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Arquitetura

Casa de 80 anos preserva lembranças de família que ''curou'' muita gente

A casinha é miúda, de 1937, mas ficou grande recebendo muitas pessoas de fé

Thailla Torres | 22/06/2017 07:27
A casinha miúda na Vila Planalto, é um convite à um história curiosa. (Foto: Alcides Neto)
A casinha miúda na Vila Planalto, é um convite à um história curiosa. (Foto: Alcides Neto)

Entre móveis antigos e imagens sacras, a casinha miúda da Rua Bartolomeu Dias, na Vila Planalto, é um convite à história. Desapegado das datas ou qualquer documento que comprove o relato, Nelson usa da firmeza nas palavras para convencer sobre recordações do endereço que sempre pertenceu a família.

Morando no imóvel desde que nasceu, gentilmente ele concorda em conversar por alguns minutos, na condição de voltar ao trabalho logo depois

Aos 57 nos, Nelson Franco Soares deixa de lado o material que usava na restauração de móveis antigos da varanda de casa e começa o relato, denunciando que o imóvel é bem mais antigo do que aparenta. "Ele deve ter pelo menos 80 anos", diz sobre a alvenaria pintada recentemente, que deu cobertura às rachaduras antigas. "Elas estão em muitas partes porque o trem passava aqui perto e a casa tremia demais", lembra.

Nelson protege as recordações do centro espírita. (Foto: Alcides Neto)
Nelson protege as recordações do centro espírita. (Foto: Alcides Neto)

Nascido em Campo Grande, a casa pertenceu a avó que faleceu e deixou o imóvel para uma das filhas, mãe de Nelson, que foi dona de um centro espírita na residência. "Era o Centro Espírita Nossa Senhora Auxiliadora. Ele começou com a minha avó Efigênia Franco Soares, depois foi para a minha mãe. Muita gente frequentava aqui, minha avó cuidava, minha mãe também, eu só olhava", lembra.

As mulheres da família tinham um "dom'' segundo Nelson, que atraiu muitos fiéis ao longo dos anos. "Essa casa era lotada. Antigamente não tinha esses móveis na varanda e as pessoas ficavam aqui esperando atendimento. Aqui era mesa branca, sabe?", questiona.

A latas antigas em cima do guarda-roupa ainda protegem objetos que chegavam até a casa, acompanhados de pedidos de paz, saúde e tranquilidade na vida. Nelson abre um dos recipientes cheios  de cartas, postais e fotografias que ele não reconhece.

"Naquele tempo era difícil ter médico quando não se tinha condição financeira. As pessoas vinham até aqui se curar e minha mãe curava. Muita gente saiu daqui sem dor nenhuma", garante.

E não era só saúde que as pessoas pediam. "Elas vinham atrás de tudo, até briga minha mãe já evitou", conta mostrando, uma cartucheira de couro antiga "apreendida".

Objetos antigos e imagens de santos estão na varanda.
Objetos antigos e imagens de santos estão na varanda.
Nelson guarda cartas que chegavam à família.
Nelson guarda cartas que chegavam à família.

A mãe faleceu em 1992, deixando a residência para os filhos. Nelson é casado há 37 anos com a Mariluce Espíndola, de 52, e nunca teve planos de largar a residência que foi cenário para as melhores lembranças da infância.

"Eu lembro de muita coisa. Minha mãe era uma pessoa muito boa, todo mundo gostava dela, a gente teve uma infância bem simples. Todo mundo corria descalço com pé sujo de terra por aqui. Era um tempo feliz", descreve com os olhos cheios de lágrimas. 

Nos fundos da casa com detalhes totalmente originais, também funcionava uma padaria. "Mas era caseira, fazíamos pão, doce e chipa para vender. Aí com o tempo foi parando".

Há 30 anos, o talento manual rendeu a Nelson produção de móveis e restauração em madeira. "Quando é muito antigo a gente lixa, raspa, enverniza e tenta manter o original. Mas também desenho e produzo", se orgulha.

Ele admite que sente tristeza por não ter continuado com o trabalho da mãe. "Eu não continuei porque não tenho o dom, mas o centro existe em outro lugar. Mas se eu pudesse, ele seria aqui", afirma.

Assim que os minutos apertam, ele encerra a conversa, mas com toda simplicidade faz um convite especial à equipe. "Querem almoço? Podem comer!", dá o recado. E depois de receber um agradecimento ele devolve com gentileza. "A casa é velha, eu sei, mas tá de portas abertas", avisa.

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Juntos há 37 anos, Nelson e Mariluce não pensam em deixar o imóvel.
Juntos há 37 anos, Nelson e Mariluce não pensam em deixar o imóvel.
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