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Em Pauta

Os magnatas que inventaram a supereconomia dos EUA

Mário Sérgio Lorenzetto | 08/01/2019 06:27
Os magnatas que inventaram a supereconomia dos EUA

Abraham Lincoln foi declarado morto pouco depois das sete horas de uma manhã chuvosa de um sábado, em 15 de abril de 1865. Menos de uma semana depois da rendição do general Robert Lee. A guerra civil havia terminado e Lincoln estava morto.
Quatro dias depois, um gigantesco cortejo fúnebre em Washington, diante de cerca de 75 mil espectadores, incluiu destacamentos militares de negros e ex-combatentes mutilados e o tradicional cavalo seguindo o carro fúnebre com a sela vazia e as botas viradas para trás que vimos nos funerais de John Kennedy. De lá, seu corpo viajaria de trem para Illinois, seu estado natal.

Os magnatas que inventaram a supereconomia dos EUA

Uma fotografia dos EUA de 1865.

A primeira parada do trem que levava o corpo de Lincoln foi em Baltimore. As duas cidades eram essencialmente iguais. Um lamaçal infestado de malária. Mas Baltimore tinha uma diferença de todas as outras cidades norte americanas: estava inchada e doente devido a uma dieta rica em gorduras, enquanto as demais ainda viviam o espectro da fome. De Baltimore, o trem seguiu para Harrisburg. Havia um boom da atividade petrolífera nas florestas da Pensilvânia. Cidadezinhas bucólicas tinham se transformado em lugares infernais com quase todos os rios enegrecidos e o ar cheio de petróleo. Multidões procuravam, sem sucesso, pelo ouro negro. As cidades estavam abarrotadas de carroceiros, prostitutas e aventureiros evadidos das prisões. Logo, iriam fornecer petróleo para iluminar o mundo.

Os magnatas que inventaram a supereconomia dos EUA

A Filadélfia dos inventos e N.York dos bancos.

As paradas seguintes foram em Filadélfia e Nova York. Ambas viviam uma fase de transição, extremamente rápida, saindo de uma economia rural para a de pequenas indústrias e centros financeiros. Tinham faturado muito com a produção de uniformes e cobertores na guerra. Mas Filadélfia tinha algo exemplar. Parte das fortunas serviram para criar seu famoso Franklin Institute, o instituto técnico mais antigo do país, com a doação de mil novos ricos. O crescimento acelerado de N.York estava rompendo os,limites da ilha Manhattan devido aos mercados de capitais e aos bancos. Mais havia uma enorme tensão étnica, a cidade tinha uma população irlandesa maior que Dublin e era um criadouro da democracia antiguerra, chamada de "copperhead".

Os magnatas que inventaram a supereconomia dos EUA
Os magnatas que inventaram a supereconomia dos EUA

A origem dos magnatas.

Nos últimos anos da guerra civil, Andrew Carnegie, John Rockefeller, Jay Gould e John Morgan tinham cerca de trinta anos, todos nos primeiros degraus de suas carreiras. Foram eles que deram forma e direção ao rápido crescimento norte americano. Eles forçaram o ritmo, levaram a transição da economia rural para urbana a escalas cada vez maiores. Para o bem - crescimento inigualável - e para o mal - resolveram seus problemas assediando as autoridades - impuseram marcas pessoais que persistiram até a recente era dos computadores. Eles eram pessoas bem diferentes. Carnegie, Rockefeller e Gould se aproveitaram do gosto da população pela velocidade, da obsessão com "seguir em frente custe o que custar" e da enorme tolerância desse povo com as invenções.

Os magnatas que inventaram a supereconomia dos EUA

Morgan era o "Grande Regulador", um presidente sem mandato. Carnegie usava as invenções.

Morgan era o regulador da economia, sempre a favor de refrear a "concorrência nociva", sobretudo do tipo promovido pelos outros três.
A indústria siderúrgica era um formidável e confortável cartel quando Carnegie começou sua carreira arrasadora. Ele não era um homem de tecnologia, mas era um hábil consumidor de invenções. Suas usinas sempre eram as mais automatizadas e com maior enfoque na redução de preços. Seu mantra era simples: corte custos, aumente a participação, ganhe escala. Os lucros eram consequência.

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Goulder era o "provocador" e Rockefeller, o "visionário".

Gould era um "provocateur", um mestre dos mercados de títulos públicos, que sempre estava no ataque, estendendo, é muito, os limites do possível a novas alturas. Mas as arenas de Gould eram outras, trabalhava com as ferrovias e o telégrafo, a infraestrutura crítica do período. As ferrovias também eram, tal como as siderúrgicas, cartéis rançosos, tinham s expandido com cautela e quase sempre com alguma lucratividade. Tudo era "acertado" em cavalheiresca reuniões entre os proprietários e também com os homens do governo. Alvos parados à espera de um ataque. Gould atacou e destruiu todas.
Rockefeller talvez tenha sido o maior visionário e o administrador supremo dos EUA. Ele assumiu o controle dos mercados de petróleo mundiais com rapidez e enorme facilidade. Controlou essa nova riqueza antes mesmo que a maioria de seus concorrentes percebesse. Deu a esse setor da economia sua primeira lição: a distribuição em larga escala.
Uma hoste de de empresas de outros setores seguiu sua liderança. Uma década depois de Rockefeller vender petróleo na China e no Japão, os frigoríficos abriram centros de distribuição nesses países.

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A transformação empreendida por Morgan.

Morgan era o único norte americano em quem os financistas estrangeiros confiavam. Após servir de mediador para os fluxos de capitais que sustentaram o ritmo ultra-acelerado do crescimento dos EUA, ele se transmutou em uma comissão de valores imobiliários. Era a comissão do "eu" sozinho. Também era o "Banco Central" solitário dos EUA. Foi Morgan quem estabeleceu as regras para as finanças corporativas. Também foi o primeiro a lutar pelo fim dos ganhos ilícitos é um tratamento justo para os acionistas.
Carnegie, Rockefeller, Gould e Morgan teriam sido figuras dominantes em qualquer lugar. Mas poucos lugares foram tão abertos como os EUA pós-guerra civil. Somente lá havia o culto ao inovador, uma obsessão por prosperar mesmo para pessoas comuns. Novos homens, novas ferramentas, novos produtos de consumo.

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