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Economia

Por mão-de-obra, setor da confecção inova e presa vira empresária

Aline Queiroz | 28/02/2011 09:11

Trabalho elaborado com finalidade social qualifica presas e gera cidadania

Projeto que qualifica detentas começou no presídio feminino da Capital. (Foto: Aline Queiroz)
Projeto que qualifica detentas começou no presídio feminino da Capital. (Foto: Aline Queiroz)

Criado em 2006, o projeto “Vestindo a Liberdade” qualifica internas do Presídio Feminino Irmã Irma Zorzi, em Campo Grande. Durante os quatro anos de existência, 120 presas passaram pelo setor de costura da unidade prisional. Por trás dos números, existem histórias de vida, surgem novas costureiras e até empresária.

Presa por tráfico, Maria Madalena (nome fictício) foi para o presídio da Capital. Lá ela aprendeu a costurar e, quando saiu, montou uma confecção.

O trabalho tem dado certo e hoje a ex-detenta emprega cinco pessoas. A produção desta faccionista, nome técnico dado ao cargo que ocupa na cadeia do setor têxtil, é vendida à Agosto Uniformes.

A empresa é responsável pelo projeto dentro da penitenciária, onde um monitor ensina o “beabá” da costura. As internas encontram apoio dentro e fora da unidade prisional.

Idealizador do projeto e um dos sócios da empresa, Edson Germano, explica que, além do trabalho que é feito no presídio, ex-internas também encontram emprego do lado de fora.

Aquelas que têm interesse são contratadas e continuam a trabalhar, desta vez, na confecção que funciona no Bairro Coronel Antonino.

Edson revela que sempre teve intenção de desenvolver ação social e, como falta de mão-de-obra qualificada, decidiu criar um setor têxtil dentro do presídio.

Na unidade foram colocadas todas as máquinas que são necessárias ao aprendizado, algumas computadorizadas. “Elas começam no acabamento e vão à costura”, enfatiza Edson.

Ele ressalta que não foi fácil dar início ao trabalho e ainda hoje enfrenta dificuldades. O empresário comenta que, quando as ex-internas têm companheiros que ainda estão no crime, tendem a voltar.

No entanto, pondera que a parceria deu certo. Maria Madalena é um exemplo e orgulho para o empresário.

Confecção no Bairro Coronel Antonino recebe ex-presidiárias. (Foto: João Garrigó).
Confecção no Bairro Coronel Antonino recebe ex-presidiárias. (Foto: João Garrigó).

“Ela olhou nos meus olhos e disse: eu não volto para o crime. Eu não acreditei porque às vezes elas voltam, mas ela não, aprendeu o trabalho e hoje é nossa faccionista”, completa Edson.

A nova empresária do setor teve o nome alterado, porque tem medo de sofrer com o preconceito das pessoas.

“Ainda existe”, diz outra costureira, que será chamada de Ester, em liberdade condicional. Na confecção, desta vez do lado de fora do presídio, ela mostra o que aprendeu.

Assim como a maioria das mulheres da unidade prisional, Ester também foi presa por tráfico. Muitas começam a trabalhar “sem saber pegar em uma agulha” e este foi o caso dela. “Hoje sou uma costureira”, diz orgulhosa.

A produção da confecção montada dentro do presídio é de 3 mil peças por mês e fora são 30 mil. Na penitenciária trabalham atualmente 25 mulheres, número que muda constantemente.

“Quando elas estão ficando boas saem do presídio”, diz o sócio da Agosto Uniformes, que se enquadra em empresa de pequeno porte, aquela que tem receita bruta igual ou inferior a 700 mil UFIRs e está entre as melhores do setor em Mato Grosso do Sul.

Para o empreendedor, este não é um entrave ao projeto porque a dificuldade de conseguir mão-de-obra é observada em todo o setor.

Empreendedor Edson foi o idealizador do projeto. (Foto: João Garrigó)
Empreendedor Edson foi o idealizador do projeto. (Foto: João Garrigó)

Inovação - A falta de trabalhadores no setor obriga os empresários a inovar. A Capital Recursos Humanos e a fábrica de lingieri Universo Íntimo firmaram parceria para qualificar funcionários.

Em bairros carentes são montadas pequenas confecções e lá surgem novas costureiras – 98% dos interessados no curso são mulheres. Presidentes de associações de bairro têm papel fundamental nesta ação. Eles cedem espaços para o desenvolvimento das aulas, a Capital Recursos Humanos oferece monitores e a Universo Íntimo as máquinas.

Em quatro meses, 415 pessoas foram qualificadas, das quais 350 permaneceram no setor têxtil. O curso, composto por 160 horas/aula, é gratuito. Os inscritos aprendem a fazer o acabamento das roupas, o primeiro passo para ser tornar um trabalhador desta área.

Já para o próximo mês, mais 150 novos profissionais estarão disponíveis no mercado. “Suprir o déficit do setor não é da noite para o dia. Tem muito trabalho mas uma hora a gente chega lá”, completa Ronaldo Neves.

Só a empresa Universo Íntimo tem 600 vagas em aberto. O Sindivest/MS (Sindicato das Indústrias do Vestuário, Tecelagem e Fiação de Mato Grosso do Sul) aponta projeção de abrir 1.600 vagas neste setor até o fim do ano.

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