Amigas transformaram dor em conforto para pacientes com câncer
Grupo leva palavras de apoio, força e esperança para quem está nas salas oncológicas da Capital
Um cabide vazio em uma ala de oncologia foi um dos motivos que fizeram a psicopedagoga Annelise Peralta Herradon, de 55 anos, criar um grupo de apoio voltado a pacientes com câncer e distribuir conforto através de lenços, turbantes e bonés. O ato pode parecer pequeno, mas para ela e para as amigas que fazem parte da iniciativa, isso faz toda a diferença.
RESUMO
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Um grupo de amigas em Campo Grande criou o projeto "Laços de Luz" para levar conforto a pacientes com câncer. A iniciativa, liderada pela psicopedagoga Annelise Peralta Herradon, nasceu após ela perder a irmã gêmea para leucemia em 2018. O projeto distribui lenços, turbantes e bonés em alas oncológicas. A ação, que começou após Annelise notar um cabide vazio em uma sala de quimioterapia, já dura seis anos. O grupo realiza visitas regulares aos hospitais, oferecendo não apenas itens de conforto, mas também apoio emocional aos pacientes. As voluntárias mantêm pontos de coleta de doações em hospitais e na Igreja Nossa Senhora do Perpétuo Socorro.
Há seis anos Anne perdeu a irmã gêmea para uma leucemia mieloide aguda grau 4. A doença que ataca os glóbulos brancos e costuma ser agressiva. O falecimento veio 26 dias após o diagnóstico. Ela tentou salvar a irmã com uma campanha de doação de sangue que mobilizou inúmeras pessoas em 2018. Foi tentando entender o luto que o projeto Lenços de Luz nasceu.
“Tudo começou porque vi um cabide dentro de uma sala de quimioterapia e aquilo me intrigou. Não sabia a finalidade até que perguntei para uma enfermeira que disse que ali era o canto das doações. Aquilo bateu forte dentro de mim e fui para casa pensando que precisava fazer algo. Liguei para minhas amigas, que também eram da minha irmã, e falei que estava pensando em fazer um projeto como forma de agradecimento.”
As amigas embarcaram na ideia e hoje dedicam parte dos dias à causa. Nesta quinta-feira (7), elas levaram bonés e estojos para os pacientes que estavam nos hospitais de Campo Grande. O objetivo era, além de presentear com os itens, levar palavras de conforto, escuta e amparo para eles. A ação foi simples, como lembrança antecipada do Dia dos Pais.
“Lenços para pessoas que fazem quimio e usam muito e luz que é a minha irmã. Por isso o nome do projeto. Eu sou metade da minha irmã. No meio do caminho perdi mais um irmão e vi que tinha que seguir, levar essa alegria e força, coragem e um pouco de fé para quem faz o tratamento. Esse é o momento mais sensível da vida delas. Umas estão iniciando e outras terminando. Para quem está começando é muito difícil, não sabem o que vem pela frente.”

Um dos pacientes que recebeu as palavras de Anne e das amigas foi o motorista Armindo dos Santos Caitano, de 57 anos. Há mais de um ano ele trata um câncer de palato. Para ele, a presença delas foi um alívio.
“O câncer começou como uma afta no céu da boca, tratei como uma afta, mas não sumiu, porque em uma semana tem que sarar, então fui ao médico. Sou motorista há mais de 35 anos. Agora tenho dificuldade para falar porque a rádio machuca a língua. Essas ações ajudam muito, na verdade, tudo ajuda. Até um bom dia que te dão ajuda, acredite.”
Anne chama atenção para que os homens não esqueçam de fazer os exames periódicos e comenta que muitas vezes são eles que enchem as salas de quimioterapia.
“A gente dá esse apoio e consegue levantar um pouco a autoestima deles. O nosso trabalho não para só no Outubro Rosa, a gente trabalha o ano inteiro e muita gente procura. Recebemos muitas doações e gente que gostaria de participar. Essa ação de Dia dos Pais é para mostrar que não atendemos só mulheres. Inclusive, os homens precisam estar atentos aos exames. Queremos dar um momento de conforto em meio à dor, levar amor. A gente leva boinas e bonés para eles.”

Além de Annelise, as fiéis escudeiras e ‘amigas de alma’, como ela chama, Cristina Simões, Maria Carmem Bernades, Michele Abdo e Luciene Terra também estiveram na ação e fazem parte do projeto.
“Poder dividir um pouco da minha experiência e acreditar em algo maior tem sido transformador. É gratificante participar de um projeto onde as pessoas nos recebem com amor e fé”, comenta Luciene.
Cristina conta que também enfrentou o câncer e que o projeto entrou na vida para transformar. “Hoje me sinto muito honrada por poder contar a minha história e mostrar que tudo na vida é uma fase. Precisamos ser fortes e corajosas.”
Michele Abdo acrescenta que percebeu que as ações têm o poder de fortalecer e encorajar quem está passando por uma fase delicada da vida. “Cada sorriso compartilhado, cada história ouvida e cada gesto de carinho durante as visitas reforçam a importância de tentar levar luz e esperança a quem enfrenta a batalha contra o câncer. Neste movimento, aprendi que pequenos gestos podem transformar dias difíceis em momentos de conforto e força.”

Anne explica que o grupo deixa uma caixa para doações em alguns hospitais e na Igreja Nossa Senhora do Perpétuo Socorro. A iniciativa também contempla crianças com encosto de cabeça, bonés de personagens de desenhos animados, lenços e turbantes.
“Meu sonho futuro é fazer uma casa de trânsito, onde as pessoas possam ficar enquanto esperam para fazer o tratamento. Elas chegam de fora para fazer quimio aqui. Quero que elas tenham um lugar para descansar. Passa na minha casa, come um lanchinho, assiste TV e o motorista passa lá e pega. Agora estamos plantando. Há 6 anos estamos plantando a nossa semente de amor e fé.”
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