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Arquitetura

Desenhada à mão pela dona de 83 anos, casa colonial tem grandes paredes e salas

Paula Maciulevicius | 11/06/2014 07:19
Paredes foram calculadas para abrigar os quadros da historiadora. Um deles, da "Guerra dos Farrapos". (Fotos: Marcelo Victor)
Paredes foram calculadas para abrigar os quadros da historiadora. Um deles, da "Guerra dos Farrapos". (Fotos: Marcelo Victor)

De fora, branca e azul e em estilo colonial. Por dentro, uma casa construída à base de uma sequência de “nãos” da dona que, depois de brigar com a arquiteta, resolveu aos 83 anos desenhar por ela mesma a planta em papel milimetrado.

“Eu queria fazer uma casa que não tivesse um degrau, a não ser o de entrada. Eu não queria peça pequena. Não quero churrasqueira no fundo, se chover, tem que tomar chuva? E eu precisava de parede para os meus quadros. Me falavam ‘faz assim’, mas eu não quero assim, essa casa era para dois velhos morar”, explica Maria de Lourdes Henck Real. Hoje, 2 anos e meio depois de se mudar, dona Lourdes está com 85.

Quando o Lado B bateu à porta ela estava cuidando do jardim, que cerca toda a entrada da casa no bairro Carandá Bosque, em Campo Grande. “Não sei por quê estão achando a minha casa bonita. A verdade é que eu sempre gostei de casa e eu sou muito antiga, tenho 85 anos”, se apresenta.

Como a dona quis, sala é ampla e sem divisões abriga três ambientes.
Como a dona quis, sala é ampla e sem divisões abriga três ambientes.

A história dela começa com a transferência das atividades profissionais do marido, médico veterinário, para Campo Grande. “Vim para cá por cinco anos. Um dia ele me perguntou ‘tu queres ir para a região central? Para Campo Grande? E eu me lembrei que era até bom vir, morava uma cidade muito úmida. Aí eu pensei, por cinco anos? Eu vou”. No entanto aqueles anos se transformaram em três décadas. “Mas eu só estou contando como vim parar aqui”, diz, como quem quer deixar de lado a própria história em função da casa.

Nem precisa dizer que dona Lourdes é gaúcha, nascida em Pelotas, no Rio Grande do Sul. A família acabou por se instalar aqui e foram várias as casas em que ela morou até chegar à colonial de agora.

Professora de história e geografia aposentada, ela queria se mudar para perto da filha. “Fui em umas 80 casas. Na vida, a gente só tem uma possibilidade e na minha idade, não dá para comprar roseira, já tem que comprar a flor”. A comparação é com a despedida que ninguém sabe quando pode chegar.

Na copa e área de lazer, cobertura para não deixar ninguém tomar chuva até a churrasqueira.
Na copa e área de lazer, cobertura para não deixar ninguém tomar chuva até a churrasqueira.
Em outra sala, também foi preciso muita parede para caber toda a coleção de azulejos.
Em outra sala, também foi preciso muita parede para caber toda a coleção de azulejos.

Por sorte ou mãozinha do destino, os dois terrenos em frente à casa da filha foram postos à venda. De imediato, dona Lourdes comprou e já começou a pensar do que queria. De pronto, um dos desejos estava na ponta de língua e também do lápis. “Eu queria uma casa plana. Quando você tiver a minha idade, vai se lembrar de mim”, avisa.

Entre o que queria, estava uma casa sem degraus, com peças maiores e todas juntas. E ai de quem ousasse argumentar. Por dentro, desde o hall de entrada, se vê a proporção como a senhora imaginou. Tudo grande, espaçoso, para que coubesse no mesmo ambiente, passado e futuro e uma coleção de quadros que vai desde a natureza morta até a Guerra dos Farrapos.

“Foi aí que meu genro me deu um papel milimetrado e eu comprei uns lápis de cor e desenhei. Sabia a medida dos meus quadros e o quanto precisava para eles. Eu fiz a planta e queria que desse a impressão, pelo menos a impressão de uma casa colonial”, explica sobre o modelo.

“Fui desenhando, desenhando e comecei a fazer isso que vocês vão ver agora”. Dita a frase, ela acompanha a equipe por um tour pelos três ambientes de sala, o escritório do marido, a copa, a cozinha e a sala onde estão guardados em paredes toda a coleção de azulejos.

Ao todo, a casa tem espaço e lugar para 60 pessoas sentadas. A churrasqueira divide parede com a copa, entre mesas e cadeiras, lá está um fogão à lenha. “A gente usa quando vai cozinhar e quer deixar a comida bem quentinha”, comenta Lourdes.

O que antes era 'roda', Lourdes transformou em vitral para a garagem.
O que antes era 'roda', Lourdes transformou em vitral para a garagem.
Bancos de sentar e luminárias enfeitam a fachada.
Bancos de sentar e luminárias enfeitam a fachada.
Donos da casa, Lourdes e Cláudio, tem 62 anos de casados e uma 'pausa' na entrevista para um carinho.
Donos da casa, Lourdes e Cláudio, tem 62 anos de casados e uma 'pausa' na entrevista para um carinho.

A garagem é coberta de plantas, tal qual como o jardim que apresenta a casa. “Só não pude fazer a janela característica das casas coloniais, porque teria que ter grade e eu não ia conseguir fechar”, lamenta. Lá fora, parte do portão branco veio da Espanha e foi retirado do mausoléu da família do marido de Lourdes, em Pelotas. A mesma trajetória tem a roda que hoje abriga os vitrais da garagem.

Dos ambientes preferidos, um salta aos olhos. É o escritório do marido, Cláudio Martins Real, entre uma parede coberta de homenagens e livros de homeopatia de um homem apaixonado pela cura animal, ela declara o amor do começo ao fim a ele, que interrompe. “Vou ter que beijar essa mulher, é muito elogio para mim”, diz. Esta é a única participação dele na entrevista. Cláudio explica que é porque é ela quem sabe dizer da casa.

Sobre as cores azul e branca, as que colorem a fachada, Maria de Lourdes explica que são estas as usadas na época colonial. “E também porque eu gosto muito de azul”.

Em ares de casa colonial, moradia chama atenção e desperta curiosidade no Carandá Bosque.
Em ares de casa colonial, moradia chama atenção e desperta curiosidade no Carandá Bosque.
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