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Economia

Prepare-se: energia vai ficar mais cara e impactar custo de vida em 2015

Liana Feitosa | 01/08/2014 09:00

O reajuste da tarifa de energia só vai ocorrer em abril do ano que vem para a maioria dos consumidores de Mato Grosso do Sul. Mas, desde já, é bom preparar o orçamento. A Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) e o Ministério das Minas e Energia já confirmaram que devem ser repassados ao consumidor o impacto dos empréstimos feitos ao setor elétrico. As fontes oficiais calculam um impacto baixo, mas no mercado, especialistas já sinalizaram alta acima dos 25%.

"Todos os anos as distribuidoras de energia passam por um processo de revisão de reajuste tarifário. Com base na tarifa já praticada, foi calculado que as concessionárias comprariam energia a R$ 170 o MWe (megawatt elétrico)", contextualiza Rosimeire Cecilia da Costa, presidente do Concen (Conselho de Consumidores da Enersul). "No entanto, hoje, as distribuidoras estão pagando R$ 280 o MWe, o que significa uma grande diferença que gera déficit", explica.

O valor pago está acima do calculado devido a, basicamente, três motivos. Um deles é justamente da falta de chuvas que afetou reservatórios de hidrelétricas de todo o Brasil. O desconto na conta de luz dado no ano passado pela Aneel também está entre as causas. Além desses, há os empréstimos concedidos pelo Governo Federal desde março para que as distribuidoras pagassem as geradoras de energia, de R$ 11,2 bilhões em sua primeira etapa.

Desconto na conta de luz dado em 2013 pela Aneel está entre motivos do reajuste. (Fotos: Marcelo Victor)
Desconto na conta de luz dado em 2013 pela Aneel está entre motivos do reajuste. (Fotos: Marcelo Victor)

Inflação - Com tanto a pagar, as distribuidoras passarão para o consumidor a responsabilidade de quitar a dívida com o Governo, o que pode gerar consequências extensas. Isso porque o aumento na conta de energia vai gerar elevação no preço dos produtos e serviços, já que o consumidor não terá como absorver a alteração, como explica Rosimeire. "Tanto para o comércio, como para a indústria, a energia é um insumo, ou seja, é um bem de primeira necessidade. Por isso, esperamos conseguir minimizar esse repasse ao consumidor pedindo ao Governo o parcelamento da dívida das distribuidoras", conta. Segundo a especialista, até o final do ano o valor dessa dívida deve chegar a R$ 26 bilhões.

Apesar de o cenário ser nacional, existem iniciativas que tentam reduzir as consequências para a economia de Mato Grosso do Sul. Para o deputado estadual Marquinhos Trad (PMDB), que em 2007 foi o relator da CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) da Enersul, o consumidor não deve pagar a conta. "O sul-mato-grossense não pode pagar pela ingerência deficitária e sem planejamento do Governo Federal", afirma.

Comerciantes acreditam que reajuste será repassado ao consumidor através de produtos. (Fotos: Marcelo Victor)
Comerciantes acreditam que reajuste será repassado ao consumidor através de produtos. (Fotos: Marcelo Victor)

Enersul - Segundo o deputado, que tem histórico de envolvimento com questões ligadas às tarifações de energia no Estado, a concessionária que distribui energia na região possui larga margem anual de lucro. "Por isso, não há que se falar em repasse ao consumidor no Mato Grosso do Sul", adianta. Para Trad, a cobrança elevada na fatura será ainda mais injusta se levado em consideração cobranças indevidas feitas pela empresa no passado.

"A Enersul já cobrou de nós (população) entre 1998 a 2008, tarifas superiores às devidas e nós arcamos para que os cofres deles fossem engordados durante aquela década. Agora chegou a hora dela contribuir um pouco com o Mato Grosso do Sul", finaliza o parlamentar.

A empresa ainda não se manifestou sobre a tarifa do ano que vem, uma vez que o processo de reajuste só se concretiza em abril.

Consumidor - Em um Estado que conta com quase 900 mil consumidores, o reajuste programado para o próximo ano gera muita insatisfação. O Campo Grande News conversou com consumidores para falar sobre o assunto.

Alterar horário de funcionamento de estabelecimentos comerciais está entre as alternativas.
Alterar horário de funcionamento de estabelecimentos comerciais está entre as alternativas.

Na lanchonete de Thiago Riquelme existem sete freezers que ficam ligados dia e noite. Além disso, existem duas estufas para manter o condicionamento dos alimentos, micro-ondas, ventiladores e geladeiras. "Se a tarifa aumentar, fico sem alternativa. Repassar o aumento para o consumidor acaba sendo minha saída, já que a conta aqui, todo mês, já é cara", se queixa.

Leiberson da Costa apresenta a mesma reclamação. Ele conta que só "levantar as portas" do restaurante que ajuda a administrar já gera gastos. "Toda vez que abrimos, precisamos ligar equipamentos, luz, aparelhos, sem contar aqueles que ficam o tempo todo ligados", conta. "Às vezes o restaurante está sem clientes, mas tudo está funcionando. Se a situação se complicar com o reajuste da tarifa, a saída vai ser abrir mais tarde e fechar mais cedo", analisa.

A gerente de loja Beth Lima já está pensando no que fazer. "Passo o dia fora de casa, não tenho ar condicionado, não uso ventilador, só uso sempre a TV, a máquina de lavar e a geladeira. Se mesmo assim minha fatura supera R$ 100, a conta vai passar de R$ 200 depois do aumento", avalia. "O problema é que, pra compensar os gastos, a gente acaba se privando de outras coisas que gostaria de comprar ou fazer", lamenta.

Se não quiser gastar mais no próximo ano, resta ao consumidor seguir o conselho de sempre. "Temos um cenário desfavorável, mas a população pode ajudar ao manter a gestão do seu consumo de energia mais regulado. É preciso usar racionalmente tanto a energia, quanto a água. Além disso, a gente espera que chova para não termos mais a necessidade de gastar tanto no próximo ano", torce Rosimeire.

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