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Economia

Antes de anúncio oficial, trabalhador já sonha com dinheiro do FGTS

Quase ninguém pensa em poupar e planos vão de pagar contas à gastar com viagem

Anahi Zurutuza e Fernanda Palheta | 24/07/2019 11:24
Movimentação em agência da Caixa Econômica no Centro; saques poderão ser feitos pelo banco estatal (Foto: Marina Pacheco)
Movimentação em agência da Caixa Econômica no Centro; saques poderão ser feitos pelo banco estatal (Foto: Marina Pacheco)

Só de saber que o governo pretende liberar o FGTS (Fundo de Garantia por Tempo de Serviço), o trabalhador já sonha com o dinheiro extra. Quase ninguém pensa em poupar e os planos vão de pagar dívidas a comprar o enxoval do bebê que está por vir.

O anúncio oficial sobre como vai funcionar a liberação do recurso deve ser feito hoje à tarde. Mas, conforme apurou a imprensa nacional com a equipe econômica do Planalto, a ideia é autorizar que trabalhadores saquem até R$ 500 de cada conta do FGTS – inativas (empregos passados) e ativas (contratações atuais) – neste ano, e instituir programa de saque anual a partir de 2020.

A técnica de enfermagem Juliana Olmedo, de 31 anos, sacou cerca de R$ 600 quando o Executivo federal, na gestão de Michel Temer (MDB), liberou as contas inativas do FGTS em 2017 e pretende fazer novo saque. “Usei para pagar contas e neste ano, vou sacar de novo porque continuo tendo dívidas para quitar”.

Anderson Miranda de Araújo tem 40 anos e trabalha como motorista de aplicativo. Ele também se lembra que usou o dinheiro do FGTS há dois anos para antecipar contas que tinha para pagar e quer tirar o que puder do fundo novamente. “Só que desta vez vou guardar para viajar”.

Técnica de enfermagem, Juliana Olmedo diz que precisa do dinheiro para pagar contas (Foto: Marina Pacheco)
Técnica de enfermagem, Juliana Olmedo diz que precisa do dinheiro para pagar contas (Foto: Marina Pacheco)
Daividson quer sacar FGTS para comprar o enxoval da filha que nasce em novembro (Foto: Marina Pacheco)
Daividson quer sacar FGTS para comprar o enxoval da filha que nasce em novembro (Foto: Marina Pacheco)

O analista de sistemas Daniel Vasconcelos, de 50 anos, não fez o saque em 2017, mas não se arrependeu. Agora, ele diz que torce para que o dinheiro extra o ajude a reformar sua casa. Já o frentista Davidson Quadros Ferraz de Araujo, de 25 anos, quer comprar o enxoval da filha que vai nascer em novembro.

Dentre os entrevistados do Campo Grande News, só duas trabalhadores falaram em poupar, a esteticista Alessandra Costa Moreira Vasconcelos, 39, e a cozinheira Rosimari Rodrigues dos Santos, que tem a mesma idade.

Trabalhando como autônoma agora, a esteticista foi funcionária dos Correios e conseguiu sacar R$ 15 mil há dois anos. “Eu dei entrada no meu carro e já até estou com outro. Desta vez, vou deixar o dinheiro onde está. É uma garantia para o futuro”.

A cozinheira Rosimari Rodrigues, de 39 anos, prefere guardar (Foto: Marina Pacheco)
A cozinheira Rosimari Rodrigues, de 39 anos, prefere guardar (Foto: Marina Pacheco)

A cozinheira também teme ficar com uma mão na frente e outra atrás numa possível demissão. “Melhor não gastar com bobeira”.

Palavra de especialista – O economista Thales de Souza Campos faz alerta para quem está sonhando com a grana extra. O dinheiro do FGTS só será bem-vindo se for usado para “quitar dívida incontrolável” e evitar que o trabalhador se afunde mais na areia movediça dos juros ou para quem está no azul, mas pretende fazer aplicação mais rentável que a poupança.

“Tirar para por poupança é pior, porque paga menos”, explica. A poupança rende 3% ao ano, o mesmo que o dinheiro descontado do trabalhador rende no fundo, mas no caso de uma demissão, por exemplo, o empregador paga multa de 40% de multa sobre o saldo do FGTS.

Campos comenta que o imediatismo é característica do brasileiro e que a liberação do dinheiro recolhido obrigatoriamente pelo trabalhador é uma medida emergencial para alavancar a economia, mas temerosa. “O País está passando por um processo econômico, principalmente pelas questões ideológicas, um processo populista, e liberação esporádica do FGTS é uma forma de movimentar a economia, mas fazer disso um plano de Estado é o problema. O grande problema do Brasil é que falta educação financeira, principalmente no quesito de poupar, o brasileiro não tem esse hábito”.

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