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Arquitetura

Escondida no Taveirópolis, casa azul é herança cheia de portas, como mãe gostava

Erotilde gostava das portas para ter liberdade, o que não falta na casa simples onde Maria guarda as histórias da família

Alana Portela | 03/10/2019 07:12
A sala é divida em duas parte, a primeira com as cadeiras e outra com os sofás e televisão (Foto: Paulo Francis)
A sala é divida em duas parte, a primeira com as cadeiras e outra com os sofás e televisão (Foto: Paulo Francis)

Andando pelas ruas do bairro Taveirópois, um muro azul, com uma casa de madeira escondida pelo nivelamento do asfalto, chama atenção. A residência é simples, tem a pintura desbotada e é onde Maria Lúcia Rodrigues vive há mais de 30 anos. Na frente, uns degraus que dão acesso ao portão de ferro preto com plantas ao lado, decoram a parte de fora.

Maria Lúcia abriu o portão e deixou a Lado B entrar em sua residência. Aos 61 anos e muito tímida, ela contou a história da casa simples, que guarda tantas histórias quanto objetos colecionados com o tempo“Vim de Ponta Porã com minha mãe Erotildes Barbosa e meus irmãos. Meu pai trabalhava na ferroviária, mas foi assassinato tivemos que sair de lá. Minha mãe recebeu uma indenização e comprou essa casa que tinha acabado de ficar pronta. Na época, existiam poucas residências aqui”, lembrou.

Naquele tempo a rua ainda era "reta", diz, com a casa no patamar de outras pela região, status perdido com a alvenaria que dominou a vizinhança. “Aterraram muito depois para passar o asfalto e agora a casa ficou baixa”, relatou Maria. Logo na entrada, uma varanda pequena, com um banco de concreto onde ela e a mãe Erotildes passavam as tardes conversando.

Nos velhos tempos, as duas eram como carne e unha. “Só às vezes, brigávamos porque ela era teimosa e não deixava a gente cuidar dela”, recordou Maria.

Na varanda, está o banco de concreto que guarda histórias (Foto: Paulo Francis)
Na varanda, está o banco de concreto que guarda histórias (Foto: Paulo Francis)
Dois papagaios de gesso dão boas-vindas (Foto: Paulo Francis)
Dois papagaios de gesso dão boas-vindas (Foto: Paulo Francis)

Há seis anos, Erotildes faleceu após um acidente em casa. “Tinha 94 anos, estava com os ossos frágeis. Ela caiu e quebrou o fêmur, depois acabou morrendo. Acredito que cada um tem sua hora”, comentou. “Sinto a falta dela, bate a saudade. Tem noites que parece que ela está aqui comigo”, disse a filha.

Ainda na entrada, no canto superior da porta, dois papagaios de gesso dão boas-vindas e atraem sorte. “Minha mãe comprou há mais de 20 anos. Na época, passou um vendedor aqui perto de casa e ela achou bonito e comprou. Pendurou nesse canto, deve ser pra sorte, e nunca mais tirei”.

Na sala, duas cadeiras de fio ficam ao lado da porta, para caso Maria queira sentar e sentir o ar que vem de fora. A sala é divida em duas partes, a primeira onde ficam as cadeiras, uma mesa antiga de mármore e um espelho grande na parede. Na outra metade, estão dois sofás, televisão, estante e os quadros de madeira decorando o ambiente.

Um detalhe curioso são as portas da casa, todas de madeira e pintadas de azul para combinar com a cor do lugar. São seis cômodos, três quartos onde têm duas portas cada, sala, cozinha e banheiro.

“Minha mãe gostava das portas para ter liberdade. No quarto onde dormia tem duas, uma para acessar a sala e outra a cozinha. Ela ficava pelas portas da casa, olhando a paisagem”, recordou. Depois, ia para sala. “Parava para assistir televisão, tudo que passava ela via. A noite chamava a gente pra conversar”.

Na cozinha, alguns móveis antigos deixados pela primeira dona da casa  (Foto: Paulo Francis)
Na cozinha, alguns móveis antigos deixados pela primeira dona da casa (Foto: Paulo Francis)
A casa está meio escondido no bairro Taveirópolis (Foto: Paulo Francis)
A casa está meio escondido no bairro Taveirópolis (Foto: Paulo Francis)
(Foto: Paulo Francis)
(Foto: Paulo Francis)

O piso da casa é uma mistura de azulejo com piso de cera vermelha. Os móveis da cozinha são antigos e alguns com adesivos para disfarçar a idade. No fogão quatro bocas era onde Maria fazia a alegria da mãe. “Gostava quando preparava mingau. Hoje, cozinho pouco, o que sobre da janta esquento para o almoço”, relatou a filha.

Apesar de morar na Capital há muitos anos, Maria começou a conhecer os bairros da cidade depois do falecimento da mãe. “Não saia pra quase nada. Apenas para pegar o dinheiro para ela. Quando saia no portão ela gritava meu nome, então ficava para fazê-la se sentir bem. Agora, vou em outros locais, na Vila Alba”.

A casa hoje é uma herança com valor imensurável. “É minha herança. Vivi bons momentos aqui, criei meus filhos, ajudei minha mãe. Não tenho sonho de riqueza, gosto das coisas simples”.

Seu passa tempo hoje é as plantas. “Essas sim são minhas alegrias. Fico plantando e cuidando das plantas. Tenho as Samambaias, coloquei uma Jiboia para cobrir umas das portas que minha mãe fez. Sou manicure, tenho minhas clientes fixas que vêm aqui durante a semana”. E é nessa rotina pacata, que Maria Lúcia vai levando a vida.

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Uma jiboia cobre uma das portas da casa (Foto: Paulo Francis)
Uma jiboia cobre uma das portas da casa (Foto: Paulo Francis)
As plantas estão por todos os lados da residência (Foto: Paulo Francis)
As plantas estão por todos os lados da residência (Foto: Paulo Francis)
Na varanda, a cor azul e as plantas tomam conta do local (Foto: Paulo Francis)
Na varanda, a cor azul e as plantas tomam conta do local (Foto: Paulo Francis)
Até a casinha de um cachorro é azul (Foto: Paulo Francis)
Até a casinha de um cachorro é azul (Foto: Paulo Francis)
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