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Em Pauta

Se a febre ajuda a reduzir a infecção, por que baixá-la?

Mário Sérgio Lorenzetto | 28/09/2018 09:49
Se a febre ajuda a reduzir a infecção, por que baixá-la?

Quando uma criança têm febre, os pais acendem a luz do alarme. Muitos recorrem à pequena farmácia que têm em casa para lançar mão dos antitérmicos. Outros, decidem ir ao médico e ao posto de saúde. Via de regra, estão lotados de crianças febris. Conduzidas por pais que temem muito pela saúde de seus filhos. Os órgãos encarregados da saúde nada explicam e reclamam da super-lotação. São locais automatizados, não refletem, não aconselham os pais.

Todavia, a medicina clássica recomenda que, na maioria das vezes, a febre não deve ser tratada antes de 48 horas de duração. É a teoria da "febre salubre", que se pode curar com facilidade. Quem por ela advoga, acredita que o processo febril não deve ter como auxiliar o paracetamol nem o ibuprofeno.

A febre é um mecanismo do corpo contra a infecção e os partidários da febre saudável entendem que a febre pode melhorar a função imunológica do organismo, eliminar as bactérias e ajudar a efetividade dos antibióticos quando se fizerem necessários. Também argumentam que há pouca evidência de que a febre seja danosa por si mesma. Mas, essa é uma ideia, que apesar de ser baseada em alguns poucos estudos, não é de todo correta.

Se a febre ajuda a reduzir a infecção, por que baixá-la?

A febre não cura (e nem os antitérmicos).

Os antitérmicos nunca demonstraram que são capazes de reduzir o processo da enfermidade. E nem alargá-lo. Uma meta-análise de 2017, em que estudaram mais de 17.000 pacientes com septicemia - a pior de todas as infecções - observaram que os antitérmicos não diminuíram a mortalidade e, em alguns casos de pacientes com respiração regulada por máquina, chegam a aumentar a mortalidade.

Para clarear: os antitérmicos não curam doença alguma, só resolvem sintomas de mal estar, deixam o paciente mais confortável. A febre também. Ela é um dos elementos que são colocados em marcha para eliminar a infecção, mas, por si só, não elimina a bactéria.

A resposta do organismo perante uma infecção é a inflamação. A infecção é o incêndio. a inflamação é o fogo. E a febre é fumaça. Temos febre porque liberamos no sangue uma substância chamada citoquina cuja função é chamar as defesas. Uma espécie de corneteiro chamando para a guerra. Na viagem para a guerra contra a bactéria, as defesas provocam vasodilatação e o aumento da temperatura da pele, porque o sangue circula mais lentamente. Também faz com que o sistema central perca um pouco de controle e aumente a temperatura. Nem a febre mata a bactéria, nem o antitérmico cura o problema. Quando for o caso, deve ser curado com antibiótico, anti-viral ou antídoto. O mais importante é averiguar a causa do incêndio que se produz em nosso organismo.

Se a febre ajuda a reduzir a infecção, por que baixá-la?

A febre não é necessariamente ruim.

A febre se converte em um alarme sem razão e fonte de mitos de medicamentos entre os pais. Nos anos 1980, começou a "febrefobia". A urgência dos progenitores levarem seus filhos ao médico tão logo tenha início uma febre. Só em uma pequena porcentagem a febre se torna em algo urgente. Há quem pense que quando muito alta, possa afetar o sistema nervoso central. Isso só ocorre se superar 42 graus de forma constante. A febre é um sintoma que não têm importância a maior parte das vezes. Se chamam da creche ou da escola, os pais devem levar a criança para casa para que não exista o risco de infectar as outras crianças, mas ter 38,5 graus não é uma urgência para levá-lo ao hospital.

Outro mito é o das convulsões. Há crianças que a sofrem com febre alta, mas só ocorre entre 1% e 2% das crianças. É muito rara. E a maioria das vezes ocorre quando se baixa a temperatura muito rapidamente com os antitérmicos. Esse é um dos exemplos mais claros do absurdo com que manejamos os medicamentos. É compreensível que os pais tenham medo desse sintoma por desconhecerem a causa, mas a febre não é um sinal maligno, que traduza uma enfermidade mortal. Esse perigo só pode ser considerado com a determinação de um medico.

Se a febre ajuda a reduzir a infecção, por que baixá-la?

Se não passa dos 38,5 graus e não há mal estar, evitem os medicamentos.

Quando a temperatura na axila, tomada pelo termômetro, se situa entre os 37 graus e 37,5 graus se trata de uma febrícula, e pode produzir uma variação ao longo do dia entre 0,5 graus e 0,6 graus entre a manhã e a noite. Nesse caso, que ocorre na imensa maioria das vezes, não há razão para intervir com medicamentos.

À partir dos 37,5 graus se fala propriamente em febre, mas se não há outros sintomas com mal estar generalizado, dor de cabeça, muscular ou das articulações, o melhor é deixar evoluir a febre e ver como se resolve a enfermidade. Febre alta é quando chega a 38 graus nas crianças e 38,5 graus nos adultos. Há muitos casos de crianças com febrícula que continuam correndo e pulando, que não devem ser levados em consideração medicamentosa.

Em qualquer situação, há algo que nunca pode ser esquecido: o paciente deve ser manter hidratado. A forma do organismo para baixar a febre é suar. Quando a pessoa está bem abrigada, sua ainda mais. E pode desidratar-se. Não abrigar-se excessivamente, estar em um ambiente com temperatura amena e hidratar-se, são cuidados mais importantes que os antitérmicos na imensa maioria das vezes.

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