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Comportamento

“Condenação” de Isabel dura 25 anos, mas ela não quer sair do presídio tão cedo

Sua história com a fé foi o pontapé para abrir mão de tudo e dar assistência as mulheres e homens do sistema penitenciário.

Thailla Torres | 05/02/2019 09:07
Há 25 anos, Isabel se dedica a capelania prisional e quer que o trabalho voluntário dure muito tempo. (Foto: Marina Pacheco)
Há 25 anos, Isabel se dedica a capelania prisional e quer que o trabalho voluntário dure muito tempo. (Foto: Marina Pacheco)

Aos 74 anos, Isabel Cândida do Nascimento Vieira não desiste do ser humano e, por isso, toda semana ela vai ao presídio. De sorriso e um semblante sereno, ela diz ter de amor o mesmo que de paciência. E, nos últimos 25 anos de trabalho, ela esteve dentro do sistema penitenciário de Campo Grande como voluntária na capelania, levando fé e desejo de mudança aos prisioneiros.

“O que me levou a fazer isso? Foi a vontade de ver essas meninas e meninos resgatados. Quando comecei, em 1994, esta casa abrigava cerca de 100 pessoas, hoje, estamos com cerca de 300 meninas, isso mostra que a gente precisa de mudanças”, diz Isabel durante um trabalho voluntário realizado no Estabelecimento Penal Feminino Irmã Irma Zorzi.

Toda semana ela se dedica a capelania prisional, com intuito de levar fé e desejo de mudança aos presos. (Foto: Marina Pacheco)
Toda semana ela se dedica a capelania prisional, com intuito de levar fé e desejo de mudança aos presos. (Foto: Marina Pacheco)

De perto a gente acompanhou o carinho com que ela para, fala e reza com quem lhe acompanha. De voz mansa, a mulher evangélica fala de Deus e da graça de ser uma mulher livre lá fora. As internas ouvem, o “sim” feito com a cabeça é um indício que a liberdade de ir e vir faz falta e, nesse caminho, Isabel já presenciou muitas mulheres reconstruídas. “Várias já me encontraram na rua renovadas. Isso sempre me deixou muito feliz. E fez aumentar minha vontade de mudar a vida das pessoas”.

Baiana de nascença, foram anos de trabalho como costureira em São Paulo e um casamento para então Isabel chegar em Campo Grande. Aqui, ela e o marido se dedicaram a igreja, usando da fé para ajudar as pessoas. “Sempre fui acompanhada por missões. Fazia parte de um grupo de mulheres onde criamos um projeto de assistência, entre eles, a capelania”, conta.

Homenagem da Agepen por serviços  prestados ao sistema penitenciário em 2018. (Foto: Agepen/Arquivo Pessoal)
Homenagem da Agepen por serviços prestados ao sistema penitenciário em 2018. (Foto: Agepen/Arquivo Pessoal)

A princípio, apesar dos planos de ajudar o próximo, se a gente conversasse com Isabel na década de 90 saberia que ela não desejava entrar em um presídio. “Relutei muito, tinha medo, e muita gente naquela época achava que era perigoso estar perto de pessoas que haviam cometido crimes”.

Mas a fé fez ela mudar de ideia e encarar o sistema prisional toda semana. “Quando eu vi aqueles rostinhos alegres, pela primeira vez, por ter uma pessoa falando e escutando eles, senti que ouvir as pessoas é algo incomparável. Hoje amo o que faço e faço porquê amo”.

Com bom humor ela brinca ao falar da vida dentro do presídio. “Eu tenho muito tempo de cadeia”, ri. “Na linguagem do interno, a minha ‘condena’ vai durar muito tempo ainda e é tudo que eu desejo”.

O trabalho sempre foi realizado com o apoio do esposo, Moacyr Rodrigues Vieira, que partiu em 2018. (Foto: Arquivo Pessoal)
O trabalho sempre foi realizado com o apoio do esposo, Moacyr Rodrigues Vieira, que partiu em 2018. (Foto: Arquivo Pessoal)

A família não só apoia, como tem orgulho. O marido, Moacyr Rodrigues Vieira foi quem sempre deu apoio a Isabel, até 2018, quando partiu. “Ele me acompanhava, apoiava e desejava que eu continuasse o meu trabalho. Só fiquei triste por ele não estar ao meu lado na primeira homenagem que recebi da Agepen (Agência Estadual de Administração do Sistema Penitenciário), no ano passado. Ele teria ficado orgulhoso de mim”.

Se pudesse voltar no tempo, Isabel diz que não teria escutado tanto os outros. Hoje, toda vez que é chamada de louca por passar o tempo no presídio, ela rebate. “Se é loucura ajudar esse povo, prefiro continuar louca. Eu sei dos resultados que são alcançados. Todo mundo muda? É claro que não. Mas todo mundo tem o direito de mudar e, se eu falar dessa mudança, quem sabe eu consiga impedir que essas pessoas voltem a prisão”.

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