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Em Pauta

Um Brasil onde não havia beijo na boca

Mário Sérgio Lorenzetto | 21/02/2020 06:38
Um Brasil onde não havia beijo na boca

Para os "alfacinhas" - como eram chamados os portugueses - tudo era diferente no Brasil. Palavras como "vergonha" e "pudor" acabavam de entrar no dicionário, raros adotavam essa ideia. Nuas em pelo, as mulheres da Terra de Santa Cruz, com seus seios pequenos, quadris estreitos e a cabeça coroada por plumagens e suas "vergonhas" depiladas, eram o inverso das portuguesas gorduchas, e cobertas de roupas até na cabeça (usavam véus) e com muitos pelos, não só em suas "vergonhas" como até com bigodes.

Um Brasil onde não havia beijo na boca

Os seios eram os menos eróticos.

Contrariamente aos nossos dias, não havia lugar do corpo feminino menos erótico ou atrativo do que os seios. As chamadas "tetas" tinham uma só função: produzir alimento. Acreditava-se que o sangue materno cozinhava com o calor do coração, tornando-se leite. O colo alvo, o pescoço como, "torre de marfim", pouco a pouco começa a tornar-se pecaminoso. E passavam a cobri-lo. E isso até nas imagens sacras. Estátuas da Virgem Maria, antes decotadas ou até mesmo desnuda, desaparecem de oratórios e igrejas. Nossa Senhora passa a cobrir-se até o queixo.

Um Brasil onde não havia beijo na boca

O grande choque dos banhos.

O banho gozou de grande prestígio durante o Império Romano. Os banhos públicos multiplicaram-se e muitos se tornaram locais de prostituição. Os primeiros cristãos, indignados com a má frequentação, consideravam que uma mulher que fosse aos banhos poderia ser repudiada. Levaram essa demonização do banho a extremos. Homens só entravam na água - uma vez ao ano - vestidos com calções. Mulheres com um vestido fino e comprido. Enquanto nossos índios davam exemplo de higiene, banhando-se nos rios, os europeus eram perseguidos pelas leis da reforma católica e protestante que lhes interditavam nadar nus.

Um Brasil onde não havia beijo na boca

Vivendo no império do fedor.

Mas lavar o corpo, com quê? Um pedaço de sabão era caro e raríssimo. Boa parte dos divórcios deviam-se ao mau cheiro dos corpos. Impedia as relações sexuais. Há muitas acusações de mulheres contra seus maridos por "pitar tabaco de fumo", conferia a eles um "terrível hálito que se faz insuportável". E beijar na boca? Bem, sem pasta e escova de dentes, era difícil. Ninguém nem mesmo pensava em beijar na boca.

Um Brasil onde não havia beijo na boca

Sexo só no mato.

Todos os homens tinham de dormir de lado. Acreditavam que a "concentração de calor na região lombar" excitava os órgãos sexuais. E nos momentos a dois - quase sempre no meio do mato - , e não em casa, porque chave e fechadura eram artigos de luxo e não era possível fechar as portas aos olhares e ouvidos curiosos. As mulheres levantavam as saias e os homens abaixavam as calças e ceroulas. Tirar a roupa era proibido.

Um Brasil onde não havia beijo na boca

As preliminares, o agarra-agarra, acontecia no escurinho das igrejas.

Mas como o proibido aguça a vontade, a instituição que mais repreendia os afoitos, ironicamente, acabou se tornando o templo da perdição. Onde mais os solteiros poderiam se encontrar, trocar risos e galanteios e até se agarrar, sem despertar suspeitas, se não no escurinho... das igrejas?
A história ajuda a explicar um pouco de nossos exageros eróticos. O embate entre peladas e enroupadas não tem fim. A permissividade das índias que não se negavam para ninguém versus a excessiva moralidade das portuguesas que demonizavam o sexo, não surgiu com Damares ou similares, veio com a chegada dos alfacinhas.

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