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Arquitetura

Famílias e seus malabarismos para viver em casas populares com 32 m²

Ângela Kempfer | 17/07/2012 11:35
Cristiane já conseguiu deixar a casa bonitinha, no Residencial Iguatemi.
Cristiane já conseguiu deixar a casa bonitinha, no Residencial Iguatemi.
Cozinha foi anexada á casa e integrada à sala.
Cozinha foi anexada á casa e integrada à sala.

Cinco pessoas em uma casa de 32 metros quadrados não é tarefa para qualquer um. Mas é o jeito para quem conseguiu, pelo menos, uma casa popular em Campo Grande. Como essas famílias se organizam é malabarismo que sempre aguçou minha curiosidade, por isso resolvi fazer algumas visitinhas.

Justiça seja feita, nem só em condomínios entregues pela prefeitura e pelo Estado são tão minúsculos. Hoje em dia, os apartamentos de construtoras como Homex e MRV não são muito maiores, tem 42, 44 metros quadrados e alguns ainda conseguem dividir isso em 3 quartos, salas e cozinha.

Para viver em apartamentos e casas tão pequenas, o jeito é começar se livrando dos móveis. No Residencial Iguatemi, na saída para Cuiabá, entregue pela prefeitura há 2 anos, a família de Moisés Lopes teve de dar os sofás e camas aos parentes para se adequar ao novo imóvel.

“A gente vivia de aluguel e tinha mais coisas. Aqui não cabe nada”, comenta. Para quem esperou tanto por um imóvel na fila da Emha (Empresa Municipal de Habitação), entrar em uma casa minúscula, sem nenhum acabamento e com material muito frágil, foi chocante. “A gente não pensava que fosse tão precária. Foi uma desilusão", lembra.

O cômodo principal é sala e cozinha, onde mal cabe a televisão e a geladeira. Para arrumar a casa, os sofás foram vendidos e no lugar estão agora duas cadeiras de cordas em frente à TV. Um passo depois, a geladeira e o fogão demarcam a cozinha, onde não é possível mais de 2 pessoas em pé.

A caçula da casa, Laís, convida para conhecer o quarto que divide com os dois irmãos. Os meninos dormem juntos em uma cama de solteiro e a pequena de 4 anos ainda dorme no berço, que o pai serrou para ficar maior.

A vantagem é o terreno bem maior que a casa. Como domina o ofício, o próprio Moisés começou a construir uma varanda há 8 meses e também pretende quebrar paredes para viver melhor.

“Eu queria uma beliche, mas não sobra dinheiro”, conta Moisés que durante o dia faz trabalhos de pedreiro e á noite é frentista.

Cadeira de cordas virou sofá em sala que divide espaço com a cozinha na casa de Moisés.
Cadeira de cordas virou sofá em sala que divide espaço com a cozinha na casa de Moisés.
Há 8 meses ele levanta a varanda para ter mais qualidade de vida.
Há 8 meses ele levanta a varanda para ter mais qualidade de vida.

Na outra quadra, há dois anos a família Moraes tenta expandir. Quando mudaram, a falta do muro era o que mais tirava do sério a dona de casa Cristiane. “Além da poeira brava, as pessoas passavam dentro do quintal, só faltava dar tchauzinho”, conta.

De saída, ela e o marido apertaram as finanças e conseguiram levantar o muro e no ano seguinte começaram a reforma. “A gente sabe que a nossa condição é um pouco melhor, então estamos conseguindo melhorar”.

Apesar da simplicidade, Cristiane conseguiu pensar em um projeto perfeito para o imóvel de 32 m². Quebrou paredes, ampliou a sala para o lado, colocou um balcão e integrou sala e cozinha. “Não foi fácil, porque tem de fazer a reforma com todo mundo aqui dentro. Por dois meses a gente ficou trancado no quarto das crianças, com pedreiro andando para um lado e para o outro”, lembra a mãe de Vinícius, de 3 anos, e Raíssa, de 7.

Na frente, ela ainda espera poder construir uma varanda. “Faz muito falta, né”, argumenta.

Pelos residenciais populares, o que primeiro surge é justamente a varanda, algo que só existe no Brasil com tamanha frequência, explica o arquiteto Gogliardo Maragno, que teve como tese de doutorado "As Varandas na Arquitetura Brasileira: adequação ambiental e sustentabilidade", mas isso é assunto para outra reportagem aqui no Lado B.

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