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Economia

Lucro dos postos de gasolina em MS cresce 63% e supera inflação em três vezes

Crescimento tem relação com medidas que favorecem setor e pouca concorrência; já consumidor não se beneficia

Por Lucia Morel | 11/08/2025 09:17
Lucro dos postos de gasolina em MS cresce 63% e supera inflação em três vezes
Frentista abastecendo veículo em posto de combustíveis em Campo Grande. (Foto: Marcos Maluf/Arquivo)

A margem de lucro dos postos de combustíveis em Mato Grosso do Sul cresceu 63,63% na venda de gasolina comum entre 2022 e até julho de 2025. O aumento, que supera a inflação do período, é impulsionado pela baixa competitividade de preços, com postos da maioria das cidades do Estado operando com valores muito próximos entre si. A constatação é feita a partir de uma análise de dados oficiais da ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis) realizada com base no cálculo do desvio-padrão.

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A margem de lucro dos postos de combustíveis em Mato Grosso do Sul registrou aumento de 63,63% na venda de gasolina comum entre 2022 e julho de 2025, superando a inflação do período, que foi de 20%. O crescimento é atribuído à baixa competitividade de preços, com estabelecimentos operando com valores similares na maioria das cidades. Análise de dados da ANP revela que apenas Corumbá apresenta maior variação de preços entre os postos. Em outras cidades importantes como Campo Grande, Dourados e Três Lagoas, a diferença é mínima. O etanol mostrou aumento mais modesto de 19,12%, enquanto o diesel subiu 45,76%. O gás de cozinha manteve-se estável, com elevação de apenas 4,76%.

Um resultado de desvio-padrão baixo indica que os preços da gasolina comum - analisados pela reportagem - em diferentes postos de combustíveis de uma mesma cidade são muito próximos, o que na prática indica baixa concorrência, ou seja, os postos tendem a seguir um preço de referência.

Sobre o tema, A AGU (Advocacia-Geral da União) solicitou a abertura de uma investigação no começo de julho para apurar indícios de que distribuidoras e postos de combustíveis não estariam repassando ao consumidor as quedas nos preços feitas pelas refinarias e estariam lucrando com a diferença. O pedido foi encaminhado à Polícia Federal, ao Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) e a outros órgãos de controle

A reportagem chegou aos resultados a partir da análise dos dados das planilhas de revenda de combustíveis, referentes ao período de janeiro de 2022 a 27 de julho de 2025. Os dados mostram que a margem de lucro no Estado acompanhou a tendência nacional de aumento — na média, no Brasil, foi de 97% —, com um crescimento significativo de 63,63%. A inflação acumulada no país, entre janeiro de 2022 e julho de 2025, foi de aproximadamente 20%, o que demonstra que a elevação do lucro dos revendedores de gasolina foi três vezes maior do que a variação de preços.

Os números revelam que apenas Corumbá, a 428 km de Campo Grande, possui maior variação de preços entre os postos, apresentando desvio-padrão de R$ 0,26. Já Ponta Porã, Três Lagoas, Dourados e Campo Grande tiveram variação inferior a R$ 0,14 nos postos, com a Capital liderando a pouca diferença nos valores.

O economista Eugênio Pavão infere que a baixa competitividade também dá pouca liberdade ao consumidor para pesquisar preços. “O consumidor é o elo mais fraco da cadeia e ao sair de um posto para outro, ele já perdeu o que economizaria”, afirma. Ele também comenta que o setor não permite que o usuário pechinche ou barganhe. “É um produto que você não tem como substituir”.

Outros combustíveis - Pelos dados apurados, a margem de lucro do etanol nos postos de Mato Grosso do Sul registrou uma elevação mais modesta entre 2022 e 2025, com um aumento de 19,12%, dentro da inflação do período. A variação de preços entre os postos para este combustível é a maior de todas, sugerindo um cenário de maior concorrência no mercado local.

O desvio-padrão do etanol em Campo Grande foi de 0,165, o mais alto em comparação com a gasolina e o diesel na capital. O mesmo padrão de maior dispersão de preços se repetiu em outras cidades, como Dourados (0,172) e Três Lagoas (0,209). O comportamento sugere uma disputa de mercado mais ativa, onde os revendedores ajustam seus valores com maior frequência.

Já no óleo diesel, a margem de lucro foi de 45,76% entre 2022 e 2025. Houve ainda baixa variação de preços do diesel no estado, o que sugere um mercado de pouca concorrência. O desvio-padrão na capital, Campo Grande, foi de 0,110. O valor é semelhante ao da gasolina e confirma a pouca diferença de preços entre os postos. Em Dourados, o desvio foi de 0,105, e em Três Lagoas, de 0,123.

Por fim, o aumento discreto de 4,76% entre 2022 e 2025 no gás de cozinha indica estabilidade de um mercado que opera com pouca ou nenhuma disputa de preços, com a oferta de GNV restrita a poucas localidades do estado. Os dados da Agência Nacional do Petróleo são apenas de Campo Grande, onde o desvio-padrão foi de 0,022.

A reportagem entrou em contato com o Sinpetro (Sindicato do Comércio Varejista de Combustíveis, Lubrificantes e Lojas de Conveniência de Mato Grosso do Sul), mas não houve retorno até a publicação desse material.

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