ACOMPANHE-NOS     Campo Grande News no Facebook Campo Grande News no Twitter Campo Grande News no Instagram
MARÇO, TERÇA  19    CAMPO GRANDE 26º

Arquitetura

De 1975, antiga casa da família Braga continua chamando atenção pela arquitetura

Hoje escritório, construção fica na esquina da Rua 25 de Dezembro

Thaís Pimenta | 17/06/2018 07:30
Casa é discreta mas muito contemporânea, fica na Av Alvorada com a Rua 25 de dezembro. (foto: Fernando Antunes)
Casa é discreta mas muito contemporânea, fica na Av Alvorada com a Rua 25 de dezembro. (foto: Fernando Antunes)

Projetada pelo dinossauro da arquitetura campo-grandense, Lauro Malaquias, a casa da família Braga, hoje é escritório de Marco Aurélio Braga, filho do patriarca Carlos Alberto Valente Braga. A construção que fica na esquina da Rua 25 de Dezembro com a Rua Alvorada, no Jardim dos Estados, chama atenção pelo estilo da fachada, sem portões e repleta de formas geométricas.

De acordo com o próprio Malaquias, a casa foi construída em 1975 e faz parte da primeira fase de residências projetadas ao longo de seus 50 anos de carreira.

Lauro Malaquias é importante referência na arquitetura campo-grandense e projeto a casa dos Braga. (foto: Fernando Antunes)
Lauro Malaquias é importante referência na arquitetura campo-grandense e projeto a casa dos Braga. (foto: Fernando Antunes)

"Me formei no Rio de Janeiro, em arquitetura, na antiga Universidade do Brasil. Na época, Campo Grande era muito elitista e senti que precisava de mais bagagem pra voltar pra cá. Então trabalhei por cerca de 3 anos em São Paulo, no governo de Laudo Natel, e ao entrar no mercado de trabalho aqui me deparei com arquitetos formados em outras capitais que faziam uma arquitetura também muito cara. Acabei então formando um público de classe média porque eu sabia construir com um orçamento mais baixo", explica.

Lauro foi procurado por Carlos Alberto Valente Braga, que era um humilde vendedor de uma fábrica de toalhas, a Artex, para fazer o projeto de sua primeira casa. A residência promoveu uma verdadeira mudança de postura e melhora na autoestima do paizão. "Carlos me dizia que tinha muita vergonha de receber as pessoas na sua casa anterior àquela. Quando ele recebeu as chaves da residência não se aguentou de alegria", detalha o arquiteto.

Os irmãos e filhos de Carlos na casa, numa foto do passado. (foto: Fernando Antunes)
Os irmãos e filhos de Carlos na casa, numa foto do passado. (foto: Fernando Antunes)

Marco Aurélio diz que, realmente, ter o próprio lar foi a realização de um sonho para seu pai. "Morei lá durante minha infância, desde os 8 anos, até parte da minha adolescência. Fomos muito felizes na casa e hoje o espaço é meu escritório, que continua me dando alegrias", conta ele.

Mesmo humilde, Carlos formou muito bem os três filhos, Paulo Roberto Candia Braga, Marco Antônio Candia Braga e Marco Aurélio Candia Braga, médico e engenheiros mecânicos, respectivamente. "Saímos de casa para estudarmos e não voltamos mais".

Quase nada foi alterado na construção original da casa, apenas uma porta foi instalada para promover mais privacidade ao escritório. "A mudamos de lugar, na verdade", acrescenta Marco.

Os formatos redondos que compõe a fachada e acompanham toda a planta da casa foram usados, primeiro, por conta do terreno irregular da construção. "Se eu dispusesse de uma planta quadrada perderia muito espaço", justifica Malaquias.

O segundo motivo tem a ver com a marca de Lauro, que por muito tempo ficou conhecido como Lauro Tambor e Lauro Redondo, por conta de sua placa de propaganda que fica exposta durante a construção das obras. "Eu costumava trazer muito dessa forma pra dentro dos projetos. Na residência de Braga eu fiz uso de volumes, para aproveitar o terreno e tornar a obra mais barata". 

Sala  da casa hoje dá espaço a recepção do escritório de Maro Antônio.  (foto: Fernando Antunes)
Sala da casa hoje dá espaço a recepção do escritório de Maro Antônio. (foto: Fernando Antunes)
área externa era palco para as reuniões familiares e festas com amigos. (foto: Fernando Antunes)
área externa era palco para as reuniões familiares e festas com amigos. (foto: Fernando Antunes)

Na parte interna da casa, o arquiteto também soube aproveitar muito bem dos arredondados, que se tornaram um lavabo, um banheiro da suíte do casal e um corredor, respectivamente. "Para separar a sala dos quartos eu coloquei esse biombo feito em um mateiral da época, de vidro", completa.

O rasgo na fachada foi criado para ter a função de proteger a casa do sol do meio dia. "Se a gente deixasse o sol penetrar diretamente na parede seria impossível viver ali". Mas para além do uso, o rasgou a residência com ares ainda mais contemporâneos, lembrando até mesmo as construções feitas pelo mestre de Lauro, Oscar Niemeyer.

Os raios solares também apontam para a direção em que Lauro quis dar mais destaque: os fundos da casa. Ali aconteciam reuniões familiares semanalmente. "Lá era muita festa", lembra outro filho de Carlos, Marco Antônio Braga.

Banheiro preservado. (foto: Fernando Antunes)
Banheiro preservado. (foto: Fernando Antunes)
Biombo citado por Malaquias. (foto: Fernando Antunes)
Biombo citado por Malaquias. (foto: Fernando Antunes)

Lauro reitera que, por mais que o design da casa seja autêntico, a casa foi construída por um valor bem mais barato que da vizinhança. "Não foi ostentação, foi só o necessário. A estética acompanha a proposta do orçamento reduzido".

Além dessa imponente e, ao mesmo tempo, descreta residência, Lauro Malaquias assinou mais 150 casas na cidade, isso sem contar os prédios, que só na antiga Construtora Incol, 25 eram projeto dele.

Imponentes referências na cidade, como o Hotel Jandaia, é de Malaquias. Outras construções improváveis fazem parte da especialização que fez, em presídios."O projeto do presídio de Segurança Máxima é meu, do Presídeo de Trânsito e da Gameleira de Campo Grande também", finaliza ele.

Curta o Lado B no Facebook e no Instagram.

Torneira é a mesma desde a construção original da casa. (foto: Fernando Antunes)
Torneira é a mesma desde a construção original da casa. (foto: Fernando Antunes)
Banheiro escondido no armário embutido, como era costume no passado. (foto: Fernando Antunes)
Banheiro escondido no armário embutido, como era costume no passado. (foto: Fernando Antunes)
Azulejos de 1975 continuam nos banheiros. (foto: Fernando Antunes)
Azulejos de 1975 continuam nos banheiros. (foto: Fernando Antunes)
São verdadeiras raridades hoje em dia. (foto: Fernando Antunes)
São verdadeiras raridades hoje em dia. (foto: Fernando Antunes)
Nos siga no Google Notícias