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Artes

No fim do ano, toda criança vira bailarina, independente de qualquer limitação

Paula Maciulevicius | 15/12/2014 10:45
Não que eles não sejam bailarinos o ano inteiro, mas é no espetáculo que eles realmente se tornam diante do público. (Foto: Luciano Muta)
Não que eles não sejam bailarinos o ano inteiro, mas é no espetáculo que eles realmente se tornam diante do público. (Foto: Luciano Muta)

As luzes se apagam, as cortinas se abrem e de pequenininho a adulto, todo mundo vira bailarino. Nas escolas de balé, nos colégios convencionais... Fim de ano faz muita gente estrear na sapatilha, independente de condição física ou financeira. O palco não se ilumina só para meninas não, também tem menino dançando.

A correria para o grande dia começa com a prova do figurino, os ensaios gerais. O “antes” parece durar uma eternidade perto das primeiras piruetas no palco. Quando eles estão em cena, o relógio corre segundo o ritmo da música e antes que se perceba, já está agradecendo. Passa rápido demais.

Na coxia, o que se sente é um frio na barriga. O medo, a ansiedade, o receio de que algum passo não seja feito como no ensaio tomam conta, mas a produção equilibra as emoções. Não tem bailarino que não goste de se olhar no espelho. Cabelo arrumado, maquiagem feita, figurino no corpo e sapatilha nos pés: quando chega a sua vez, é a hora de brilhar, não importa a limitação.

Uma das alunas que se tornou o 'xodó' da professora de balé Thayná Moura, de 17 anos, também fez sua estreia na dança neste fim de ano. A menininha Luísa, com Síndrome de Down, rouba a cena até nas aulas. "Como toda criança, ela faz tudo certinho, perfeito, mas quando quer. Quando não quer, não adianta", brinca.

Outro detalhe visto no palco, nem sempre as crianças fazem exatamente os passinhos, às vezes a própria roupa ou a plateia chamam mais atenção deles. Mas ainda assim, tudo sai uma graça. "Ela me chama de prô balé, não me dá trabalho nenhum, é muito fofa", completa. 

Para crianças esta é a primeira coreografia que Thayná monta sozinha. "A gente já está acostumada a ficar nervosa, eu gosto dessa ansiedade, mas para eles, tem que passar segurança", afirma.

Fernanda, aos 5 anos, faz a família chorar ao fazer os passinhos. (Foto: Luciano Muta)
Fernanda, aos 5 anos, faz a família chorar ao fazer os passinhos. (Foto: Luciano Muta)
Quando as luzes se acendem neles, é a hora de brilharem. (Foto: Luciano Muta)
Quando as luzes se acendem neles, é a hora de brilharem. (Foto: Luciano Muta)
De um projeto de dança de Jaraguari, os integrantes tem de 3 meses a 8 anos de balé. (Foto: Alcides Neto)
De um projeto de dança de Jaraguari, os integrantes tem de 3 meses a 8 anos de balé. (Foto: Alcides Neto)

Bailarina desde sempre, a professora de dança, Cláudia Moura, de 40 anos, descreve que este momento é “mágico”. “É diferente de tudo o que você pode realizar”. Como professora e coreógrafa, ela conta que vive as sensações pelos alunos. “Dá um frio na barriga, porque eles quere mostrar um trabalho bonito e nós por realizar esse trabalho”.

Nos ensaios gerais, já se começa a contagem regressiva: do tudo ou nada. Ali, eles ainda podem errar. Foi num ensaio geral do espetáculo 1° Mostra de Dança – ENCONTROS, que o Lado B encontrou a bailarina Maria Eduarda Moura Verão, de 7 anos. Dançarina desde a barriga da mamãe, ela fala que vai apresentar um balé “animado”. “Eu sei que na nossa coreografia, somos flores. Minha roupa? É de tutu mesmo”, explica.

A emoção toma conta da pequena que dividirá o palco com mais 12 coleguinhas. “Quando entra e dança a gente sente um alívio, vê todo mundo batendo palma, a gente acalma”.

As 4h diárias em que se dedica no balé, Yasmin Salame, de 16 anos, chega até a ouvir bronca dos pais. Mas as reclamações caem por terra quando a cortina se abre e as luzes estão no palco. “O começo é um pouco estressante, a gente ensaia o ano inteiro para ter os aplausos da plateia”, diz. Como dança desde os 5 anos, quando a época de espetáculos começa, ela já se acostuma com o nervosismo. “Faço uma oração e alivia tudo”.

No ensaio geral, elas ainda podem errar. (Foto: Marcelo Calazans)
No ensaio geral, elas ainda podem errar. (Foto: Marcelo Calazans)

O frio na barriga é sempre presente para Renata Escobar, bailarina desde os 7 anos bailarina, hoje tem 12 e não vê a hora de subir ao palco. “Porque a gente vem esperando o ano inteiro e acaba tudo tão rápido. É a hora que me sinto bailarina mesmo, é a hora de brilhar, de se apresentar”. E claro, de ter o trabalho reconhecido.

Quando chega o dia, o nervosismo toma conta, assim como a felicidade de ser o centro das atenções. De um projeto de dança de Jaraguari, os 15 integrantes da companhia que conversam com o Lado B tem desde 3 meses a 8 anos de balé.

Eles ensaiam uma vez na semana, aos sábados, quando a professora vai daqui para lá, mas em véspera de apresentação, se reúnem por conta própria, mais vezes, na varanda da casa de uma das bailarinas, que se transformou em sala de balé.

O nervoso faz com que o bailarino há 6 meses Guilherme Amaral, de 15 anos, mal consiga se expressar. “É uma emoção, estou até sem palavras para descrever”, admite. Como a apresentação era na Capital, ninguém da família veio vê-lo. Mas isso não foi problema. Ele tinha plateia, e é o que basta.

E o nervosismo e a emoção toma conta da dupla que logo logo vai se apresentar. Ele tem meses, ela anos de balé. (Foto: Alcides Neto)
E o nervosismo e a emoção toma conta da dupla que logo logo vai se apresentar. Ele tem meses, ela anos de balé. (Foto: Alcides Neto)

Enquanto eles ficam na expectativa, o grupo conversa dizendo que quando percebem, tudo já acabou tão rápido e são unânimes em dizer que é na coxia que vem o ‘boom’ e quando a luz se volta para o palco, é a hora deles.

“É um show, é a realização de um sonho”, descrevia Ariel Pereira de Freitas, de 16 anos. A colega de dança Heloísa Cardoso, de 11, reforça: “acho que o balé, a dança, é você se completar em cima do palco, a gente leva qualquer sentimento que a gente tem”, explica.

Se a emoção domina quem se apresenta, imagina quem assiste e vê o filho se tornar bailarino? A administradora Patrícia Muta, de 38 anos, foi bailarina quando criança e hoje se encanta com a filha. Fernanda tem 5, mas faz balé desde os 2 anos.

“Eu era uma borboletinha. Gostei de dançar”, fala. A mãe, coruja claro, diz que chora sim. “Ela adora dançar, adora palco e se expressa, se realiza. A gente adora ver, eu chorei ao ver meu bebê fazendo os passos certinhos”, relata.

E no final do ano, todo mundo vira, aos olhos do público, bailarino e merece aplausos.

E no final do ano, todo mundo vira, aos olhos do público, bailarino e merece aplausos. (Foto: Alcides Neto)
E no final do ano, todo mundo vira, aos olhos do público, bailarino e merece aplausos. (Foto: Alcides Neto)
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