Dois duelos e o fim de uma família de mandões de Nioaque
Nioaque, como os demais municípios antigos, tinha seu coronel, o “mandão”. Alarico de Medeiros foi homem de muitas rusgas. Era bom quando queria. Mau e vingativo, quando se julgava com a razão. Tinha imensa força e prestígio e dirigia a politica da cidadezinha.
Precisava do “tá bem” do Alarico.
Nada ali se movia sem o “tá bem” do Alarico. Contrariá-lo seria temeridade. Desobedecer-lhe era um perigo para a pele. Para fazer qualquer festa precisava sua licença. Também para as corridas de cavalo. Não havia procissão sem a ordem do Alarico.
Vai morrer matado.
Todos diziam que o Alarico morreria matado. O povo não vaticinava errado. Um dia, o mandão solicitou ao governador que nomeasse seu primo Francisco Medeiros, mais conhecido como Chiquinho, para delegado de policia da cidade. Foi atendido prontamente. Precisava cercar-se de gente de toda a confiança. Estava montado o trio de valentões, além de Alarico e Chiquinho, tinha o Amadeu, irmão do coronel.
O primeiro duelo.
Certa tarde dois homens discutiram em uma das ruas da povoação. Chiquinho, o delegado, duelou com o Amadeu, irmão do chefão Alarico Medeiros, seu primo. Ouve-se um tiro. Amadeu cai morto. Fora alvejado no coração. Francisco Medeiros, o delegado, imperturbável, guarda o 44, mete a mão no bolso, tira um cigarro, bate-o na caixa de fósforo, acende-o, mira o cadáver e monta em seu cavalo.
Uma “briguinha”.
O delegado assassino chegou à fazenda do coronel Alarico e lhe diz que teve uma “briguinha” com o Amadeu. Vai além na mentira, contou que tinha “só machucado“ o primo. Agora vinha saber como ficaria com o coronel. Alarico pensou um minuto, viu que seria uma parada dura e poderia ser sua morte. Mandou o delegado assassino fugir para o Paraguai, sem dar noticia para quem quer que fosse. Chiquinho pulou no cavalo e se mandou.
No Guaxupé.
Alarico enterrou o irmão e foi buscar informações do Chiquinho. Descobriu que o primo estava no Guaxupé, não tinha fugido para o Paraguai. Sem perda de tempo, reuniu seis homens, municiou-os. Contou-lhes a missão e partiu. Ao se aproximarem, Chiquinho foi visto. Gritando “vai ter porqueira grossa” fugiu para o pomar. Tinha uma arma em cada mão. O tiroteio demorou quinze minutos. Chiquinho varou o corpo de Alarico Medeiros com vários tiros. Em seguida, fazendo um giro rápido no ar, caiu de borco, já cadáver. Os três valentões de Nioaque estavam mortos. A família de mandões chegara ao fim.
Os artigos publicados com assinatura não traduzem necessariamente a opinião do portal. A publicação tem como propósito estimular o debate e provocar a reflexão sobre os problemas brasileiros.