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Arquitetura

Pela necessidade, família constrói casa de garrafas pet

Ângela Kempfer | 19/11/2012 07:30
Entrada da casa no Jardim Seminário. (Fotos: Rodrigo Pazinato)
Entrada da casa no Jardim Seminário. (Fotos: Rodrigo Pazinato)

Na avenida de tráfego rápido, só quem tem o olhar ligeiro percebe a casa feita com garrafas de plástico. Há, inclusive, um portal de entrada, com arandelas também de material reaproveitado.

Na sequência, uma pequena escadaria sinuosa leva à casa principal, caminho executado com restos de construção.
Pelo chão, nos retalhos de cerâmica, é fácil encontrar, inclusive, pedaços de porcelanato, um dos materiais mais caros no mercado.

“Aqui na região, tem um monte de gente rica construindo cada mansão... É incrível o tanto de coisa que eles jogam no lixo. A gente vai com o carro e recolhe tudo”, conta a dona da casa no Jardim Seminário.
Maria Aparecida Fernandes é mãe de dois filhos. Uma mulher falante, vaidosa, que lava roupas para clientes como forma de ajudar o marido que trabalha em uma borracharia.

Justamente por a vida não ser fácil, os dois resolveram encarar o desafio de construir uma casa, mesmo sem dinheiro. E a falta de recursos acabou libertando a família para criar.

“A gente teve de arrumar uma forma de levantar as paredes. Sem dinheiro, até que as coisas ficam fáceis quando se tem criatividade”, explica Aparecida, dando o crédito ao marido. “A ideia é dele e nós vamos executando”.

Com a família toda dividindo pouco mais de 10 metros quadrados, o primeiro cômodo levantado com as garrafas pet foi o quarto da filha caçula. Paloma ganhou uma suíte fresquinha, iluminada, com garrafas de plástico no lugar dos tijolos e para-brisas de carro como vidraça.

“Eu ajudei colocando água dentro das garrafas. Todas são assim, cheias de água. É bom no verão porque fica bem fresco no quarto”, comenta a menina com jeito de modelo aos 17 anos.

As paredes da suíte da filha caçula.
As paredes da suíte da filha caçula.

Tudo por ali é assim. Até a casinha do gato é toda de plástico. Quando a garrafa não está na parede, a tambinha é usada para prender um parafuso, dar o acabamento.

“O mais bonito é de noite, quando tudo fica iluminado. Vira e mexe alguém para aí na frente, para tirar fotografia”, lembra Aparecida.

Quantas garrafas foram usadas? “Vixi, agora você me pegou. Foram centenas. Meu marido saiu recolhendo na rua”, diz Aparecida. Se há vazamento em algum lugar, é possível substituir a pet, apenas com algumas marteladas e depois um pouco de reboco.

O esposo, artista da família, nunca fez curso algum, nem revistas de arquitetura costuma ler, conta a mulher. Tudo que faz é pela criatividade, a intuição. O único entendido na família era o sogro Raimundo.

O pai de Aparecida, que morava ao lado, morreu há um mês, em acidente de moto, mais uma vítima do trânsito em Campo Grande.

Agora, apesar da obra de arte concluída, a saudade faz ela pensar em vender a casa. “A gente gosta daqui, meus filhos adoram, mas se alguém quiser comprar, eu vendo. Não consigo passar todos os dias pela casa do meu pai. Sinto muito a falta dele”, diz a filha do pedreiro morto aos 68 anos.

Até a casa do gato é feita de garrafas, com destaque o detalhe das tampinhas de refrigerante no acabamento.
Até a casa do gato é feita de garrafas, com destaque o detalhe das tampinhas de refrigerante no acabamento.
Dentro até a luz é diferente, ecologicamente correta.
Dentro até a luz é diferente, ecologicamente correta.
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