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Artes

Em aniversário, grupo reúne MC’s e poetas na intenção de fortalecer a periferia

O Slam Campão nasceu em 2017, com o intuito de dar voz a periferia e gritar as indignações e dores através da palavra

Alana Portela | 18/08/2019 08:15
Mc's durante o enfrentamento direto na batalha de rima (Foto: Henrique Kawaminami)
Mc's durante o enfrentamento direto na batalha de rima (Foto: Henrique Kawaminami)

Já são dois anos de foco na missão com Slam Campão, em Campo Grande. O grupo surgiu com a proposta de fortalecer o cenário cultural da periferia, com encontros onde as criticas viram poesias. “A proposta é fomentar a poesia falada e usamos essa plataforma para desenvolver a arte como um todo. Expandimos a ideia nesse tempo”, diz o criador do Slam, Thales Henrique da Silva.

O Slam está nas ruas desde 2017 e nesse tempo virou incentivo para que novos grupos surgissem, inclusive, um formado só pelas meninas. O grupo ocupa praças, terminais de ônibus e outros espaços públicos para promover vários eventos culturais na Capital e ontem parou no Kafofo, localizado no bairro São Francisco, para comemorar o aniversário. 

A data não poderia passar em branco, por isso organizaram a primeira edição do “Street Culture”, com poetas e MC’s para disputada de versos. “Fazemos tudo na raça, preparamos uma batalha do ‘Vai ou Racha’. Esses eventos culturais têm aumentando, mas por iniciativa própria. O pessoal se reúne mais para fortalecer a cena”, disse Thales.

Thales Henrique da Silva é o responsável pelo grupo Slam Campão  (Foto: Henrique Kawaminami)
Thales Henrique da Silva é o responsável pelo grupo Slam Campão (Foto: Henrique Kawaminami)

O evento começou às 19h, com a galera empolgada. Para animar o espaço, ocorreu o “mata, mata” de MC’s. Os artistas se enfrentaram e mostraram que são bons na arte de improvisar. “As batalhas aumentaram bastante. Fazemos tudo na raça, sem nenhum apoio, essa é a ideia do Street Culture, misturar artistas”.

O estudante Geovanne Costa, conhecido por MC Cruel, é um dos ligados aos movimentos “underground” e leva a sério as rimas. “Gosto de batalha de poesias assim como de MC’s. A gente faz as rimas de improviso, quem decora não consegue pensar rápido. É uma maneira de expandir vários cantos”.

Ele é o organizador da Batalha da ZO (Zona Oeste), que acontece aos domingos na Praça do Panamá. Contou que assim como o Slam, o ZO também está completando dois anos de resistência. “Eu cheguei por outras pessoas, assim como outras chegaram na arte por minha causa. A tendência é o movimento crescer, a gente se une para fazer o rap. Temos o respeito dos moradores, mas a cultura de rua em Campo Grande tem muita repressão, isso não dá pra negar. Por mais quese tente fazer as coisas certas, ainda sofre muito”.

O psicólogo, Willian Schmitt, contou que participou pela primeira vez do evento (Foto: Henrique Kawaminami)
O psicólogo, Willian Schmitt, contou que participou pela primeira vez do evento (Foto: Henrique Kawaminami)
Ray Clemente Raimundo afirmou que os eventos com batalhas tem mais repressão do que apoio da população  (Foto: Henrique Kawaminami)
Ray Clemente Raimundo afirmou que os eventos com batalhas tem mais repressão do que apoio da população (Foto: Henrique Kawaminami)

O professor, Luis Falcão,35 anos, sempre acompanha os eventos de poesias e rap que acontecem na cidade. “Esses encontros servem para que as pessoas possam se expressar através da arte que é o rap, aquilo que sentem. É uma confraternização. Faz pouco tempo que acompanho a poesia. Brinco de escrever, mas não tenho esse dom que eles têm. Não é fácil de fazer isso”.

Segundo ele, os eventos tem aumentado, mas falta apoio. "Pelo fato de ser um ambiente mais descolado, as pessoas se assustam e ficam com medo de dar apoio à galera. Mas é só paz e amor, é uma questão de visão, todos somos parceiros e queremos trazer falas de motivação”, afirmou Falcão.

Ray Clemente Raimundo tem 20 anos e trabalha com o audiovisual. Conhecido no meio como RCR, também participou da batalha ontem. “Já cantei em outros eventos. O Slam traz gente nova, isso é importante. Está aumentando esse tipo de evento, mas ainda falta criação de eventos específicos. Temos que fazer eventos mais abertos para ter gente, as pessoas ainda não conhecem. Tem mais repressão que apoio, hoje temos mais facilidade de arrumar um espaço privado do que um lugar público”.

A produtora cultural, Angela Finger, 58 anos, é experiente em manifestações artísitcas, mas participou do evento pela primeira vez ontem. Ela enxerga a proposta como instrumento de modificação. "Na Capital tem vários movimentos na periferia, a moçada conta os problemas do cotidiano, pessoais, da localidade onde moram através da música”.

Para ela, a questão da iniciativa dos grupos é fundamental para a conquista de espaço. “O que me encanta no movimento é a independência deles, cada um traz o que tem, reúnem e fazem acontecer. Eles não querem ficar dependentes, isso é uma evolução”.

O público olhando para os mc's se preparando para a improvisação (Foto: Henrique Kawaminami)
O público olhando para os mc's se preparando para a improvisação (Foto: Henrique Kawaminami)

O psicólogo Willian Schmitt também apareceu pela primeira vez no evento que misturou rap e poesias. “Os movimentos são legais. É um grande tesouro, as pessoas que se compadecem”, disse. Já sobre o preconceito na sociedade, ele afirmou. “É preciso analisar uma linha histórica, a lógica das pessoas é construída como se a cultura de que eles não compartilham valesse menos. O hip hop faz bem, e a prova disso é ver a galera reunida numa paz e falando de amor”, destacou.

A estudante, Vitória Krolow, 22 anos, usou o microfone para recitar seus versos que escreveu para incentivar as mulheres. “O machismo está encruzilhado, existe a falta de compreensão do homem. Têm mulheres sofrendo violência, porém, é a gente manda no nosso corpo”.

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Várias pessoas foram conferir a batalha de mc's (Foto: Henrique Kawaminami)
Várias pessoas foram conferir a batalha de mc's (Foto: Henrique Kawaminami)
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