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Economia

Criptos disparam no mundo, mas Brasil retira milhões de fundos

Sandro Maciel | 06/05/2025 17:11

Os fundos de investimento em ativos digitais surpreenderam novamente o mercado. Na semana que terminou no dia 25 de abril, as entradas líquidas somaram $3,4 bilhões de dólares, o maior volume desde meados de dezembro de 2024 e o terceiro maior já registrado pela CoinShares.

Desse total, os ETFs de Bitcoin responderam por $3,18 bilhões de dólares, enquanto produtos de Ethereum viram $183 milhões de dólares ingressarem após oito semanas de saídas. O XRP ($31,6 milhões), o Sui ($20,7 milhões), as cestas multiativos ($2,4 milhões) e até as posições vendidas em Bitcoin ($1,6 milhões) captaram recursos.

Quem ficou de fora desse fluxo foi o Brasil. Mesmo com muitas opções de criptomoedas mais baratas, o país pegou na contramão da tendência mundial.

Estados Unidos puxam, Europa acompanha e Brasil nada contra a corrente

A procura esteve concentrada nos Estados Unidos, que absorveram $3,3 bilhões de dólares, algo que foi interpretado pelos analistas como busca de “porto seguro” diante da escalada tarifária entre Washington e Pequim. A Alemanha ($51,5 milhões) e a Suíça ($41,4 milhões) apareceram na sequência.

Seguidas por Austrália, Suécia e Hong Kong, todas em terreno positivo. Mas, enquanto o fluxo crescia no mundo, o Brasil registrou saída líquida de cerca de $600 mil dólares, cerca de R$3,4 milhões de reais, na mesma semana, primeira retração após dois períodos de ingresso, segundo dados da CoinShares.

Apesar disso, o país manteve um saldo positivo de $2,1 milhões de dólares no acumulado de abril e continua na sexta posição mundial em ativos sob gestão, com aproximadamente $1,3 bilhão de dólares. Especialistas apontam alguns fatores para a realização de lucros. A volatilidade do câmbio é o principal.

Mas também os ajustes táticos depois do lançamento de novos ETFs, como o FOMO11, e a expectativa de regulamentação mais firme do Banco Central são importantes. Além disso, o Projeto de Lei 4.401/21, que cria um marco regulatório para o setor, foi aprovado no fim do ano passado e segue em fase de implementação. O texto reforça exigências de compliance e poderá influir no apetite institucional por cripto.

Bitcoin lidera, mas investidores buscam alternativas acessíveis

O predomínio do Bitcoin não impediu que investidores olhassem para ativos de menor capitalização, em especial com os preços elevados do BTC. Na semana analisada, tokens como o Sui e o XRP confirmaram isso ao captar, juntos, mais de $52 milhões de dólares em aportes globais.

Segundo o Global Financial Stability Report do FMI, a combinação de juros altos, inflação teimosa e choques comerciais aumenta a volatilidade dos “refúgios tradicionais” e reforça o apelo de instrumentos alternativos, categoria na qual os criptoativos vêm sendo, com cautela, incluídos por parte do mercado.

A captação recorde passou também pela “febre” dos ETFs spot. Só o iShares Bitcoin Trust absorveu $1,44 bilhão de dólares na semana, seguido pelo ARK 21Shares Bitcoin ETF ($621 milhões) e pelo Fidelity Wise Origin Bitcoin ($573 milhões). No Brasil, a B3 teve um aumento de volume nos produtos atrelados a BTC e ETH, ainda que modesto diante dos pares americanos.

Parte disso é atribuída à arbitragem tributária, já que gestores locais preferem captar lá fora e rebalancear a parcela em reais conforme o câmbio oscila.

O papel dos reguladores e perspectivas para o investidor brasileiro

Enquanto o Congresso discute ajustes na lei e a CVM aperfeiçoa regras de custódia, a Receita Federal continua exigindo a declaração de criptoativos acima de R$5 mil, orientação que não para de ser reforçada a cada ano. O aumento da fiscalização ajuda a explicar por que grandes instituições, como bancos tradicionais e gestoras de previdência, só agora começam a montar posições maiores em ETFs de cripto.

Esse cuidado também se vê na retórica dos formuladores de política no mundo. O FMI alerta que o rápido crescimento de ativos digitais exige salvaguardas robustas para evitar efeitos de contágio em economias emergentes. Mas apesar da retirada pontual, o Brasil segue sendo importante no ranking de patrimônio em cripto.

O país tende a se beneficiar de avanços regulatórios que tragam previsibilidade ao setor. Fundos internacionais mostram que o apetite global permanece vivo sempre que o cenário macro pressiona outros ativos.

Se o diferencial de risco compensar e a regulamentação nacional entregar segurança jurídica, a tendência é que parte dos recursos que hoje “pingam” lá fora volte a mirar o mercado doméstico, ainda que em ondas, como ficou claro nesta temporada de altos e baixos.

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