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Economia

Declaração de Bonito defende tecnologia para alimentar 10 bilhões em 2050

Carta assinada por ministros da Agricultura de 5 países aponta ciência e inovação como necessárias para atender demanda mundial

Humberto Marques e Silvia Frias, enviada especial a Bonito | 26/09/2019 17:38
Da esquerda para a direita: Bimbadhan Pradhan (Índia), Tereza Cristina (Brasil), Sergey Levin (Rússia), Taolin Zhang (China) e Mcebisi Skwatscha (África do Sul), durante assinatura da Declaração de Bonito. (Foto: Paulo Francis)
Da esquerda para a direita: Bimbadhan Pradhan (Índia), Tereza Cristina (Brasil), Sergey Levin (Rússia), Taolin Zhang (China) e Mcebisi Skwatscha (África do Sul), durante assinatura da Declaração de Bonito. (Foto: Paulo Francis)

Representantes dos Ministérios da Agricultura dos países do Brics –Brasil, Rússia Índia, China e África do Sul– assinaram na tarde desta quinta-feira (26) a Declaração de Bonito, carta que define linhas gerais de atuação do grupo na agropecuária para que, até 2050, eles tenham condições de fornecer alimentos para uma população mundial estimada em 9,8 bilhões de pessoas.

As linhas gerais da iniciativa foram anunciadas há pouco, em entrevista coletiva em Bonito –a 257 km de Campo Grande–, no encerramento de um encontro de dois dias para delimitar políticas compartilhadas para uma agropecuária sustentável. A Declaração, assinada perante os jornalistas que cobriram o evento, tem 27 pontos, mas os principais orbitam a tese de investimentos em inovação tecnológica e produção científica para desenvolver a agricultura.

O plano de longo prazo tem em vista tanto uma demanda crescente: os quase 10 bilhões de habitantes em 2050 exigirão uma demanda global de alimentos que, comparada com hoje, será 40% maior. A necessidade de água também crescerá 35%, estimam os representantes dos países. Os Brics, que hoje têm 40% da população global e 27% do PIB (Produto Interno Bruto) do planeta, enxergam-se como celeiro para atendimento dessas demandas.

Impressões – Para tanto, porém, avanços tecnológicos obtidos por meio da pesquisa são considerados fundamentais. “Foi literalmente um caminho muito longo, mas importante porque conseguimos realizar um trabalho árduo e elaborar um documento importante, que vai guiar nosso trabalho para o futuro”, afirmou Sergey Levin, vice-ministro da Agricultura da Rússia.

Zhang (ao centro) defende proatividade dos países do Brics na questão alimentar mundial. (Foto: Paulo Francis)
Zhang (ao centro) defende proatividade dos países do Brics na questão alimentar mundial. (Foto: Paulo Francis)

Ele lembrou que o documento –que não é impositivo, mas reconhece o interesse do Brics nas áreas previstas– aborda áreas de cooperação importante para os cinco países. “Estamos seguros de que faremos todo o possível para organizar outros encontros do setor de Agricultura e continuar fomentando o setor”.

Bimbadhan Pradhan, vice-ministro da Agricultura da Índia, avaliou que os dois últimos dias, em Bonito, “vão entrar para a história do Brics”, diante do papel a ser exercido pelos países no setor. “A agricultura é um pilar fundamental para nós”, prosseguiu, exaltando ainda os esforços para que todos os agentes produzam conhecimento e pesquisa.

“Os pontos importantes a serem tratados são acelerar o crescimento da agricultura e aprimorar a segurança alimentar por meio de práticas sustentáveis e socialmente inclusivas”, pontuou Pradhan. Ele ainda advertiu que tais investimentos devem considerar os efeitos das mudanças climáticas, que têm potencial de influenciar a produção econômica mundial.

Para o vice-ministro da Agricultura da China, Taolin Zhang, o Brics deve chamar para si a responsabilidade de alimentar o mundo, “pois tem recursos abundantes e biodiversidade ampla”. “O governo chinês está fazendo esforços para fazer a cooperação entre os países e o futuro, a partir da Declaração de Bonito, é promover a abertura do compartilhamento das inovações”. Atualmente a principal potência econômica entre os países do grupo, a China também responde pela maior população no mundo (seguida pela Índia).

Tereza Cristina, em assinatura da Declaração de Bonito, defendeu a importância da tecnologia para atender a demanda mundial de alimentos. (Foto: Paulo Francis)
Tereza Cristina, em assinatura da Declaração de Bonito, defendeu a importância da tecnologia para atender a demanda mundial de alimentos. (Foto: Paulo Francis)

Aprendizado – Mcebisi Skwatscha, vice-ministro da Agricultura da África do Sul –último a integrar o grupo–, lembrou que, há 25 anos, seu país enfrentava um período de isolamento mundial (embora não tenha citado textualmente, ele se referiu ao apartheid, política segregacionista que oprimiu a maioria negra em favor de cerca de 5% da população branca). “Fazer parte desse processo de mudança por um mundo melhor, por uma política de sustentabilidade, é muito importante para nós. A agricultura é uma área chave para uma nação saudável”.

Skwatscha disse que os sul-africanos enfrentam desafios sérios, que englobam um processo de reforma agrária que garanta a distribuição de terras entre a população, e que terá impacto no seu papel nos Brics. “A terra é uma questão crucial para o avanço da agricultura. Não iremos oferecer terra apenas para quem não tem, mas para instituir a segurança alimentar”. A ideia é atuar em frentes como desigualdade, desemprego e pobreza. “Temos muito o que aprender com os países aqui”.

Já a ministra Tereza Cristina destacou que o processo tecnológico passa por estudos em biotecnologia e incentivo às startups, melhorando o processo de inovação desses países. “Trata-se de uma questão fundamental. Sabemos da importância de se alimentar uma população de 9,8 bilhões de pessoas”, afirmou.

A ministra da Agricultura brasileira destacou que toda a discussão teve a ciência como foco. “A base científica é o que dará o tom no comércio entre nós”, frisou, destacando ainda a necessidade de avanços em questões sanitárias “de forma a falarmos a mesma língua”.

O encontro dos ministros da Agricultura em Bonito, encerrado nesta quinta, é uma prévia para a reunião da cúpula dos Brics, marcada para novembro em Brasília e que deve trazer ao país o alto-escalão dos quatro países.

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