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Dourados 80 Anos

Prefeito fechou praça, mas garotos derrubavam cerca para jogar bola

Filha de Carvalinho, Neusa Amaral ficava brava quando falavam mal do pai e ela própria critica até hoje outro ex-prefeito que tentou derrubar figueiras históricas

Helio de Freitas, de Dourados | 05/12/2015 07:38
Prefeito fechou praça, mas garotos derrubavam cerca para jogar bola
Neusa Amaral, filha do prefeito Carvalinho; “achava que meu pai era praticamente perfeito” (Foto: Chico Leite/Divulgação)
Neusa Amaral, filha do prefeito Carvalinho; “achava que meu pai era praticamente perfeito” (Foto: Chico Leite/Divulgação)

Impossível imaginar a Praça Antonio João, bem no centro de Dourados, cidade que no dia 20 deste mês completa 80 anos de emancipação, fechada por cerca de arame. Pois teve prefeito que tentou fazer isso. Foi no fim da década de 1940, quando a cidade, então com pouco mais de 15 anos de fundação, era administrada por Antonio de Carvalho, o Carvalinho, primeiro prefeito eleito de Dourados. Antes, o município teve quatro administradores, todos nomeados.

Neuza Carvalho do Amaral, 87, filha de Carvalinho, conta que o pai prefeito, na tentativa de preservar a praça, teve a ideia de fechar o local. Só que era trabalho perdido. A prefeitura fechava durante o dia e à noite os jovens derrubavam a cerca, para jogar futebol.

“Durante o dia os pedreiros faziam o serviço, trabalhavam com muito sacrifício, a prefeitura era muito pobre. À noite os moleques, os jovens e provavelmente havia algum senhor também, derrubavam tudo que era feito durante o dia. Isso tudo para poder jogar futebol”, conta a ex-professora, viúva do professor Celso Muller do Amaral.

Usina e críticas – Neuza se recorda bem de outro fato marcado na história de Dourados – a instalação da usina de luz Filinto Muller, que hoje é chamada de “Usina Velha” e mesmo em ruínas faz parte da paisagem da cidade. Segundo ela, na inauguração, em 1949, o governador Arnaldo Estevão de Figueiredo, fez um discurso atacando a prefeitura durante a inauguração.

“Não foi muito agradável para mim porque eu achava que meu pai [prefeito à época] era praticamente perfeito”.

Antonio de Carvalho nasceu na Paraíba e chegou à região trabalhando no projeto Rondon. Ele fazia a linha telegráfica. Em Dourados, conheceu a mãe de Neuza, Gasparina, com quem se casou e teve a única filha.

Carvalinho trabalhou também no SPI (Serviço de Proteção aos Índios), órgão do governo militar que antecedeu a Funai. Segundo a filha, Carvalinho pediu demissão para não ser transferido para um cargo superior, em outra cidade. “Foi difícil, porque vivíamos daquilo, daquela renda. Logo ele se meteu na política e aí gastou mais”, conta Neuza.

Neuza disse que Carvalinho era chamado por muitos de pai dos pobres: “Meu pai, modéstia à parte, era muito bom, muito caridoso, sempre ajudava muito os outros. Era muito humano”. Como carpinteiro, ajudou a consertar escolas e pontes.

Figueiras da discórdia – Neuza Amaral tem na memória as lembranças da Avenida Marcelino Pires sem asfalto, onde corria em dias de chuva quando criança “com a água batendo no rosto”. Lembra também da Marcelino com frondosas figueiras, que ainda existem em outras ruas da cidade, como a Avenida Presidente Vargas e a Rua João Cândido Câmara.

Segundo ela, as árvores da Marcelino foram retiradas quando o prefeito era João Totó Câmara (morto em 2012), que decidiu substituir as figueiras por palmeiras, mas a espécie não prosperou por causa do clima e a principal avenida da cidade ficou sem árvores.

Quando tentou tirar as figueiras da Rua João Cândido da Câmara, Neuza diz que até a mãe do então prefeito se revoltou com ele e ficou na frente das máquinas não deixar arrancar as árvores. A decisão de Totó também enfrentou resistência de Wlademiro do Amaral, então dono do jornal O Progresso. Nesses dois locais as figueiras permanecem até hoje.

“Tenho saudades, tenho muita lembrança, muita coisa boa. Então me emociono muito quando vejo pessoas antigas ou mesmo jovens que são filhos de pessoas antigas. Sou orgulhosa de ser douradense”.

Praça Antonio João, no centro de Dourados; no fim da década de 1940 espaço era usado para jogo de futebol (Foto: Divulgação)
Praça Antonio João, no centro de Dourados; no fim da década de 1940 espaço era usado para jogo de futebol (Foto: Divulgação)
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