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Artes

Em meio a turbulência, palhaçadas deixam o dia mais leve na Cidade de Deus

Aline Araújo | 22/11/2014 16:18
Palhaço Challito fez a alegria das crianças na manhã de sábado. (Foto: Simão Nogueira)
Palhaço Challito fez a alegria das crianças na manhã de sábado. (Foto: Simão Nogueira)

Nem a chuva que caia lá fora impediu que os espetáculos da mostra Pantalhaços alegrassem o sábado na favela Cidade de Deus. A escolinha “Filhos da Misericórdia”, mantida na comunidade graças a voluntários, serviu de picadeiro, e as crianças e adultos que foram assistir a apresentação montaram a plateia por ali mesmo.

As primeiras crianças a chegar correram para chamar as outras que ainda não tinham saído de casa, algumas vieram na chuva mesmo, aos poucos todas se acomodaram, ansiosas com o inicio dos espetáculos "Mão a Mão", do Circo LeChapeau do Rio de Janeiro e também com o Palhaço Challito

As menores estavam mais acanhadas e com um pouco de medo dos palhaços, mas aos poucos foram se soltando e entrando na brincadeira, encantadas com tantas cores e acrobacias diferentes. Não é a primeira vez que elas encontram um palhaço por ali, mas o momento é delicado na comunidade, com a possibilidade de transferência, e o sorriso provocado nas apresentações não poderia ter chegado em hora melhor.

Cerca de 30 crianças e alguns adultos se amonturaram na escolinha para assistir a apresentação. Os olhos estavam brilhando, um momento de descontração, mas tem um significado todo especial quando o assunto é a popularização da cultura.

Junior e Nicolle apresentaram o espetáculo Mão a Mão. (Foto: Simão Nogueira)
Junior e Nicolle apresentaram o espetáculo Mão a Mão. (Foto: Simão Nogueira)

“É legal, é uma coisa que eles (as crianças) não vem sempre e se dependessem dos pais pagarem para eles assistirem, a maioria não teria condição”, comenta Luana Santana de 20 anos, moradora da comunidade que assistia ao espetáculo com o pequeno Luanderson, de dois anos, no colo.

Antes de começar a brincadeira, as crianças comeram um lanche servido na escola, leite e bolachas

Depois da primeira apresentação, Laila Pulchério, uma das produtoras do Pantalhaços, usou o microfone para dar um recado importante. “Para eles chegarem a essa apresentação para vocês, eles precisaram estudar muito. Qualquer trabalho que a gente resolva fazer na vida exige bastante conhecimento. Se vocês quiserem seguir a carreira artística, que é muito bacana, é preciso se preparar”, orientou.

Laila conta que a organização até cogitou desistir da apresentação, por conta dos acontecimentos da última semana, quando os geradores que abastecem a favela foram desligados e o clima de tensão entre a comunidade e a prefeitura se estreitou. Mas a equipe percebeu o quando era importante garantir a eles o acesso à arte. Além disso, as apresentações estimulam o interesse das crianças em economia criativa e mostram que a arte também é uma via na hora de se profissionalizar.

A escolinha virou um picadeiro para receber as atrações. (Foto: Simão Nogueira)
A escolinha virou um picadeiro para receber as atrações. (Foto: Simão Nogueira)

“É super importante quando se realiza um evento com um recurso público e levar a arte para os lugares onde o acesso é mais difícil. Não tem porque deixar ela restrita aos centros. Até porque, também é uma maneira das crianças verem que arte pode ser profissionalizante e pode sim gerar renda”, comenta o artista circense Junior Oliveira, de 26 anos, que é sul-mato-grossense mas atualmente trabalha no Circo Le Chapeau, no Rio de Janeiro.

Na apresentação, Junior contracena com Nicoli Felix Rodrigues, de 21. Os dois fazem acrobacias no solo e brincam com as crianças, que se empolgam com o saltos dos dois. No aquecimento, algumas até se aproximaram para imitar os exercícios de alongamento.

O palhaço Challito também arrancou sorrisos com palhaçadas simples, clássicas, contanto sempre com a participação das crianças que nem piscavam prestando atenção.

O espetáculo na comunidade mobilizou tanto o festival, que até o palhaço mexicano Aziz Gual, que veio para participar de outra apresentação, fez questão de ir conhecer a comunidade. “É o mais importante, o palhaço vem do coração e o humor nasce quando a sociedade está em crise, por necessidade. Que o coração possa unir e solucionar os problemas. O palhaço tem o papel social de integrar, e as crianças são o inicio de tudo, e na linguagem do palhaço as fronteiras não existem”, ensina.

A mostra continua até amanhã à noite. Clique aqui para fazer o download da programação completa.

Quem queria assistir acabou se apertando na escolinha por conta da chuva. (Foto: Simão Nogueira)
Quem queria assistir acabou se apertando na escolinha por conta da chuva. (Foto: Simão Nogueira)
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