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Comportamento

"Vai pra Cuba": estudante de MS faz campanha para conhecer o controverso país

Bia foi selecionada para o Encontro de Pensamento e Criação Jovem nas Américas e criou uma vaquinha on-line

Eduardo Fregatto | 25/07/2017 06:15
Bia morava em Campo Grande, mas realizou sonho de passar no vestibular na Universidade Federal da Integração Latino-Americana, em Foz do Iguaçu. (Fotos: Acervo Pessoal)
Bia morava em Campo Grande, mas realizou sonho de passar no vestibular na Universidade Federal da Integração Latino-Americana, em Foz do Iguaçu. (Fotos: Acervo Pessoal)

Apesar de um país rico em cultura e história, com qualidades e defeitos como qualquer outro local, Cuba se tornou símbolo de polêmica e discussões acaloradas no Brasil, quando o assunto são posições políticas de direita e esquerda. "Vai pra Cuba" virou expressão para demonstrar repúdio às opiniões consideradas "comunistas" e, para muitos, ir até ao país da América Central seria sinônimo de muito sofrimento e negatividade.

Porém, nem todo mundo pensa desse jeito. A estudante de História da América Latina Bia Varanis, de 19 anos, ficou tão feliz ao receber um convite para ir à Cuba, que está promovendo uma vaquinha on-line a fim de arrecadar recursos e viajar nos dias 19 a 22 de setembro, já que a universidade não vai custear as despesas e sua família não tem condições de ajudar. Ela foi uma das estudantes selecionadas para participar do Casa Tomada 2017 - IV Encontro de Pensamento e Criação Jovem nas Américas, um evento que acontece na Casa das Américas, em Havana.

A família de Bia ficou apreensiva com o convite. "Minha vó acabou me ligou implorando pra eu não ir. Ela viu um rumor no Facebook. Diz que todo mundo que vai para Cuba tem que fazer treinamento de guerrilha e não pode mais voltar", conta a acadêmica.

A revista Peabiru, sobre cultura latino-americana, desenvolvida na Unila.
A revista Peabiru, sobre cultura latino-americana, desenvolvida na Unila.

"Minha família ficou surpresa e depois veio toda essa preocupação. O medo vem do clima político, além desse fascismo que anda florescendo, uma onda de ódio muito grande", avalia Bia. "Eu tento explicar o quanto Cuba é rica em cultura, toda a sua estrutura social, suas particularidades. Acho que só conversando bastante mesmo", define.

Apesar dos rumores absurdos que circulam nas redes, Bia pretende viajar. Ela vai para apresentar seu trabalho com a Revista Peabiru, uma publicação sobre cultura latino-americana. É um trabalho colaborativo, feito na Universidade Federal da Integração Latino-Americana (Unila), em Foz do Iguaçu-PR, onde a sul-mato-grossense estuda desde o início do ano. "O que eu mais gosto é a integração que a revista causa. Pessoas de diferentes nacionalidades escrevem. E todos esses textos mostram o que é a cultura latino-americana, indo além dos esteriótipos", explica.

Se tudo der certo, ela vai viajar com a coordenadora do projeto, Michele Dacas, e o estudante de Letras, Artes y Mediações, Moa Ferreira, que foi quem submeteu o projeto ao evento, e vai até o Encontro para apresentar seu Trabalho de Conclusão de Curso.

Além disso, a estudante tem uma página no Facebook, chamada Minas da História, com mais de 440 mil seguidores, em que destaca a história e conquistas de mulheres que foram apagadas por historiadores ao longo dos anos. No Encontro, ela vai poder apresentar esse trabalho que desenvolve aqui no Brasil, além de pesquisar sobre as mulheres importantes e reconhecidas em Cuba.

Bia desenvolve trabalho de jogar luz às conquistas de mulheres. Na foto, ela está com Genara Victoria Avalo, a última descendente das mulheres que reconstruíram o Paraguai depois da guerra.
Bia desenvolve trabalho de jogar luz às conquistas de mulheres. Na foto, ela está com Genara Victoria Avalo, a última descendente das mulheres que reconstruíram o Paraguai depois da guerra.

"Conheço poucas mulheres de Cuba. Nós aprendemos pouco sobre o País e, como sempre, as mulheres são constantemente apagadas. Mas sei da Haydeé Santamaría, que fundou, em 1956, a Casa das Américas, um dos espaços culturais mais importantes de Cuba. Ela foi guerrilheira e política, trabalhou no Ministerio da Educação. Tem também a Vilma Espín, que foi Engenheira Química e que atuou no processo de Revolução Cubana", cita.

Sobre sua opinião sobre o polêmico país, Bia diz que está ansiosa para poder chegar lá e conferir a realidade com os próprios olhos. "Tudo o que eu sabia de Cuba era o que passava na TV, que é uma ditadura opressora com pessoas na miséria. Depois que entrei na universidade, vejo que eles vivem em outra fase. A educação é ótima, as pessoas vivem sem medo de violência nas ruas. Estou ansiosa para conversar com as pessoas cubanas, andar pelas ruas", avalia.

Mais que tudo, a estudante se sente realizada pelo seu trabalho ter sido notado de tão longe. "Foi um choque ter essa oportunidade, receber uma carta com meu nome. Eu sou de Sonora, cidade pequena do interior, sempre me senti deslocada, por ser uma menina gorda, sempre fui desacreditada. Nunca imaginei estudar na universidade que sempre sonhei e receber um convite desses. Se essa viagem acontecer, vai ser a concretização de um sonho. Vai ser uma lição pra mim, de não desistir", finaliza.

Para custear as passagens aéreas, despesas de hospedagem e alimentação, Bia precisa de R$ 4.000,00. Ela já arrecadou R$ 445,00, pelo site Vakinha. Para tentar recompensar quem contribuir, ela vai enviar zines e uma revista que pretende produzir fazer sobre as mulheres de Cuba. Quem quiser ver a campanha e ajudar, pode acessa-lá clicando aqui.

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