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Artes

Sarah Figueiró nasceu para transformar as artes e escolheu partir entre elas

Uma das grandes incentivadoras da arte em MS se despediu em sua segunda casa: o Museu de Arte Contemporânea (Marco)

Thailla Torres | 06/06/2019 06:10
Sarah partiu nesta quarta-feira e o último adeus foi em um dos lugares que ela mais amava: O Museu de Arte Contemporânea (Marco). (Foto: Kísie Ainoã)
Sarah partiu nesta quarta-feira e o último adeus foi em um dos lugares que ela mais amava: O Museu de Arte Contemporânea (Marco). (Foto: Kísie Ainoã)
Sarah Figueiró (à esquerda) ao lado da grande amiga Lucia Monte Serrat. (Foto: Roberto Higa)
Sarah Figueiró (à esquerda) ao lado da grande amiga Lucia Monte Serrat. (Foto: Roberto Higa)

Foram 85 anos de uma vida, a maioria deles dedicado às artes. Sarah Abussafi Figueiró atuou tanto pela vida quanto pelo crescimento da cultura desde que o Estado era um só. Assim despertou a união entre artistas e ensinou que arte não se faz quando se esquece a simplicidade no olhar.

Uma das fundadoras da Rede Feminina de Combate ao Câncer e do Hospital de Câncer Alfredo Abrão, Sarah partiu nesta quarta-feira (5) vítima de uma embolia pulmonar. Simples, cercada de amigos e parentes. Assim como foram os 85 anos de vida, a artista e professora se despediu ao lado das artes, com muito amor, no Museu de Arte Contemporânea de Mato Grosso do Sul.

O caixão chegou ao museu às 18h. Minutos depois, uma das salas estava lotada de amigos, familiares e artistas. Com uma saudade acumulada nos olhos, as lágrimas nos filhos também não eram de despedida. Eram de um adeus à mãe, companheira, amiga, que só sabia levantar a mão para um filho quando fosse para entregar um livro.

Hmberto Figueiró, filho de Sarah, lembra com amor tudo o que a mãe ensinou aos 6 filhos. (Foto: Kísie Ainoã)
Hmberto Figueiró, filho de Sarah, lembra com amor tudo o que a mãe ensinou aos 6 filhos. (Foto: Kísie Ainoã)

“É inegável que minha mãe era uma mulher amada. Cresci ouvindo-a contar histórias sobre a arte de Mato Grosso do Sul e entregando livros que pudesse nos fazer entender um pouco da cultura. Aliás, era assim que ela ensinava. Por ser professora, ensinou os filhos com literatura, artes plásticas e amor à arte, num estado bovino onde a arte naquela época era renegada ou esquecida”, descreve o filho Humberto Sávio Abussafi Figueiró, de 51 anos, advogado.

Artista plástica, professora e diretora do Marco, Lucia Monte Serrat, se recorda exatamente do primeiro contato que teve com Sarah, há 40 anos. “Ela foi uma pessoa que me acolheu muito. Eu era professora da Universidade Federal, estava começando a entrar no campo da cultura e, nessa época, eu me lembro que ela era uma pessoa que sempre tinha uma coisa boa para falar e ensinar”.

Muito mais que professora, Sarah à época, já batalhava por incentivos a cultura no Estado. Era daquelas “que tinha coragem” para bater na porta das autoridades e exigir incentivos para artistas que estavam começando nesse universo. Não foi à toa que, na última vernissage do museu, há poucas semanas, Lucia fez questão de homenagear a amiga. “Eu me sinto uma privilegiada porque ela foi muito significativa para cultura sul-mato-grossense e tive a oportunidade de agradecê-la por tudo nessa vida. Sei também era um desejo dela se despedir aqui”.

Pedro Guilherme diz que se inspira diariamente em Sarah. (Foto: Kísie Ainoã)
Pedro Guilherme diz que se inspira diariamente em Sarah. (Foto: Kísie Ainoã)
Clara Rahe, se emociona ao falar a amiga. (Foto: Kísie Ainoã)
Clara Rahe, se emociona ao falar a amiga. (Foto: Kísie Ainoã)

A agilidade na alma e no coração de Sarah já não acompanhava mais o corpo que tinha limitações por causa da idade, mesmo assim, ela não desistia de estar presente e planejou nos últimos dias de vida começar um novo projeto, lembra o artista plástico Jonir Figueiredo.

“Há 20 dias organizei uma reunião com artistas e ela fez questão de comparecer. Lá ela deu opinião, sugestões e estava querendo fazer novos projetos”, conta. “Nós artistas mais antigos não falamos mais a idade, mas a gente não para com a arte justamente para continuar ativo e com vida. Sarah também era assim, não dava conta de parar um minuto, estava sempre se reinventando na vida”.

Sarah movimentou o campo artes e a vida artista plástica Clara Rahe, que não escondeu a saudade que vai sentir da amiga. “Ela vai me fazer muita falta pela sua alegria, energia e disposição para estar sempre atuando com alguma inovação. Nos conhecemos há muitos anos e ela sempre teve o mesmo sorriso. Vai fazer muita falta”.

Uma das noras, Carol, ainda guarda com carinho os áudios que a sogra mandava sempre com voz doce e serena. (Foto: Arquivo Pessoal)
Uma das noras, Carol, ainda guarda com carinho os áudios que a sogra mandava sempre com voz doce e serena. (Foto: Arquivo Pessoal)

Nora de Sarah, a terapeuta e parteira tradicional Carol Figueiró escutava pelo celular os últimos áudios mandados pela sogra, há duas semanas. “Parecia uma despedida, ela falou coisas belíssimas, sempre com uma voz serena e calma. Tia Sarah foi uma mulher à frente do seu tempo e tenho muita gratidão por tudo que ela ensinou”.

No coração do artista visual Pedro Guilherme, de 51 anos, o trabalho de Sarah extrapola a cultura. “Quando comecei nas artes, Sarah já era uma ativista cultural e acabamos ficando amigos. Hoje, ela se tornou o exemplo de pessoa que não envelheceu, guardou uma criança dentro de si, mesmo entre tantas dificuldades para se lutar pela cultura e isso é um exemplo de vida para todos nós”, descreve o amigo.

Sarah foi presidente da Associação Artístico e Cultural de Mato Grosso do Sul, da Associação dos Pintores de Porcelana e da Associação Sul-Mato-Grossense dos Profissionais de Dança, onde colaborou com a regulação da categoria e organizou vários festivais.

Ela deixou 6 filhos e 16 netos. O sepultamento será hoje (6), às 9h, no Cemitério Santo Antônio.

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Assim despertou a união entre artistas e ensinou que arte não se faz quando se esquece a simplicidade no olhar.
Assim despertou a união entre artistas e ensinou que arte não se faz quando se esquece a simplicidade no olhar.
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