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Economia

Hortas mudam região, garantem renda e alegria de quem gosta da roça

No entorno da avenida Três Barras, famílias sobrevivem do cultivo de verduras orgânicas

Caroline Maldonado | 11/12/2015 14:49
O paulista José Carlos cultiva verduras e legumes há mais de 30 anos (Foto: Marcos Ermínio)
O paulista José Carlos cultiva verduras e legumes há mais de 30 anos (Foto: Marcos Ermínio)
Desde que veio para a Capital, há 18 anos, o alagoano Gervasio vive do cultivo de hortaliças (Foto: Marcos Ermínio)
Desde que veio para a Capital, há 18 anos, o alagoano Gervasio vive do cultivo de hortaliças (Foto: Marcos Ermínio)

Nas proximidades da Avenida Três Barras, as hortas atraem gente de longe todos os dias. O negócio, que gera lucro de até 70% em meses de pouca chuva, abastece restaurantes e mercados de diversas regiões de Campo Grande, segundo o alagoano Gervasio Rodrigues, 58 anos, proprietário de uma das quatro hortas mais conhecidas da região Leste de Campo Grande, que compõem o “cinturão verde”.

Desde que veio para a cidade, há 18 anos, Gervasio vive do cultivo de hortaliças. No terreno de 1,5 hectares já foi plantado milho e feijão, mas foram as verduras que trouxeram o lucro esperado. Segundo o agricultor, o local, que hoje chama atenção pela beleza da horta, era feio e atraia criminosos. “Aqui era só mato e gente morta. Mudou muito essa região de lá para cá. Nossos clientes vêm de toda parte, tem gente que vem lá do Centro comprar aqui”, conta.

O alagoano nunca pensou em ganhar a vida de outra maneira, porque além de ter sido criado em meio a agricultura, hoje trabalha com a esposa, a filha e o genro na atividade. “A gente é da roça. Isso é o que fazemos de melhor então não tem como largar. Já fui funcionário em empresa em São Paulo, já tive bar no interior, mas isso aqui não tem igual”, comenta. Ele garante que o preço é bom. A cliente confirma: "Eu só compro aqui pela qualidade, não leva agrotóxico e é mais barato", diz a cozinheira, Marilene Ribeiro, 52 anos.

Algumas quadras adiante, outra família também tira o sustento do cultivo, porém em uma área bem menor. O paulista José Carlos Martins, 50 anos, cultiva verduras e legumes há mais de 30 anos. Ele também diz que é de roça e não troca de atividade. “Aqui a gente tem tranquilidade, não tem patrão e quando sobra verdura não deixamos estragar. Fazemos doação para creches e escolas”, conta ele, que trabalha junto com a esposa.

Além desses, que persistem no cultivo de hortaliças a vida inteira, há famílias que acabam migrando para outra atividade, mas mesmo morando no perímetro urbano, nunca deixam o serviço rural. As hortas dão mais trabalho quando o tempo fica chuvoso e algumas pessoas acabam desistindo do cultivo. Em função dessa mobilidade, os órgãos municipal e estadual voltados para a agricultura não têm dados específicos sobre a horticultura em Campo Grande.

Segundo a Agraer (Agência de Desenvolvimento Agrário e Extensão Rural), 120 famílias têm acesso a assessoria técnica gratuita para produzir verduras e legumes na Capital, em Jaraguari e Terenos. A ajuda vem do Pronaf (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar).

“No Rita Vieira, as hortas estão em lotes urbanos e a maioria comercializa a produção no próprio local, mas temos horticultores em todas as regiões da cidade que vendem seus produtos na Ceasa (Central de Abastecimento) e nas feiras”, comenta o diretor executivo da Agraer, José Alexandre Tranin. Ele explica que as famílias que querem apoio podem procurar a Agraer para fazer parte do programa.

Se sobra verdura, José Carlos não deixa estragar e doa para creches e escolas (Foto: Marcos Ermínio)
Se sobra verdura, José Carlos não deixa estragar e doa para creches e escolas (Foto: Marcos Ermínio)
Ao lado dos trilhos, horta é trabalho para a família inteira e ainda tem funcionários (Foto: Marcos Ermínio)
Ao lado dos trilhos, horta é trabalho para a família inteira e ainda tem funcionários (Foto: Marcos Ermínio)

A Sedesc (Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico, Turismo, Ciência e Tecnologia e Agronegócio) também não tem um levantamento sobre as hortas em perímetro urbano. No entanto, o departamento de agronegócio estuda a implementação de programas para apoiar a agricultura familiar, conforme o engenheiro agrônomo da secretaria, João Duarte.

“Em todas as regiões da cidade estão presentes as famílias, que apesar de estarem na área urbana, mantêm a ruralidade. Há também muita criação de vacas leiteiras, porcos e galinhas. Ocorre que as hortas abrem e fecham com frequência, pois as folhas são mais difíceis de produzir em tempos de chuvas e sol forte, com isso aumenta a incidência de doenças nas plantas, mas o que sabemos é que mesmo com a população urbana crescendo, há famílias que persistem nas atividades rurais”, destaca João, ao lembrar que 98,7% dos habitantes estão em área urbanizada e 1,3% estão no campo, em Campo Grande.

Os especialistas concordam que a horticultura é rentável e tem mercado, no entanto falta às famílias o uso de tecnologias para manter os níveis de produção durante as épocas de chuvas de altas temperaturas, quando a lucratividade cai para até 30%.

“É um bom negócio desde que se faça com tecnologia e se produza o que o mercado pede. É preciso fazer um escalonamento de produção, com detalhamento do que vai ser plantado em cada época. A gente importa muito hortifrúti, porque a maioria dos agricultores daqui não fazem a produção programada”, explica o diretor executivo da Agraer.

Investir em estufas também pode minimizar as perdas. “O período mais propício para a horticultura é o de temperaturas mais baixas. No calor, as verduras ficam mais caras porque há perdas. Então, o segredo para mudar essa situação vai ser o cultivo protegido, em estufas. Para isso, temos que ter fontes de financiamento”, comenta o engenheiro agrônomo da Sedesc.

Conforme a Ceasa, 80% das frutas e legumes que são consumidos em Campo Grande vêm de outros Estados, como São Paulo e Paraná. A cidade é auto suficiente somente na produção de folhosas de março a novembro, quando as temperaturas são baixas. No verão, as folhas também vêm de fora para dar conta da demanda.

Marilene Ribeiro, 52 anos, compra verdura direto na horta pelo preço e a qualidade (Foto: Marcos Ermínio)
Marilene Ribeiro, 52 anos, compra verdura direto na horta pelo preço e a qualidade (Foto: Marcos Ermínio)
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