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Artes

Os semáforos viraram picadeiros, com "novos hippies" que rodam o mundo

Helton Verão | 27/03/2013 06:59
A arte do circo está nas ruas.
A arte do circo está nas ruas.

Há alguns anos, as pessoas apenas pediam dinheiro nos semáforos. Agora, a mão quer uma colaboração, um reconhecimento pelo malabarismo, pela arte circense ali, no meio das ruas de Campo Grande.

Como surge a cultura popular, as manifestações pelos cruzamentos das principais vias da cidade também foram tomando conta dos espaços sem qualquer organização. Apareceram de forma espontânea, com uma dupla de palhaços aqui, outros malabaristas ali, a maioria vinda de fora.

Tem gente só fazendo graça, outros sobre monociclos, vários jogando garrafas ao ar, soprando e manipulando fogo. São  hippies modernos, não vendem mais brincos ou pulseiras, oferecem a arte tradicional, do Circo, o homenageado do dia. Quem não sabe, mas tem disposição, faz amizade, fica vendo e logo já está pronto para se apresentar.

Ignácio e Jonathan, amigos que dividem a casa e a rua.
Ignácio e Jonathan, amigos que dividem a casa e a rua.

No cruzamento da avenida Afonso Pena com a rua Alagoas, Jonathan da Silva Arruda, de 24 anos, é um dos poucos sul-mato-grossenses no ofício. Nasceu em Itaporã, terminou o Ensino Médio e resolveu sair no estilo “mochilão” por vários lugares da América do Sul. Na Argentina conheceu a esposa, casou e teve um filho.

Há quatro anos, em Assunção (Paraguai), conheceu uma escola de circo onde aprendeu a fazer as primeiras performances com claves, aqueles pinos que parecem de boliche.

Esteve em São Paulo, onde visitou o pai e se deparou com uma classe de trabalhadores que atua em semáforos. Por isso voltou a Campo Grande, para fazer por aqui o que só viu lá fora, sem concorrência de outros “operários”.

“Em São Paulo, além dos malabaristas e demais artistas, também tem os limpadores de pára-brisas, vendedores, enfim, é muita gente para dividir espaço comigo.”

Chegou há quatro dias, decidido a trabalhar e ir longe. “Meu sonho é abrir um centro cultural aqui em Campo Grande, com oficinas de teatro, atividades circenses. Que promova tudo que for cultura, principalmente nas regiões carentes.”

Peruana e a estranha caveira em exibição.
Peruana e a estranha caveira em exibição.

Atualmente, ele mora no bairro Pioneiros, junto com o argentino Ignácio Maurino, outro artista de rua que fez questão de hospedar a família de Jonathan.

Aos 14 anos, na cidade natal, Santa Rosa (Argentina), ele conheceu várias pessoas que trabalhavam com as artes circenses e começou a ganhar alguns trocados.

Já aos 15 passou a viajar, na base de caronas e ônibus. Chegou ao Brasil há dois anos. Passou pelos estados do Paraná e Rio de Janeiro. Em 2012 retornou a Campo Grande para casar com uma jovem de 18 anos e por aqui ficou, trabalhando ao lado da esposa.

“Em um dia conseguimos cerca de R$ 50 cada um. Mas é puxado, chegamos às 7h30 e saímos às 22 horas.”

Para agradar ao “respeitável público”, eles têm algumas estratégias. “Revezamos nos semáforos para não enjoarmos os motoristas. A maioria faz o mesmo caminho todo dia”.

Quem faz esse tipo de arte também recebe com muita frequência propostas para animar festas. “É um ramo com poucos profissionais”, explica Ignácio que, além de tudo, fabrica o próprio monociclo.

Peru - De longe também veio Ângela Cruz, de 24 anos. Peruana, natural de Lima, desde 2007 viaja pela América do Sul com o marido e o filho. O que tem de diferente são um macaco e uma caveira, para ventríloquia.

Tanto ela, quanto o marido fazem as apresentações. “Falaram para mim que no Brasil valorizavam e havia muito espaço à Cultura. Pretendo ficar mais uns meses aqui em Campo Grande, ir ao Rio de Janeiro e quem sabe no futuro viajar a América Central, para México, Panamá”

Enquanto ela faz as apresentações, o marido cuida da filho. Uma família, como a história comum sob as lonas de circo. Questionada sobre o futuro, Ângela diz que apenas quer “rodar o mundo”.

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