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Em Pauta

Uma lição em 120 tiros

Mário Sérgio Lorenzetto | 16/06/2017 06:55
Uma lição em 120 tiros

Um marco na história da fronteira, esse o título merecido para o assassinato de Jorge Rafaat há um ano. Por mais estranho que possa parecer, a fronteira após os 120 tiros, passou a ser um território sem lei. Pior, uma região onde ocorrem com frequência assassinatos apavorantes, dignos de filmes de terror. Mas que paradoxo é esse, como pode o assassinato de traficante atear fogo em uma região razoavelmente pacífica?

Pouco se sabe sobre Rafaat. Mantinha a aparência de um homem vivendo em dois mundos: um próspero e bem relacionado comerciante e um severo e organizado narcotraficante. O que importava para os habitantes da região é que as leis de Rafaat complementavam as dos dois países. Ele vivia nos interstícios dessas normas, nas zonas cinzentas de três mundos - o brasileiro, o paraguaio e o do tráfico e contrabando. À exceção da polícia, há uma unanimidade na fronteira: nos tempos de Rafaat "essa gente" não estaria aterrorizando a cidade.

Mas, quem é "essa gente"? Indubitavelmente são pessoas estranhas à região. PCC, CV, Farc, até o extinto IRA, da distante Irlanda já apareceu em jornais como novos comandantes do narcotráfico. Ninguém sabe quem são os intrusos, aqueles diretamente responsáveis pelo clima sufocante que passaram a viver, apenas levantam hipóteses. Percebam que Rafaat, por mais estranho que possa parecer, era um que ditava as leis. Leis exclusivas das fronteiras do mundo todo, mais permissivas para os residentes, mais excludentes para os estranhos. Ninguém vive em fronteira alguma, onde exista um desequilíbrio econômico, sem entender que esse é um mundo diferente.

Mas, qual o futuro dessa região que passou a ser um mundo de terror? Seus mais antigos moradores sonham que um dos seus venha a assumir as rédeas e o comando da região. O nome que invocam como provável substituto de Jorge Rafaat é um certo "Galant". E qual a lição após os 120 tiros que ceifaram a vida de Rafaat? O tráfico de drogas, armas, cigarros e toda sorte de mercadorias é eterno, só pode ser minorado, jamais exterminado. O segundo aprendizado é que seus traficantes são cidadãos pacificadores (ainda que a ferro e fogo), os de fora são odiados e cognominados "terroristas". As fronteiras são espaços territoriais que guardam normas civilizatórias diferenciadas das demais regiões de um país. Fácil de entender, difícil de "engolir", para muitos.

Uma lição em 120 tiros

O dia em que a máfia italiana aliou-se ao exército dos EUA

Quem estudou com afinco a Segunda Guerra Mundial sabe que a invasão da Sicília pelas tropas aliadas foi um "ensaio para o Dia D". Um treino para uma ação militar maior. A "Operação Rusky", como essa invasão foi denominada, era um pleito de dois de Stálin para as tropas dos Estados Unidos e Inglaterra.

Os norte-americanos sabiam que só conseguiriam sair vitoriosos com o apoio da máfia. Foram pedir o auxílio de Salvatore Lucky Luciano, um dos mais famosos mafiosos da época. Lucky Luciano aceita os termos do acordo na mesma hora, a "Cosa Nostra", também chamada "Honrada Sociedade" vinha sofrendo ataques virulentos do ditador Mussolini. O ódio de Mussolini pela máfia decorria do fato de que um de seus "capos" havia dito a Mussolini que quem mandava na região era ele e não o ditador. Um filme que contasse esse quase desconhecido (e escondido) episódio começaria com a data e o local.

O documentário começaria apresentando a Penitenciária de Great Meadows, em Albany, no Estado de N.York. A data é um dia do outono de 1942. Em uma das celas, ocorria um encontro inimaginável: Lucky Luciano recebia a visita de um obscuro oficial da Marinha dos EUA, provavelmente um espião. O oficial pedia o auxílio do mafioso para que suas "tropas" apoiasse as anglo-americanas. O contato preparatório tinha ocorrido em uma penitenciária de segurança máxima, situada em Clinton, na fronteira do Canadá, intermediado por um advogado especializado em atender a clientela mafiosa, de nome Moisés Polakoff. Lucky Luciano foi transferido Albany onde passou a desfrutar de algumas regalias como receber visitas e sair constantemente da cadeia. O acordo foi firmado.

No dia 15 de julho de 1943, um avião joga um paraquedas contendo um lenço amarelo com a letra "L" (de Lucky Luciano) em preto na Sicilia. Era o sinal acordado. O lenço é entregue a Don Calogero Vizzini, o capo de Villalba. Este, manda a mensagem para Don Genco Russo, capo de Mussomeli. Todas as "tropas" mafiosas entram em combate com as nazistas e fascistas. Palermo, a maior cidade da Sicília, é conquistada em 48 horas pelas tropas aliadas, foi um passeio.

Com o fim da guerra na região, os mafiosos voltaram a comandar a Sicília. Dois mafiosos - Vicente Collura e Damia a - são nomeados conselheiros do quartel-general norte-americano na Sicília. No dia 22 de julho de 1943, Don Calogero Vizzini tem confirmado seu domínio completo da região. Os mafiosos assumem o controle da ilha, com acesso aos depósitos norte-americanos e usam os caminhões do exército dos EUA para reorganizar o contrabando. Lucky Luciano é libertado pela justiça dos EUA e volta para a Itália. Vive por muitos anos tranquilamente. Sua Sicília está em paz. Em janeiro de 1962, Lucky Luciano vai a Nápoles receber um produtor de cinema norte-americano, interessado em rodar um filme sobre sua vida. O mafioso estende a mão e têm um ataque cardíaco fulminante. The End. Ou não.

A máfia seguiu comandando a região. Sofreu graves ataques ao longo da história. O último, de maior importância, foi dos juízes do "Mani Pulite" que prenderam inúmeros capos. Novas lideranças e outras organizações similares assumiram o poder. A Sicília continua sendo o polo mais importante do contrabando e narcotráfico italiano.

Uma lição em 120 tiros

Os desastres humanitários não são catastróficos para todos

Grandes fabricantes de móveis, vendedores de cartões de débito, escritórios de auditoria, assim que um desastre é anunciado, empresas correm em direção a uma "indústria da ajuda", cujo volume anual é estimado em 25 bilhões de euros. Já existe até "Feiras dos Desastres".

Como em todos os salões internacionais de empresários, os estandes estão cobertos de cartazes com cores vivas, fotografias atraentes e recepcionistas bem vestidas. Homens elegantes de terno trocam seus cartões de visita. Em um estande, oferecem barracas e helicópteros. Em outro, equipamentos militares, mas a feira é do mercado humanitário.

Ela foi organizada em paralelo à primeira Cúpula Humanitária Mundial da ONU, no ano passado, em Istambul. Reuniu com forte publicidade mais de 600 expositores do mundo inteiro. Ela testemunha uma evolução assumida pelas organizações internacionais encarregadas de ajuda humanitária: a associação cada vez mais estreita com os interesses de empresas privadas. Vendedores de drones, lâmpadas fotovoltaicas e kits alimentares disputavam espaço com estandes da MasterCard. Grandes escritórios de auditoria como Accenture e Deloitte com a empresa de serviço hoteleiro TripAdvisor. Esse é hoje um enorme setor da economia mundial. Há dinheiro a ganhar e uma nova eficácia a provar.

O mais visível entre as centenas de expositores era um estande que mostrava uma barraca para refugiados contendo um falso equipamento para fazer chá e a reprodução fotográfica em tamanho natural de uma família síria. O estande era da Acnur - Alto Comissariado da ONU para Refugiados e a barraca era da célebre marca de móveis sueca Ikea, que promovia seus produtos específicos para refugiados: barracas pouco transparentes, "para preservar melhor a dignidade dos refugiados", podem fechar as portas e janelas, há isolamento quando desejem. "O modelo é mais sólido"... assinaram um contrato inicial com a Acnur de 30 mil barracas por um montante de 35 milhões de euros.

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