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Economia

Gafanhotos da Argentina não ameaçam MS, afirma doutor em entomologia

Pesquisador da Embrapa diz que proliferação do inseto está ligada a calor e clima seco e não vê chance de nuvem chegar ao Estado

Helio de Freitas, de Dourados | 30/06/2020 16:43
Lavoura de milho em Dourados; pesquisador da Embrapa descarta risco de gafanhotos chegarem a MS (Foto: Helio de Freitas)
Lavoura de milho em Dourados; pesquisador da Embrapa descarta risco de gafanhotos chegarem a MS (Foto: Helio de Freitas)

A nuvem de gafanhotos que está acabando com pastagens e lavouras na Argentina e se aproximou da fronteira com o Rio Grande do Sul não deve ser motivo de preocupação para os agricultores sul-mato-grossenses. Apesar de existir registro da presença da praga no Paraguai, as chances de o inseto chegar a Mato Grosso do Sul são remotas.

A afirmação é do engenheiro agrônomo Crébio José Ávila, com mestrado, doutorado e pós-doutorado em Entomologia e há 31 anos pesquisador da Embrapa Agropecuária Oeste, em Dourados.

Em entrevista ao Campo Grande News, Crébio Ávila afirmou que o deslocamento da nuvem está ligado a condições climáticas, já que o inseto gosta de clima seco e alta temperatura. “Lógico que isso é fruto também do desequilíbrio biológico, pois seus inimigos naturais não estão operando no sistema, o que leva a essa população altíssima de gafanhotos”, explicou.

Segundo ele, tradicionalmente as nuvens dessa espécie de gafanhotos (de nome científico Schistocerca cancellata) aparecem na Argentina e no Paraguai, sem registro histórico de presença do inseto em Mato Grosso do Sul. “Já ocorreu na Argentina e no Paraguai em 1997 e 1999. Agora, em 2020, teve outro surto lá”.

O pesquisador afirma que esse gafanhoto tem grande poder de destruição, porque come de tudo. “Ele come tudo o que encontra pela frente, seja verde ou mesmo seco. Pode estragar arroz, algodão, soja, milho, o que tiver pela frente”. Crébio Ávila afirma que se a nuvem de gafanhotos entrar pela região Sul do país, a principal cultura afetada pela praga seriam as pastagens.

“Tinha uma previsão de chegar ao Rio Grande do Sul e chegou a 130 km do Brasil, perto do Uruguai. Havia uma chance de chegar ao RS, mas com as baixas temperaturas e os ventos, essa nuvem está sendo desviada para o Sul do Continente, para o Uruguai”, avaliou.

No fim de semana, a nuvem foi rastreada nos arredores de Curuzú Cuatiá, cidade argentina que fica a 110 km de Uruguaiana (RS). A região onde os gafanhotos estão fica distante pelo menos 850 km de Mato Grosso do Sul em linha reta.

Ilustração mostra região na província de Corrientes onde está a nuvem de gafanhotos (Arte: Thiago Mendes)
Ilustração mostra região na província de Corrientes onde está a nuvem de gafanhotos (Arte: Thiago Mendes)

O pesquisador disse que a Argentina tem feito o controle da nuvem de gafanhoto através da pulverização de inseticidas com avião, o que reduziu bem a população do inseto em Corrientes, província argentina encravada entre o Paraguai e o Brasil.

“Provavelmente não há chance de chegar ao Rio Grande do Sul e, em minha opinião, muito menos ainda de chegar a Mato Grosso do Sul. A probabilidade de acontecer é muito baixa, mas é um inseto que está por aí. Pode ser que no futuro a gente tenha essa experiência ruim em nossa região”, afirma o pesquisador.

O pesquisador da Embrapa Agropecuária Oeste Crébio José Ávila (Foto: Divulgação)
O pesquisador da Embrapa Agropecuária Oeste Crébio José Ávila (Foto: Divulgação)

Currículo – Formado em Agronomia pela Universidade Federal de Viçosa (1984), Crébio José Ávila é mestre em Entomologia pela Universidade Federal de Viçosa (1987), doutor em Entomologia pela Universidade de São Paulo (1999) e tem pós-doutorado pela Universidade de Nebrasca (EUA), em 2012.

Pesquisador da Embrapa desde 1989, é professor da UFGD (Universidade Federal da Grande Dourados) no curso de pós-graduação em Entomologia e Conservação da Biodiversidade e possui experiência em entomologia agrícola, com atuação nas áreas de pragas de solo e manejo de pragas da soja, milho e trigo.

Comitê estadual – Na semana passada foi criado o comitê estadual para monitorar e definir ações em caso de eventuais ataques de gafanhotos em lavouras de Mato Grosso do Sul. Na reunião em que foi definido o comitê, técnicos tranquilizaram os produtores de Mato Grosso do Sul.

Hoje (30), o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento publicou no Diário Oficial da União a portaria que estabelece diretrizes para plano de supressão e medidas emergenciais a serem aplicadas caso a nuvem de gafanhotos chegue ao Rio Grande do Sul e a Santa Catarina.

Entre as medidas previstas estão recomendações gerais para uso de agrotóxicos e mecanismos de controle das quantidades de produtos químicos a serem distribuídos, comercializados e utilizados em caso de necessidade.

Durante o período de emergência fitossanitária decretada no RS e SC, os órgãos estaduais de defesa agropecuária deverão apresentar relatórios trimestrais ao Departamento de Sanidade Vegetal e Insumos Agrícolas do ministério, informando as ações executadas (Com informações da Agência Brasil e da assessoria da Semagro-MS).

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