpeza. Separam panos e lençóis. O hospital vira uma máquina de curar.

Antes disso, o hospital é um lugar paradoxal. O pobre que estava morrendo era o principal objeto dessa instituição. Era um lugar para morrer. Com certeza esse doente teria atendimento espiritua, sairia desta vida nos braços da religião. Saúde? Era apenas um adicional. Também servia como depósito de loucos, devassas, prostitutas e leprosos.

A medicalização do hospital foi uma revolução sem precedentes. Uma transformação dificílima pois contava com raros apoios. E é esse ideário que ainda subsiste em nosso tempo. Pelo menos em nossa região.

O hospital deveria ser purificado e ordenado. Desordem significa, nesse contexto, doença mental e desperdício. Perigo para a sociedade. É isso, um hospital desorganizado é uma bomba caindo em uma cidade. Mata.

Do hospital de traficantes ao dos políticos

O hospital dos traficantes.

Curiosamente, essa revolução - a medicalização - ocorreu em hospitais militares franceses. Os hospitais passaram a ser locais de tráficos constantes de mercadorias, especiarias e de produtos saqueados de suas colônias. Os traficantes se diziam doentes para escapar da alfândega. Começam a inspecionar os cofres do hospitais, as bolsas dos soldados, dos médicos e dos boticários. A ordem começa a imperar. A ideia era uma transformação medica, mas teve inicio com uma organização administrativa. Se não há trariam nossos hospitais, neles imperam a desorganização. Ainda estamos no século XIX.

Do hospital de traficantes ao dos políticos

O hospital dos médicos assume o poder.

Os primeiros hospitais organizações passam por outra transformação. Nasce o ideario ambientalista do hospital. Ele deixa de ser um lugar lúgubre, escuro e mal cheiroso. Cuidam da água podre e do lixo. São ventilados e começam a aparecer camas individuais. Finalmente o hospital passa a ser um lugar da cura. Já não é um lugar da caridade, da salvação espiritual e nem do tráfico. Cura doenças.
A soberania é de quem sabe mais sobre cura: do médico. Mas eles tiveram de passar por uma longa e difícil luta contra uma "santa" aliança: a dos políticos irmanados com os religiosos. Mas ainda levarão muito tempo para constituir o moderno hospital. Só no século passado os médicos assumirão definitivamente o poder hospitalar e darão início a um tortuoso, e ainda incompleto, caminho para a humanização dos hospitais.

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