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Artes

Menino que fugiu de casa e viveu em orfanato hoje comemora 18 anos de carreira

Naiane Mesquita | 13/09/2015 09:24
Menino que fugiu de casa e viveu em orfanato hoje comemora 18 anos de carreira

Por trás do óculos Ray-Ban azul royal, o músico Leonardo Bugalu esconde uma simpatia de dar gosto. O sorriso vem fácil ao falar da comemoração dos 18 anos de carreira que ele prepara para este domingo, dia 13 de setembro, na Chácara Tropicalia, com direito a estrogonofe no almoço e caldos para o final da tarde.

O relacionamento com a música, que é motivo de celebração para ele, começou ainda na adolescência de forma espontânea.

O primeiro presente do gênero foi um violão enviado pela tia à instituição religiosa que Bugalu morou quando pequeno. “Era uma tia de segundo grau. Era a única parente que sabia do meu paradeiro, uma vez ela me visitou, viu meu interesse pelos instrumentos e enviou um violão de presente pra mim”, relembra o cantor.

Menino que fugiu de casa e viveu em orfanato hoje comemora 18 anos de carreira

Bugalu morou dos 10 aos 15 anos na instituição religiosa Comunitá Encontro, na Bolívia. Foi parar lá seguindo os trilhos de Corumbá a Santa Cruz de La Sierra, deixando para trás um lar que ele considerava desestruturado e infeliz. Pequeno ainda, com pouco mais de 9 anos, ele andou pelas ruas da cidade, sem ter onde comer ou dormir.

“Montei em um trem com uma família de vendedores bolivianos. Fiquei andando sem rumo, como era criança e brasileiro contava com a ajuda de quem passava, tive muita sorte nesse tempo, por ser brasileiro as pessoas me tratavam bem. Foi uma fase que hoje contando, falo de forma positiva, mas era difícil. Fiquei um ano na rua, sobrevivendo do amparo de pessoas desconhecidas”, conta.

Quando o destino parecia não revelar mais surpresas, o músico conheceu um padre que o levou a comunidade. “Essa comunidade ajudava pessoas no mundo todo, normalmente quem tinha problemas com álcool, drogas ou menores abandonados. Na Europa e nos Estados Unidos os problemas eram mais as drogas, aqui eram as crianças”, diz.

Na instituição, ele conta que teve a oportunidade de conhecer um pouco o mundo. “Viajei bastante. Andei pela Itália, Espanha, Costa Rica, Bolívia, Chile e Peru. Onde ficavam as sedes da intuição. Mais dois anos e eu me tornava padre. Um dia resolvi visitar minha mãe que ainda morava em Corumbá e não voltei mais para a instituição”, explica.

A mãe sempre foi dona de casa e o pai era maquinista da Noroeste do Brasil. Bugalu diz que na verdade nasceu em Aquidauana, mas se considerada totalmente corumbaense. “Aos 3 meses eu já morava em Corumbá. Minha família toda é de lá”, se orgulha.

De volta a terra natal agora com 15 anos, ele se entregou de vez a música e ao samba, o maior berço do gênero em Mato Grosso do Sul. “Foi uma paixão muito grande e até uma válvula de escape. Ela entrou dentro de mim de uma forma que em seis meses fora da comunidade eu estava tocando em um grupo de pagode, ganhando os primeiros cachês, pagando os primeiros alugueis”.

Autodidata aprendendo na rua, ele diz que “Corumbá foi uma boa escola de samba”, mas que como todo jovem ele ainda queria mais. “Na adolescência eu e mais três tivemos o sonho de fazer sucesso no Brasil. Viemos para Campo Grande em quatro e depois de cinco meses só restou eu aqui. Era difícil no início, tínhamos que tocar pra comer, para ter uma vida, nem todo mundo estava acostumado a ter as dificuldades. Enquanto nós éramos um conjunto foi mais fácil arrumar trabalho, sozinho é que piorou”, explica.

Mais uma vez, o jeito foi receber um empurrãozinho. “Muitos amigos que sabiam da minha história me ajudavam com apoio moral e economicamente também. Depois, eu entrei em um grupo que chamava Dito e Feito, foi onde eu tive uma história bonita. Ele se transformou em Kitafeito porque já existia uma banda com o mesmo nome. Tivemos bons momentos juntos, cerca de quatro ou cinco anos, gravamos discos”, diz, com saudade.

Nesse caminho ele ficou até 2006, quando decidiu que era hora de se separar. “Como instrumentista eu toquei com famosos, como Neguinho da Beija Flor, Dudu Nobre, Leonardo do Molejo. Nunca tive aulas, mas eu sempre fui um bom observador, sempre gostei de olhar os bons violonistas aqui do Estado”.

Para ele, tudo isso faz parte do estilo Bugalu de ser. “É tocar a música fazer uma releitura dela. Nunca toco igualzinho ao dia anterior, é uma marca minha. A música é influência sempre pelo estado de espírito”, acredita.

Informações sobre a comemoração de 18 anos de estrada de Leonardo Bugalu no domingo (13) pelo telefone (67)9684-4062 e (67) 9300-7096.

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