PAC para MS cai pela metade e só garante R$ 3,3 bi para transição energética
Governo federal estimava em 2023 gastos de R$ 44,7 bilhões, mas revisou a meta e reduziu para R$ 24,2 bilhões
Após anunciar, há dois anos, investimentos de R$ 15,7 bilhões no eixo de transição e segurança energética em Mato Grosso do Sul, o governo federal revisou os critérios de classificação dos recursos e reduziu a previsão para R$ 3,3 bilhões até 2026. O montante será destinado à substituição de fontes poluentes, como petróleo, carvão e gás, por matrizes limpas e renováveis, entre elas solar, eólica, biomassa e hidrogênio verde. As informações são da Casa Civil e foram obtidas pelo Campo Grande News.
RESUMO
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O governo federal reduziu pela metade os investimentos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) em Mato Grosso do Sul, destinando R$ 3,3 bilhões para projetos de transição energética até 2026. A revisão, que alterou o critério de classificação dos recursos, diminuiu o valor total do programa no estado de R$ 44,7 bilhões para R$ 24,2 bilhões. Apesar do corte, já foram executados R$ 1,75 bilhão em 13 projetos locais, incluindo a inauguração da segunda maior usina termelétrica de biomassa do Brasil, em Ribas do Rio Pardo. O estado destaca-se nacionalmente na redução de emissões de gases de efeito estufa, com queda de 6,6% em 2024, impulsionada pelo consumo de etanol.
Com a reclassificação feita pelo Palácio do Planalto, o valor total previsto para o Novo PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) no Estado caiu de R$ 44,7 bilhões para pouco mais da metade do volume anunciado em 2023. “O PAC vai investir R$ 24,2 bilhões para acelerar o crescimento em Mato Grosso do Sul e viabilizar mais de 430 empreendimentos em educação, saúde, segurança, cultura, sustentabilidade e infraestrutura”, apontam dados da Casa Civil.
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Sem dar mais detalhes, técnicos do órgão explicam que a revisão resulta de uma “classificação de benefícios diretos para o Estado”. Ou seja, agora são contabilizados apenas os recursos aplicados diretamente em Mato Grosso do Sul. No cálculo anterior, os valores incluíam a “base nacional” de investimentos, o que sinalizam recursos indiretos. A reclassificação atingiu principalmente o eixo de transição e segurança energética.
De acordo com a Casa Civil, já foram executados R$ 1,75 bilhão, 53% do total de R$ 3,3 bilhões previsto até 2026. O pacote contempla 13 projetos de impacto local e regional, voltados à geração de energia renovável, transmissão, eficiência energética em iluminação pública e ações no setor de petróleo e gás. Seis empreendimentos foram concluídos até agora.
Mesmo com o corte dos recursos, o governo federal afirma que o Novo PAC “segue firme” na execução de projetos estratégicos. “A Casa Civil mantém monitoramento constante dos empreendimentos em todas as regiões do país, garantindo execução dentro do prazo e geração de desenvolvimento, emprego, renda e inclusão social”, destacou em nota.
Entre os projetos entregues está a usina termelétrica renovável integrada à planta de papel e celulose da Suzano, em Ribas do Rio Pardo, inaugurada em fevereiro. Com capacidade instalada de 384 megawatts (MW), tornou-se a segunda maior geradora de energia a partir de biomassa no Brasil. O licor negro, subproduto da indústria de papel e celulose, é o principal combustível da termelétrica. Parte da energia abastece a própria fábrica, garantindo autossuficiência; o excedente de 180 MW, suficiente para atender 2 milhões de pessoas, é enviado ao SIN (Sistema Interligado Nacional).
Outro projeto concluído é a PCH (Pequena Central Hidrelétrica), em Paraíso das Águas, a 277 quilômetros de Campo Grande. Com potência de 22 MW e garantia física de 15,66 MW médios, recebeu R$ 258,3 milhões em investimentos, sendo R$ 129,1 milhões do FDCO (Fundo de Desenvolvimento do Centro-Oeste). Outra termelétrica renovável foi entregue em Maracaju.
Os demais projetos seguem em execução, segundo a Casa Civil, “com expectativa de conclusão dentro do prazo”. Entre eles estão a modernização da iluminação pública de Corumbá, novas usinas termelétricas e uma planta de etanol de segunda geração. Caarapó, Sidrolândia e Três Lagoas também serão beneficiadas, reforçando o compromisso do Novo PAC com a transição energética e o desenvolvimento sustentável.

Meta de carbono neutro até 2030 - Para o pesquisador Márcio Pereira, presidente da Fundect (Fundação de Amparo à Pesquisa de Mato Grosso do Sul), os recursos do Novo PAC podem acelerar a meta estadual de neutralizar as emissões de gases de efeito estufa até 2030, duas décadas antes do prazo global definido pelo Acordo de Paris. O objetivo é aumentar a competitividade e preservar as riquezas ambientais, com destaque para o Pantanal, pressionado pelo agronegócio e obras como a Rota Bioceânica.
Também presidente do Confap (Conselho Nacional das Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa), Pereira destacou o avanço da ciência como parceira do Estado. Nos últimos anos, a Fundect investiu R$ 22 milhões em estudos ligados à transição energética — R$ 6 milhões sobre carbono neutro, R$ 10 milhões em desenvolvimento sustentável e R$ 6 milhões em mudanças climáticas.
“Mato Grosso do Sul está no caminho certo ao traçar metas ambiciosas de carbono zero”, afirmou Pereira ao Campo Grande News, direto de Kyoto, no Japão, onde participa do STS Fórum (Fórum de Ciência, Tecnologia e Sociedade). Durante o evento, ele busca atrair investimentos para o Brasil, especialmente para o Estado, em áreas estratégicas voltadas à descarbonização.
Referência nacional - O avanço da transição energética vem colocando Mato Grosso do Sul em posição de destaque nacional. Segundo relatório do Observatório de Inovação e Conhecimento em Bioeconomia, divulgado em abril, o Estado foi o que mais reduziu emissões de gases de efeito estufa em 2024, queda de 6,6%, impulsionada pelo consumo de etanol de cana e milho.
O coordenador do Núcleo de Bioenergia da FGV, Luciano Rodrigues, explicou que o resultado reflete o fortalecimento do mercado de etanol hidratado para veículos flex. “Houve aumento para 15% do teor de biodiesel no ano passado, e as emissões do diesel caíram na mesma proporção em todo o país”, disse. “A redução foi mais intensa em Mato Grosso do Sul.”
Rodrigues evita fazer projeções para 2025 devido ao risco de quebras de safra, especialmente de milho, por causa das mudanças climáticas. Ainda assim, destacou a ampliação da capacidade produtiva. “A produção de biocombustíveis cresce em todo o país, e Mato Grosso do Sul acompanha essa tendência. A expectativa é consolidar o etanol como instrumento efetivo de descarbonização”, afirmou.
Energia solar em expansão - A geração solar também se expande rapidamente no Estado, segundo Camila Schoti, diretora de Marketing, Growth e Comercial da (re)energisa. Ela informou que Mato Grosso do Sul já ultrapassou 1,6 GW de potência instalada, tornando-se um dos líderes nacionais no segmento.
“Desse total, a (re)energisa contribui com 17 usinas em operação, somando 82,44 MW, o que faz de MS o terceiro maior polo de geração solar do Grupo Energisa”, afirmou. Ela não fala sobre investimentos da empresa no estado por razões estratégicas de mercado. A empresa atua em nove estados: Minas Gerais, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, São Paulo, Rio de Janeiro, Maranhão, Piauí, Ceará e Pernambuco.
Segundo Camila, o destaque estadual se deve à alta incidência solar, à disponibilidade de áreas e ao ambiente de negócios favorável. A companhia também oferece assinatura de energia solar compartilhada, que pode reduzir em até 25% o custo da conta de luz. “O cliente não precisa instalar painéis no telhado: ele assina uma cota de uma usina parceira, recebe créditos mensais proporcionais e paga apenas a assinatura e a taxa mínima da distribuidora”, explicou.
A (re)energisa tem cerca de 3 mil unidades consumidoras ativas no Estado, em especial, pequenos e médios comércios, como supermercados, padarias, restaurantes, farmácias, clínicas e consultórios, setores que dependem fortemente de refrigeração, climatização e iluminação contínuas.