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Artes

Manoel na lição de casa

Lenilde Ramos | 13/11/2014 19:15
Lenilde e Manoel. (Foto Claudio Savaget)
Lenilde e Manoel. (Foto Claudio Savaget)

Quando meu mundo era só uma aldeia, saí do internato e fui direto pro curso de Letras da Fucmt em 1970. Na prática, eu era uma bocó de fivela: 17 pra 18 anos, idade emocional de 12 pra 13. Usava saiote e combinação e nunca tinha namorado.

O bom é que praticava esportes e tocava sanfona, o que me deixou fisicamente ágil. Na teoria, minha cabeça viajava porque saí do colégio falando inglês, francês e latim, lendo Kafka e Nietsche, pra desespero das freiras, convivendo com Fellini, Rosselini, Bergmann e Buñuel, por causa de Irmã Silvia, minha freira-mãe que adorava cinema e transformou sua paixão em matéria de escola.

Foi nessa época que Glorinha Sá Rosa me levou para seus festivais no Clube Surian. Na faculdade, a maior parte de minha turma era de adultos casados e eu me sentia um peixe fora d´água até que conheci uma moça baiana que tinha morado no Rio de Janeiro: Anoemísia Santana Durães.

Ela me proporcionou conviver com seu mundo e essa amizade foi um diferencial em minha vida. Seu apelido era Noca: inteligente, fina, despojada e voluntariosa. Glorinha Sá Rosa era nossa professora de Literatura e um dia Noca falou: "Vamos fazer os trabalhos na casa da Martha, porque o pai dela pode nos auxiliar".

Martha morava na 15 de Novembro com a Rui Barbosa e realmente o pai dela auxiliou um tantão: homem calmo, voz tranquila e olhos brilhantes sob lentes grossas.

Voltei outras vezes com Noca e um dia o pai da Martha me deu um livrinho. "...uau... o livrinho era dele mesmo !!! " O pai da Martha era poeta e o livrinho se chamava Gramática Expositiva do Chão, impresso em 1966.

Adorei o livrinho, devorei o livrinho e comecei a brincar de música com ele. Foi assim que conheci Manoel de Barros e guardo com apreço o som de sua voz dizendo: "velha amiga..." Viva Manoel!!

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