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Economia

Com recursos se esgotando, mercado imobiliário está "no limite"

Setor teve um ensaio de melhora, mas agora corre risco novamente, afirmam corretores

Osvaldo Júnior | 29/07/2017 10:52
Casa à venda em Campo Grande; aquecimento do mercado imobiliário pode ser pontual (Foto: Graziella  Almeida)
Casa à venda em Campo Grande; aquecimento do mercado imobiliário pode ser pontual (Foto: Graziella Almeida)

Quando ensaiava reação, o mercado imobiliário começa a dar sinais de que pode estar perto de seu limite. Na avaliação de corretores, as vendas estão melhores neste ano que em 2016, considerado pelo setor “catastrófico”. No entanto, o curto aquecimento se sustenta, em parte, no impulso pontual dos saques das contas inativas do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço) e na chamada linha pró-cotista, suspensa há um mês e que deve ser retomada apenas no próximo ano.

“De cada dez compradores dos últimos meses, oito tinham sacado o dinheiro retido do FGTS”, estimou o corretor Carlos Renato de Oliveira. Em Mato Grosso do Sul, foram pagos R$ 561,4 milhões de valores das contas inativas do Fundo de 10 de março a 19 de julho. Parte desse dinheiro proporcionou novo fôlego ao mercado imobiliário, mas o estoque de ar está se esgotando – os saques findam na próxima segunda-feira.

Outra possibilidade de uso de recursos do FGTS é a chamada linha pró-cotista, que financia, em condições especiais, imóveis com valor entre R$ 180 mil e R$ 800 mil a trabalhadores com mais de três anos de contribuição ao Fundo. É o crédito mais barato, depois do programa MCMV (Minha Casa Minha Vida). No entanto, está suspenso, por esgotamento de recursos da Caixa Econômica Federal, e a possibilidade é que seja retomado apenas em 2018.

Além do uso do FGTS, a poupança é outra opção de recurso para quem planeja comprar a casa própria. Conforme a Abecip (Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança), o financiamento de imóveis, com dinheiro dessa modalidade de investimento, somou R$ 271,26 milhões em Mato Grosso do Sul no primeiro semestre.

O valor é 5,85% maior que o acumulado em igual período do ano passado. Entretanto, a quantidade de imóveis financiados foi menor (o que indica alta do valor médio): de 1.266 caiu para 961, retração de 24%.

Além disso, considerando apenas o mês de junho, houve queda acentuada tanto em volume quanto em valores. No mês passado, foram financiados, com uso de dinheiro da poupança, 177 imóveis no Estado, no valor total de R$ 36,99 milhões. Esses números correspondem a variações respectivas de -45% e de -44% na comparação com igual mês de 2016, quando foram vendidas 177 unidades pelo total de R$ 67,04 milhões.

A retração do financiamento habitacional com uso de dinheiro da poupança tende a continuar em queda, uma vez que esse tipo de investimento tem atraído menos clientes.

Os mais baratos – Com alternativas encolhendo, os corretores intensificam as apostas em moradias mais baratas, contempladas pelo MCMV, cujo teto, em Mato Grosso do Sul, é de R$ 180 mil. “Estou com cerca de 40 casas com valor de R$ 115 mil a R$ 120 mil”, contou o corretor Carlos Renato, que está há quatro anos no mercado imobiliário.

De acordo com ele, as vendas de imóveis nessa faixa de valor têm crescido em relação ao desempenho de 2016. Ele tem vendido entre quatro a seis casas por mês. “No ano passado, fechei com média mensal de 2,3 imóveis”, comparou.

Proprietário oferece "incentivos" a quem comprar os equipamentos de padaria fechada e alugar o local (Foto: Marta Ferreira)
Proprietário oferece "incentivos" a quem comprar os equipamentos de padaria fechada e alugar o local (Foto: Marta Ferreira)

Adaptando-se – A reação do mercado de imóveis mais baratos não indica, necessariamente, melhoras do cenário econômico. Há, como nota o corretor, adaptação dos vendedores aos humores da economia. “Por exemplo, os custos com documentação no cartório e na prefeitura, que antes ficavam por conta do comprador, estão sendo, pagos, atualmente, por quem vende o imóvel”, ilustrou.

Carlos Renato acrescentou que os donos de imóveis também estão facilitando na entrada. “É comum as pessoas darem motos como entrada. Antes davam dinheiro mesmo”, disse.

No aguardo – A facilitação da compra nem sempre dá resultado. Nivaldo Eduardo da Silva, que também trabalha como corretor, que o diga. Ele tem um prédio comercial, onde funcionava uma padaria. A intenção é alugar o local e vender os equipamentos, o que ele espera fazer há quase dois anos.

“Já reduzi o preço dos equipamentos, que está com valor muito abaixo ao de mercado. Para quem quiser comprar as máquinas e alugar o prédio, estou oferecendo redução do aluguel por um ano. Mesmo assim, está difícil encontrar comprador”, contou.

Nivaldo também tem um terreno que tenta vender tem mais de ano. “Essa paradeira me deixa assustado”, disse.

Mercado de trabalho da construção civil continua desaquecido (Foto: Arquivo)
Mercado de trabalho da construção civil continua desaquecido (Foto: Arquivo)

Baixo crescimento  – O ensaio de reaquecimento do mercado imobiliário se esbarra em estatísticas, que mostram que o setor ainda sofre, fortemente, os impactos da economia adversa.

O comportamento do mercado de trabalho indica que o ritmo das construções não tem avançado. De acordo com o Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) do MTE (Ministério do Trabalho e Emprego), foram fechados, neste ano, 306 empregos formais da construção civil.

Outro dado, do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) mostra que o rendimento dos trabalhadores da construção estão estagnados. O custo da mão de obra por metro quadrado foi, em junho, de R$ 447,62 em Mato Grosso do Sul, igual valor do mesmo mês de 2016. Em 2010, no auge do mercado imobiliário, a renda do trabalhador disparou em 123%.

Já o custo para construir apresentou ligeira alta de 0,81%, de R$ 1.018,45 em junho de 2016 para R$ 1.026,75 em igual período deste ano. Em 2010, o avanço havia sido de 10,4%.

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