Produtores cobram agilidade do PAC para destravar obras de logística em MS
Famasul alerta que atrasos em projetos de rodovias, ferrovias e hidrovias aumentam custos em até 30%
Na tentativa de reduzir os prejuízos bilionários causados pelos antigos gargalos logísticos de Mato Grosso do Sul, o presidente da Famasul (Federação da Agricultura e Pecuária do Estado), Marcelo Bertoni, cobra agilidade na execução das obras previstas no Novo PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), do governo federal, consideradas fundamentais para a competitividade do agronegócio sul-mato-grossense.
RESUMO
Nossa ferramenta de IA resume a notícia para você!
Produtores rurais de Mato Grosso do Sul cobram maior agilidade na execução das obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Os investimentos previstos em logística somam R$ 13 bilhões até 2030, com potencial de retorno de R$ 30 bilhões ao setor nos próximos cinco anos. Segundo a Famasul, o governo federal executou apenas 43,4% dos recursos previstos para 2024 e 2025 no setor de transportes. Os atrasos nas obras encarecem o frete em até 30% em algumas rotas, prejudicando a competitividade do agronegócio sul-mato-grossense. A integração entre rodovias, ferrovias e hidrovias é considerada fundamental para reduzir custos logísticos.
Segundo Bertoni, as obras de infraestrutura projetadas, que somam mais de R$ 13 bilhões em investimentos logísticos até 2030, têm potencial de gerar um retorno de R$ 30 bilhões ao setor nos próximos cinco anos. A expectativa é que a integração entre rodovias, ferrovias e hidrovias reduza em até 30% o custo do transporte por tonelada.
- Leia Também
- Fretes agrícolas em MS registram queda com mudança na dinâmica de exportações
- Riedel recebe presidente do Paraguai em agenda sobre Rota Bioceânica
“A urgência de melhorar a infraestrutura não é somente questão de conforto ou segurança. É um fator decisivo para a competitividade e o futuro do setor”, defende.
Execução abaixo do esperado
O setor produtivo se diz frustrado com os atrasos nas obras do Novo PAC. Dados do Ministério dos Transportes, obtidos pelo Campo Grande News, apontam que o governo federal executou até agora apenas 43,4% dos recursos previstos para 2024 e 2025 no setor de transportes.
Bertoni lembra que, há dois anos, o governo anunciou R$ 44,7 bilhões em investimentos do PAC para Mato Grosso do Sul, dos quais R$ 15,4 bilhões voltados à infraestrutura de transporte, entre recursos públicos e privados.
Até junho de 2025, segundo destaca com base em números oficiais, foram destinados R$ 15,14 bilhões para obras do setor. Desse montante, R$ 8,25 bilhões foram aplicados em rodovias, R$ 640,5 milhões em aeroportos, R$ 55,7 milhões em hidrovias e R$ 6,2 bilhões em ferrovias – o que representa apenas 33,9% do total previsto.
Estudos do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) e da FGV (Fundação Getulio Vargas) reforçam o pleito da Famasul: cada R$ 1 bilhão aplicado em infraestrutura pode gerar até R$ 3,5 bilhões de impacto sobre o PIB (Produto Interno Bruto) em dez anos.

Gargalos logísticos
Os atrasos encarecem em até 30% o frete em algumas rotas, segundo Bertoni. “Estradas mal conservadas aumentam o gasto com combustível, aceleram o desgaste de caminhões, alongam o tempo de viagem e ainda geram perdas de carga, especialmente de grãos.”
Embora reconheça a importância dos investimentos, ele alerta que os impactos dependem da velocidade das obras e da integração multimodal. Entre os corredores estratégicos citados estão os trechos das BR-163 e BR-262, a conexão com a Rota Bioceânica, além da implementação de terminais multimodais e da manutenção contínua da infraestrutura.
“A avaliação é positiva quanto ao direcionamento dos recursos, mas cautelosa em relação à efetividade prática, que só se confirmará com a execução plena e coordenada dos projetos.”
A Famasul considera a Rota Bioceânica – que ligará Mato Grosso do Sul aos portos do Pacífico – um dos marcos mais importantes para o futuro do estado. O corredor deverá reduzir custos, ampliar o acesso a mercados internacionais e posicionar a região de forma estratégica nas cadeias globais de valor.
Hidrovia do Rio Paraguai
Outra crítica de Bertoni é a morosidade na licitação da Hidrovia do Rio Paraguai, adiada mais uma vez e agora prevista para o primeiro semestre de 2026.
“Atrasos no processo postergam o retorno financeiro e dificultam a concretização dos ganhos logísticos estratégicos para o setor. Enquanto a conclusão não ocorre, o transporte rodoviário continua sendo o principal modal, o que encarece o escoamento da produção e pressiona a competitividade do estado”, analisa.
O modal hidroviário é considerado estratégico por ter um dos menores custos por tonelada transportada e por aliviar o tráfego nas rodovias, reduzindo riscos de acidentes e gastos com manutenção.
Com 3.400 km navegáveis – dos quais 1.300 km em Mato Grosso e Mato Grosso do Sul – a hidrovia conecta portos como Corumbá, Ladário e Porto Murtinho a mercados internos e externos, sendo essencial para o transporte de grãos e minério.
Malha ferroviária
O setor também vê potencial nas obras ferroviárias previstas no PAC. A reativação da Rumo Malha Oeste, hoje com 646 km praticamente inoperantes, é apontada como prioridade.
Se recuperada, a ferrovia facilitaria o escoamento de grãos e reduziria custos, ampliando a eficiência logística. Atualmente, porém, a Malha Oeste opera de forma limitada em Mato Grosso do Sul, focada no transporte de minério.
Já a Malha Norte, que conecta Santos (SP) a Rondonópolis (MT) e passa por Aparecida do Taboado (MS), é considerada um dos grandes corredores estratégicos, com fluxo intenso de grãos e fertilizantes rumo aos portos do Sudeste.
“Para os produtores rurais de Mato Grosso do Sul, a integração logística é um avanço crucial para impulsionar a competitividade no mercado global. Conexões eficientes entre diferentes modais de transporte são estratégicas para reduzir os custos logísticos, que hoje estão entre os principais gargalos da importação de insumos e da exportação de grãos e outros produtos.”
Para a Famasul, embora as rodovias sejam o modal mais flexível e disponível, também são o mais caro, devido ao baixo volume por caminhão e aos altos custos de combustível e pedágio. A aposta da entidade é a multimodalidade.
“Uma logística integrada não apenas reduz custos e amplia margens, mas também fortalece a posição de Mato Grosso do Sul como protagonista do agronegócio brasileiro.”