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Economia

Sem dinheiro para o gás, família escancara realidade do desemprego

Com três filhas em casa, Beatriz Caroline da Silva tem apenas arroz e feijão no armário

Aletheya Alves | 12/03/2021 06:41
Beatriz Caroline da Silva mostra geladeira apenas com água no congelador (Foto: Paulo Francis)
Beatriz Caroline da Silva mostra geladeira apenas com água no congelador (Foto: Paulo Francis)

Nos fundos de um terreno localizado no Jardim Canguru, bairro da periferia na região sul, a mais populosa de Campo Grande, Beatriz Caroline da Silva, de 27 anos, usa tapumes e cobertores como muros. Mas não só a falta de tijolos e cimento para proteger a casa onde vive com o marido e as três filhas expõe a realidade de quem tenta a uma vida toda sair da miséria, como se remasse contra uma correnteza. O dia a dia da família, agora sem dinheiro até para o botijão de gás, que por sinal sofreu 9 meses de aumento e chega a custar R$ 100 em Mato Grosso do Sul, escancara a verdadeira face do desemprego.

Acentuada durante a pandemia, a história de Beatriz tomou os caminhos que ninguém espera enfrentar. Só água na geladeira e armários praticamente vazios dentro da casa de chão batido. “Tem um pacote de arroz e outro de feijão, o macarrão que tinha acabou hoje no almoço”, diz.

Apenas pacote de arroz continua fechado e garantido para os próximos dias na casa. (Foto: Paulo Francis)
Apenas pacote de arroz continua fechado e garantido para os próximos dias na casa. (Foto: Paulo Francis)

Ela explica que o marido está desempregado há dois meses por ter descoberto problemas de saúde e desde então o cotidiano vem piorando. “Meu esposo não pode trabalhar, está com vários cálculos na vesícula e duas hérnias. Ele já levou currículo, mas ninguém contrata. Tá assim há dois meses, quando pega peso acaba sentindo muita dor”.

Sem renda e sem conseguir encontrar uma saída, Beatriz conta que viu o gás acabar há três dias, mas não tem dinheiro nenhum para reabastecer o botijão. Para botar "comida" na mesa, tem usado o gás do cunhado, que também não deve demorar para chegar ao fim. “O dele também já tá acabando, então a gente não sabe o que fazer”, completa.

Com três filhas pequenas, de 1, 3 e 5 anos, sem receber qualquer ajuda, desde o fim do auxílio emergencial, ela relata que mais uma novidade apareceu para completar o enredo.

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Ontem descobri que estou gestante, comecei a fazer as consultas hoje. Tem uma semana que tô sem leite e fralda para a pequena", lamenta Beatriz.

Pedindo por algum tipo de ajuda, a mãe afirma que esperar por doações é sua última esperança. O número para contato é (67) 99290-8247.

Ladeira abaixo - Nesta semana, o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divulgou pesquisa sobre taxa de desemprego durante o quatro trimestre de 2020. Em Mato Grosso do Sul, são 125 mil pessoas, com mais de 14 anos, desocupadas.

De acordo com a pesquisa, a quantidade de pessoas desempregadas durante o período do levantamento aumentou em 2,7% em relação ao trimestre anterior. Outro ponto destacado é o crescimento do número de pessoas que desistiram de procurar emprego, chegando a 34 mil.

Outra face do problema pode ser vista em um sentido mais amplo com declaração dada pelo chefe do escritório brasileiro do Programa Mundial de Alimentos, maior agência humanitária da ONU (Organização das Nações Unidas), Daniel Balaban, em 2020. Em entrevista ao Estadão, o economista estimou que 5,4 milhões de brasileiros passariam a ser parte da extrema pobreza devido à pandemia durante os próximos anos.

Em depoimento, ele explicou que o Brasil havia saído do Mapa da Fome em 2014, mas que os caminhos têm levado ao retorno. Ainda conforme o economista, os dados indicam que em 2018 eram 9,3 milhões de pessoas em extrema pobreza e o cenário não prevê melhora.

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