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Comportamento

“Ai Se Eu Te Pego” embala as aulas de português em Universidade na Alemanha

De Freiburg, Paulo Nonato de Souza | 18/02/2013 07:00
O professor brasileiro Gerson Pomari e 13 dos seus 37 alunos de português em foto especial para o Campo Grande News.
O professor brasileiro Gerson Pomari e 13 dos seus 37 alunos de português em foto especial para o Campo Grande News.

Ensino de português brasileiro e ao som de “Ai Se Eu Te Pego” , o grande hit ainda em 2013 na Universidade Albert-Ludwigs - http://www.uni-freiburg.de, uma das mais importantes da Europa, fundada em 21 de setembro de 1457, em Freiburg, no Sudoeste da Alemanha. Com tanta tradição e reconhecimento internacional, a instituição se orgulha de ter 17 personalidades, entre seus ex-alunos e ex-professores, na lista de contemplados com o Prêmio Nobel nas áreas de ciências exatas e bio-médicas.

Mesmo com todo esse cartaz na comunidade acadêmica mundial, a Universidade abriu espaço para a música de Michel Teló, intérprete de um estrondoso sucesso considerado por muitos como lixo sonoro. E como se isso não bastasse, a proposta sugere que não vale apenas apreciar o ritmo da melodia. Quando “Ai Se Eu Te Pego” começa a tocar, a sala de aula dá lugar a um típico baile sertanejo-universitário dos finais de semana em Mato Grosso do Sul e os alunos são convidados a participar da dancinha que virou febre e se espalhou pelo mundo em 2012.

A novidade para os alunos veio no rastro da mudança de uma programação que já durava 131 anos, graças ao interesse do novo coordenador do Departamento de Filosofia Românica - http://bit.ly/14RaeUO -, Professor-Doutor Hermann Herlinghaus - http://bit.ly/14RayTr -, pela cultura brasileira. O setor especializado no estudo das línguas derivadas do latim e suas respectivas literaturas foi criado pela Universidade em 1882, e o português, desde então, já fazia parte da sua programação. A diferença é que ao longo desse período o trabalho focado na cultura lusófona foi comandado por professores de Portugal.

Transferido há dois anos da Universidade de Pittsburgh para a Universidade de Freiburg, o professor Hermann decidiu que o estudo da língua portuguesa deveria ser direcionado para o Brasil, levando em conta a riqueza cultural e a projeção que o País alcançou no contexto internacional nos últimos anos. Assim, desde janeiro deste ano a coordenação dessa area tem à frente um professor brasileiro, o paulista Gerson Pomari, cientista com Mestrado em Teoria Literária e Literatura Comparada e Doutorado em Língua e Literatura Alemã. Ele assumiu a cadeira de Leitor de Língua Portuguesa e teve aprovada a idéia de usar em sala de aula o balanço da música de Michel Teló, na versão original, obviamente.

“Como essa música está fazendo sucesso por aqui há mais de um ano, é difícil ficar uma semana sem ouvi-la tocar no rádio, por exemplo, achei que seria uma boa estratégia para mostrar algo de nossa cultura que fosse próximo da realidade em que eles vivem. Embora não me agrade o conteúdo da música, por reforçar alguns estereótipos sobre o Brasil aqui na Europa, como uma terra extremamente sexualizada, seu ritmo e sua sonoridade são tipicamente brasileiros”, disse Gerson Pomari ao Lado B.

Paisagem gelada da cidade de Freiburg coberta de neve agora em 2013
Paisagem gelada da cidade de Freiburg coberta de neve agora em 2013

As aulas de português acontecem toda segunda-feira e atualmente a sala é composta de 37 alunos, o que mostra grande interesse pelo nosso idioma. “Há uma grande diferença entre a fonética da língua alemã e a da língua portuguesa, isto é, há muitos sons que os falantes de português articulam em sua fala que não existem na língua alemã e vice-versa”, explicou o professor.

Segundo ele, a descontração de “Ai Se Eu Te Pego” tem a função de “quebrar o gelo” e deixar os alunos mais abertos e mais à vontade. “O jeito de ser do alemão é muito diferente do brasileiro. Eles são muito contidos inicialmente. Depois, vão se soltando na medida em que vão te conhecendo melhor”, ressaltou.

Para a estudante de História, Rebecca Steinmann, que foi intercâmbista, em Campo Grande, entre 2009 e 2010, o único inconveniente é que as aulas só começam às 18h10. “Nesse horário já estamos cansados e por isso não conseguimos ficar atentos o tempo todo. A gente aprende muito devagar”, disse ela.

Como já fala e entende português, a alemã Rebecca admite que, as vezes, a aula é chata. “Mas eu gosto muito da maneira de ensinar do nosso professor. Ele fala só em português e repete em alemão quando a gente não entende nada. O professor tenta ser engraçado e faz muito para a gente se divertir. Além disso, eu acho legal ouvir, falar e escrever em português, uma língua muito linda”, ressaltou.

Nascida em Oldemburg, Rebecca conta que sente saudade de Campo Grande e do Brasil, mas revela que está gostando de morar em Freiburg, uma típica cidade medieval alemã, situada na fronteira da Alemanha com a França e a Suíça, que foi destruída por bombardeios na Segunda Guerra Mundial, e hoje tem cerca de 250 mil habitantantes.

Foto da catedral logo após o bombardeio que devastou a cidade de Freiburg na Segunda Guerra Mundial
Foto da catedral logo após o bombardeio que devastou a cidade de Freiburg na Segunda Guerra Mundial

Como chegar- Se você desembarcar na Alemanha por Munique, como eu, a distância por rodovia até Freiburg é de 348 Km e a viagem pode durar em torno de 4 horas. Outra alternativa pode ser o sistema de trem pela Deutsche Bahn (Companhia Ferroviária Alemã: www.bahn.de) ou fazer a viagem de avião, mas, neste caso, o desembarque é no EuroAirport Basel-Mulhouse-Freiburg, único aeroporto da região, localizado em Saint-Louis, na França, e serve as cidades da Basileia na Suíça, Mulhouse na França e Freiburg na Alemanha. A distância desde Basel até o centro de Freiburg é de 71 km.

Fundada em 1120, a cidade de Freiburg tem a catedral entre suas principais atrações turísticas. Inaugurada em 1513 depois de 300 anos em construção, a igreja é uma obra arquitetônica da Idade Média com uma torre de 116 metros de altura, que resistiu intacta aos intensos bombardeios na Segunda Guerra Mundial. A prova disso está no interior da igreja para quem quiser ver. É uma foto aérea tirada no dia do histórico bombadeio de 1944, em que a catedral aparece em pé e imponente em meio a completa destruição da cidade.

Formada por pinheiros, a Floresta Negra permanece verde mesmo no inverno rigoroso.
Formada por pinheiros, a Floresta Negra permanece verde mesmo no inverno rigoroso.

Outra atração importante é a famosa Floresta Negra, formada por pinheiros escuros, lagos, vales e montanhas, em uma extensão de 200 Km, uma versão deles para o nosso Pantanal, só que muito bem cuidada e estruturada para o turismo. A floresta vai da Suíça à França, tendo a cidade de Freiburg como porta natural de entrada.

“O nome Floresta Negra vem do fato de que os pinheiros são altos e bloqueiam os raios do sol. Suas árvores estão sempre verdes. Mesmo no inverno os pinheiros não ficam queimados pela neve. Por isso a tradição do pinheiro como árvore de Natal”. Essa explicação é da botânica brasileira Vivian Jeske Pieruschka, uma ex-moradora de Freiburg, que eu a conheci por acaso no Aeroporto Franz Josef Strauss, em Munique. Atualmente ela vive e trabalha na Universidade de Göttingen, cidade situada entre Bonn e Berlim, e estava viajando de férias para o Brasil, acompanhada do marido alemão.

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