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Salvo por um três-lagoense em Londres

Paulo Nonato de Souza | 14/05/2015 10:51
A névoa em Londres é famosa, a cidade fica totalmente encoberta (Foto: Arquivo)
A névoa em Londres é famosa, a cidade fica totalmente encoberta (Foto: Arquivo)

Início de março de 2010, manhã de um domingo de muita névoa em Londres, tão densa que a visibilidade era quase zero. Havia chegado no sábado à noite para trabalhar na área de atendimento à imprensa no amistoso entre Brasil e Irlanda, no Emirates Stadium, e pela primeira vez me hospedara em um hotel da parte sudoeste da cidade.

Normalmente cauteloso com o desconhecido, tive a ideia de passear pelos arredores do hotel. Por volta de 9 horas, mochila com o computador nas costas, cruzei uma larga avenida e fui conhecer o famoso Hyde Park, uma espécie de Parque das Nações Indígenas deles. Chegando lá, a primeira coisa que chamou a minha atenção foram dois esquilos. Nunca tinha visto esquilo antes. Então, resolvi caminhar atrás daqueles dois roedores, espertos e rápidos.

A distração foi tanta que perdi a noção de tempo e local. Encoberto pela névoa, cada vez mais densa, tentei voltar para o hotel, mas como nada era visível além de alguns metros, acabei pegando direção contrária. Para piorar a situação, eu havia saído sem endereço nem telefone do hotel, aliás, nem mesmo lembrava o nome do hotel. Sem qualquer referencial do ponto de partida, enfim, estava perdido.

Quando a névoa deu uma trégua vi que passava de meio-dia. Entrei em um cyber de um indiano, fui direto no Google e consegui o nome e a localização do hotel onde estava hospedado. Ufaaa, estou salvo, pensei. Mas que nada. Para todos que pedia informações a resposta era de que eu estava muito longe, que deveria pegar metrô, ônibus ou taxi. Mas como assim? Teria eu andado tanto? Impossível!

Passava das 3 horas da tarde e eu continuava perdido. Já estava começando a entrar em desespero quando passei por um brasileiro falando no celular. Pela conversa percebi que se tratava de um morador em Londres. Assim que ele encerrou a conversa cheguei nele e fui logo dizendo que estava perdido e não sabia voltar para o hotel. Sujeito calmo, contrastando com a correria louca de uma grande cidade como Londres, ele parou na minha frente e me perguntou: De onde você é? Por um instante vacilei em função da confusão geográfica que fazem com Mato Grosso do Sul. Pensei: Se eu falar que sou de Campo Grande, ele pode achar que sou do bairro de Campo Grande, no Rio, então respondi: “Eu sou de Mato Grosso do Sul”. Aí ele disse: “Legal, eu sou de Três Lagoas”.

Ele estava morando em Londres havia cinco anos e trabalhava na área de serviços gerais. “Sou pintor de parede, essa é minha especialidade”, explicou. Gentilmente, o três-lagoense e sua namorada sul-africana me conduziram até o hotel.

Irritante foi saber que eu estava a menos de 1 km do hotel. Isso mostra que os ingleses, ao sugerir que eu deveria pegar ônibus, metrô ou taxi, não são afeitos aos deslocamentos a pé. Certamente porque o transporte público lá funciona de verdade.

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