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Em Pauta

História de 1964. A defesa parada em engarrafamento

Mário Sérgio Lorenzetto | 03/10/2017 06:29
História de 1964. A defesa parada em engarrafamento

O governo de Jango Goulart deveria ser protegido por tropas leais que receberam o nome de "dispositivo militar" - uma boa quantidade de oficiais de alta patente que diziam proteger um governo fraco. A fraqueza inata da base do "dispositivo" achava-se espalhada no próprio coração da tropa que o governo conseguiu mandar para conter a rebelião do general Mourão. Uma coluna marchou pela Avenida Brasil, centro do Rio de Janeiro, no dia 31 de março de 1964. Era formada pelo Grupo de Obuses e pela Bateria do Oitavo Grupo de Canhões Automáticos. Os obuses tinham sido danificados com antecedência. A bateria era comandada pelo capitão Carlos Alberto Brilhante Ustra. Esse capitão era conhecido por ter se atritado com sargentos militantes da esquerda e se recusado a servir como ajudante de ordens de um "general do povo", aqueles que defenderiam o governo Goulart.
Acreditar que um capitão como Ustra dispararia canhões por Goulart era excesso de otimismo ou imbecilidade. A tropa de Ustra era um misto de soldados e sargentos. A metade era contra o governo e a outra, servida por janguistas. Além disso, mandaram-no levar no seu jipe outro capitão, mais "antigo" que ele e devoto do governo. Elementar, meu caro democrata: ao menor sinal de vacilação, Ustra seria deposto do comando pelos sargentos e substituído pelo carona. Ustra armou uma rebelião sem o alarde protagonizado por Mourão com a ajuda de seu ordenança. Conspirou com um cabo e com soldados que provocaram um engarrafamento na Avenida Brasil para retardar a marcha da coluna. Assim, o "dispositivo" se protegia com os canhões que não funcionavam, de um capitão que não lhe era leal, supondo que ele poderia ser neutralizado pelos sargentos. Estes, por sua vez, tinham de enfrentar o complô do capitão com o ordenança. Um verdadeira anarquia.
É esse mesmo Ustra que foi posteriormente denunciado como torturador pela atriz Bete Mendes, ele teria chefiado o DOI-CODI de São Paulo, órgão de repressão e tortura do governo militar. Bete Mendes, uma das fundadoras do PT, enviou uma carta ao então presidente Sarney, solicitando que ele fosse exonerado do cargo. No entanto, o general Leônidas Pires Gonçalves, ministro do Exército à época, manteve Ustra no cargo que ocupava de adido militar no Uruguai. Em resposta à atriz, Ustra lançou um livro - "Rompendo o silêncio" - em que narra sua passagem pelo DOI-CODI. Ustra, falecido em 2015, é um dos maiores ídolos da extrema direita brasileira dos dias atuais.

História de 1964. A defesa parada em engarrafamento

Pesquisa mostra a decepção com a democracia.

O fantasma do autoritarismo volta a rondar o país. Em verdade estava apenas adormecido. Uma pesquisa recente da Ipsos mostra a desilusão e ajuda a explicar a ascensão de líderes entendidos como "fortes". Dispostos a modificar ou encerrar o ciclo democrático e a mandar para o relento ou para a cadeia os líderes tradicionais.
Nada menos de 48% dos entrevistados disseram que o Brasil precisa de um líder forte, disposto a quebrar regras. No polo inverso, aqueles que não desejam esse líder autoritário, apenas 25% dos entrevistados, uma diferença imensa de 23%. E ainda estamos a um ano das eleições.
A segunda pergunta abre ainda mais o fosso para os políticos tradicionais: 69% dos entrevistados disseram que "políticos tradicionais não se importam com pessoas como eu". Apenas 11% afirmaram que os políticos tradicionais se importam com eles.
Nada menos de 72% diz que o Brasil está em declínio. Um povo decepcionado com tudo que vê. Ainda que a economia tenha saído da recessão, um fato que deveria entusiasmar a população, tão somente 18% entendem que o país não é declinante.
Outra pesquisa mostra um aparente paradoxo: a candidatura de Lula está abrindo frente sobre as demais e, na mesma enquete, expressiva maioria deseja o ex-presidente na cadeia. Não há paradoxo. Caso ocorra um milagre e Lula não seja proibido de concorrer às eleições, estará no segundo turno com absoluta tranquilidade. Mas a maioria da população não quer Lula na cadeira presidencial, deseja vê-lo na cadeia. Não só ele, mas a quase totalidade dos políticos. Eles estão passando por um dos maiores processos de autofagia que o Brasil vivenciou. Estão se destruindo dia após dia. A justiça se encarregou de recolher os zumbis. Vale repetir: 48% quer um líder forte. Querem alguém que quebre as regras que estão apodrecidas. Não amam a democracia.

História de 1964. A defesa parada em engarrafamento

A grande degeneração do Brasil.

O Brasil está em decadência. O liberalismo econômico, não surtiu os efeitos desejados. A desigualdade social aumentou. As finanças públicas, sinal maior da incompetência dos governantes, estão em crise. O crescimento da economia é lento, lentíssimo.
Qual é a razão dessa "degeneração"? Seria a desalavancagem financeira? A globalização? A politica fiscal? A incompetência pura e simples dos administradores públicos? Sua ganância? A falta de investimento em educação pública? O fato é que estamos em um estado estacionário. Um momento em que parar de crescer é uma boa notícia para o desastre criado por políticos e economistas sequiosos pelo poder.
Os quatro pilares da sociedade - a democracia, o capitalismo, o Estado de direito a musculatura da sociedade - estão em decomposição. Prestes a ruir. Todos se cansaram de alertar para a necessidade de uma mudança radical em nossas instituições, na tentativa de evitar consequências desastrosas para nosso futuro.

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