ACOMPANHE-NOS     Campo Grande News no Facebook Campo Grande News no X Campo Grande News no Instagram Campo Grande News no TikTok Campo Grande News no Youtube
AGOSTO, QUINTA  21    CAMPO GRANDE 33º

Economia

Dívidas do agro em MS somam R$ 1,2 bi e recuperações judiciais dobraram em 2025

De janeiro a março, foram 25 pedidos de recuperação judicial contra 14 no mesmo período do ano passado

Por Viviane Monteiro, de Brasília | 21/08/2025 14:25
Dívidas do agro em MS somam R$ 1,2 bi e recuperações judiciais dobraram em 2025
Cultivo de soja amarelado em lavoura de MS (Foto: Divulgação/Semadesc)

Os produtores rurais de Mato Grosso do Sul iniciaram 2025 no vermelho, carregando dívidas de R$ 1,235 bilhão do último trimestre do ano passado. Nesse cenário, praticamente dobraram os pedidos de recuperação judicial, segundo dados da Serasa Experian, aos quais Campo Grande News teve acesso.

RESUMO

Nossa ferramenta de IA resume a notícia para você!

Os produtores rurais de Mato Grosso do Sul enfrentam uma crise financeira em 2025, com pedidos de recuperação judicial praticamente dobrando em relação ao ano anterior. Dados da Serasa Experian revelam que 25 solicitações foram protocoladas no primeiro trimestre, contra 14 em 2024. A dívida do setor agropecuário no estado atingiu R$ 1,235 bilhão, impulsionada por safras frustradas, custos elevados de fertilizantes e taxas de juros altas. A inadimplência no estado ficou em 7,1%, abaixo da média nacional e regional. Especialistas apontam que a combinação de fatores econômicos e climáticos tem pressionado o caixa dos agricultores, dificultando a rolagem de dívidas e reduzindo as margens de lucro. Instituições financeiras, como o Banco do Brasil, também registram impactos, com queda de 60% no lucro líquido no segundo trimestre. A Famasul destaca que a escassez de chuvas e a guerra na Ucrânia agravaram os custos, mas ressalta que a inadimplência no crédito rural regulado permanece baixa, em 0,9%.

Os dados mostram que cada vez mais, agricultores recorrem às recuperações judiciais diante da combinação de safras frustradas por crises climáticas, aumento nos custos de fertilizantes e manutenção da taxa básica de juros, a Selic, em patamar elevado, conforme apontam especialistas do setor.

De janeiro a março, foram 25 pedidos de recuperação judicial protocolados por produtores rurais de Mato Grosso do Sul, contra 14 no mesmo período de 2024. Do total deste ano, nove vieram de produtores pessoa jurídica (PJ), 12 de agricultores pessoa física (PF) e quatro de empresas ligadas à cadeia do agronegócio. No ano passado, foram 10 solicitações de PJs, três de PFs e apenas uma de empresa do setor.

Segundo o Boletim Agro Serasa Experian, a dívida dos agricultores sul-mato-grossenses cresceu 74,6% no último trimestre de 2024, alcançando R$ 1,235 bilhão. O relatório mostra que o aumento de dívidas negativadas se espalhou pela maioria dos estados, com destaque para as regiões Centro-Oeste, Sudeste e Sul. No Centro-Oeste, os produtores lideraram em CPFs negativados, somando dívidas que totalizam R$ 10 bilhões. Mato Grosso puxou a lista, com R$ 4,268 bilhões, seguido de Goiás, com R$ 3,195 bilhões.

Inadimplência - A inadimplência no agronegócio de Mato Grosso do Sul – considerando atrasos acima de 180 dias – atingiu 7,1%, abaixo da média nacional (7,6%) e da média regional do Centro-Oeste (7,9%). O estado registrou a menor taxa da região.

Para o responsável pela área de agronegócio da Serasa Experian, Marcelo Pimenta, o aumento dos pedidos de recuperação judicial reflete “um momento financeiro mais desafiador influenciado por oscilações nos preços das commodities e por uma oferta de crédito mais criteriosa”. Segundo ele, “muitos produtores enfrentam custos altos, prazos longos para receber, maior exigência de garantias e dificuldades na rolagem de dívidas, fatores que pressionam o caixa e reduzem as margens para manobras”.

Pimenta frisa que é importante destacar que aberturas por unidades federativas em trimestres possuem quantidades relativamente pequenas e qualquer oscilação pequena nos números parece enorme. "Notamos também que a maior parte do aumento de MS se deveu a recuperações de Pessoa Física, que é um instrumento relativamente novo que tem apresentado crescimentos de forma mais acentuada”, explicou.

A crise também impacta instituições financeiras. O Banco do Brasil, principal agente de fomento do agronegócio, registrou queda de 60% no lucro líquido do segundo trimestre deste ano. Foram R$ 12,73 bilhões em atrasos acima de 90 dias, sendo 52% das dívidas provenientes de produtores do Sul e do Centro-Oeste.

Sem citar especificamente os débitos de Mato Grosso do Sul, o banco afirmou, por meio de sua assessoria de imprensa, que “o aumento da inadimplência no crédito agro não é fruto de um único fator, mas de uma combinação de elementos econômicos, financeiros e climáticos, como elevação do endividamento, redução das margens das principais culturas e eventos climáticos”. A instituição ressaltou ainda que “o BB possui 96,5% de adimplência no Agro. A imensa maioria dos clientes do BB está adimplente”.

Renegociação de débitos - O Banco do Brasil informou ainda que mantém abertas soluções permanentes para a prorrogação de dívidas rurais, abrangendo todos os segmentos e atividades agropecuárias. Os casos, segundo a instituição, são analisados individualmente, com ajustes de parcelas conforme o fluxo de caixa e o recebimento dos produtores, seguindo os critérios do Manual do Crédito Rural.

A Famasul (Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul) reconhece as dificuldades enfrentadas pelos produtores do estado. De acordo com a entidade, a escassez de chuvas em momentos cruciais das lavouras “afetou fortemente” a produtividade nas últimas três safras. A guerra entre Rússia e Ucrânia, desde 2022, também elevou os custos de insumos e fertilizantes. Além disso, a alta da Selic encareceu o crédito rural. “Juntos, esses três fatores têm grande influência no aumento de inadimplência no setor do agro”, afirmou a federação.

Ainda assim, a Famasul ressalta dados do Banco Central que mostram a inadimplência nacional do crédito rural regulado em média de 0,9%, com redução de 4,58% nos últimos dez anos. Já no crédito com taxas de mercado, a inadimplência subiu para 6,2%.